Finanças
Os melhores BDRs para investir em 2023, segundo analistas
Embora o mercado em 2022 tenha passado por disrupções, especialistas veem bons retornos no longo prazo, principalmente em energia e infraestrutura
Cada vez mais procurados por investidores brasileiros, os Brazilian Depositary Receipts (BDRs, na sigla em inglês) são opções para diversificar o capital no exterior, com a inclusão de empresas com atuação global e sem necessidade de abrir conta ou pagar imposto lá fora. Embora o mercado em 2022 tenha passado por fortes disrupções, especialistas ouvidos pelo InvestNews avaliam uma tendência de bons retornos no longo prazo, principalmente nos setores de energia e infraestrutura. Eles listaram os melhores BDRs para investir em 2023.
Os BDRs são certificados que representam ações de empresas negociadas em outros países. O investidor usa a estrutura e o ambiente da bolsa de valores brasileira, a B3, para investir em companhias de outras bolsas, principalmente listadas nos Estados Unidos.
Quem compra um BDR, explica a B3, “não compra diretamente uma ação de uma empresa no exterior, mas investe em recibos que são como pedacinhos dessas ações e seguem a valorização ou depreciação desses papéis”.
“O ano de 2022 foi marcado por fortes disrupções nas cadeias de suprimento globais e por apertos monetários síncronos nas economias desenvolvidas. Os mercados globais repercutiram negativamente a persistência das pressões inflacionárias e o viés altista nas projeções de taxas de juros”.
Guilherme Bellizzi Motta, analista de BDRs da Santander Corretora.
Motta acrescenta que esse movimento levou os investidores a buscarem proteções em ativos pagadores de dividendos – incluindo nos setores de consumo básico e utilities. “Na ponta negativa, empresas de tecnologia e com o maior duration [tempo médio em que o investidor recebe o pagamento de seu investimento] foram afetadas pelo aumento nas taxas de desconto.”
Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad, alerta que os BDRs tiveram uma perda significativa do estoque financeiro investido, de R$ 26,6 bilhões em dezembro de 2021 para R$ 13,7 bilhões em outubro de 2022 – queda de 48,4% no estoque.
O número de investidores no produto, porém, está em ascensão mesmo em ano difícil – saltando de 306 mil no terceiro trimestre de 2021 para 1,4 milhão no mesmo período deste ano. “O balanço é que o produto passou por ano difícil, mas está em tendência de desenvolvimento e de consolidação”, diz Pereira.
Vale a pena investir em BDRs em 2023?
Os dois analistas ouvidos pelo InvestNews afirmam que vale a pena investir em BDRs em 2023. “A alocação em ativos globais deveria ser estrutural na carteira dos investidores, na medida em que a exposição cambial e diversificação geográfica mitigam o risco-país”, diz Guilherme Bellizzi Motta, da Santander Corretora. O analista acrescenta que está otimista com a trajetória de lucros de longo prazo das empresas recomendadas, bem como com a resiliência da economia americana.
Já Celso Pereira, da Nomad, afirma que há muitas empresas de energia e infraestrutura interessantes atualmente, além de empresas de tecnologia que, possivelmente, terão recuperação na segunda metade de 2023. “Todavia, investir em BDRs não é geralmente a maneira mais econômica de acessar empresas do exterior.”
Com a popularização de empresas que permitem ao brasileiro aplicar no exterior, a Nomad defende que faz mais sentido investir diretamente no exterior, sem burocracia e custos, em vez de investir por meio de BDRs. “A estrutura dos BDRs adiciona custos burocráticos, tarifas cobradas pelos emissores dos ativos, e regime tributário menos favorável do que investir diretamente no exterior, já que os BDRs não contam com isenção sobre ganhos de capital”, diz o analista.
Quais os BDRs mais procurados por pessoas físicas?
Guilherme Bellizzi Motta, analista de BDRs da Santander Corretora, afirma que, em geral, BDRs de empresas com vínculos com o Brasil são os mais procurados por pessoas físicas, como Mercado Livre (MELI34), XP (XPBR31) e Nubank (NUBR33).
Celso Pereira, diretor de Investimentos da Nomad, avalia que os BDRs com maior volume de negociação nos últimos 12 meses “têm predomínio de empresas relacionadas à tecnologia, detentoras de marcas e serviços mundialmente conhecidos”.
Conforme o boletim mensal de novembro de BDRs da B3, os 10 BDRs mais buscados são:
Pereira explica que essa lista é uma boa evidência para entender os ativos mais procurados pelo mercado, incluindo as pessoas físicas. “Essas empresas não tiveram um bom desempenho nos últimos 12 meses, o que pode ter gerado perdas para a maioria dos investidores.”
Quais os melhores BDRs de 2022?
Celso Pereira, da Nomad, explica que das dez empresas com melhor desempenho nos últimos 12 meses, oito delas são do setor de óleo, gás e derivados. As outras duas são de telecomunicações e produtos de saúde.
“Percebemos um contraste total entre os BDRs mais negociados (setores de tecnologia e comércio eletrônico) e os melhores BDRs com melhor desempenho (óleo e gás, infraestrutura e indústria). Esse fato explica-se pela chamada ‘rotação setorial’ que vivemos em 2022, segundo a qual os setores tradicionais da economia (óleo e gás, infraestrutura e indústria) ganham relevância em detrimento dos setores da economia nova (tecnologia, comércio eletrônico etc.).”
Para Guilherme Bellizzi Motta, da Santander Corretora, 2022 foi marcado por forte dispersão setorial de retornos no índice S&P 500. “Na ponta positiva, ativos ligados à indústria de petróleo e gás foram beneficiados pelo aumento dos preços do petróleo Brent, sobretudo devido à eclosão da guerra no Leste Europeu, e maiores volumes de vendas. As principais empresas americanas de energia, Exxon Mobil (EXXO34, +70% YTD, sigla que significa Year to Date/acumulado do ano) e Chevron (CHVX34, +47% YTD), capturaram o movimento.”
Quais são os melhores BDRs para investir em 2023?
Guilherme Bellizzi Motta, da Santander Corretora, indica os seguintes BDRs:
- Microsoft (MSFT34)
- Alphabet (GOGL34)
- Visa (VISA34)
- MasterCard (MSCD34)
- Amazon (AMZO34)
- Apple (AAPL34)
- Chevron (CHVX34)
- Berkshire Hathaway (BERK34)
- Johnson & Johnson (JNJB34)
- JP Morgan (JPMC34)
Já Celso Pereira, diretor de Investimentos da Nomad, afirma que há grandes incertezas quanto ao cenário macroeconômico de 2023, o que dificulta apontar os melhores BDRs para se investir no próximo ano.
“De qualquer modo, há indícios de que haverá uma recessão global nos dois primeiros trimestres de 2023, e a continuidade da crise de fornecimento de produtos primários, principalmente o petróleo. Nesse cenário, é provável que empresas dos setores tradicionais (óleo e gás, infraestrutura e indústria) tenham resultados melhores que as empresas dos setores de tecnologia no primeiro semestre de 2023.”
Para o diretor da Nomad, há uma tendência de que o primeiro semestre de 2023 tenha um cenário similar ao de 2022. “Já o segundo semestre de 2023 pode trazer boas surpresas para empresas de tecnologia e setores mais modernos, dependendo de os bancos centrais mundiais frearem a subida dos juros, respondendo à recessão econômica.”
Qualquer investidor pode adquirir BDRs?
A B3 explica que os BDRs são para todo tipo de pessoa física “com interesse no mercado de renda variável e conta aberta em uma corretora de valores, banco ou instituição financeira autorizada a negociar na bolsa do Brasil”. Contudo, esse perfil de investidor foi liberado apenas no final de 2020, quando a bolsa mudou as regras para incluir investidores comuns, e não apenas com mais de R$ 1 milhão investido.
Quais as vantagens e desvantagens de investir em BDRs?
- Baixa burocracia: investimento é realizado em reais, sem a necessidade de abrir uma conta em uma corretora no exterior, e pode aplicar, gradualmente, com valores inferiores a R$ 5.
- Impostos: Não precisa declarar impostos sobre investimentos no exterior. Evita pagar taxas na compra e venda de moedas estrangeiras, como o IOF de 1,1% e o spread (ganho do prestador de serviço de câmbio), que gira em torno de 2%. Na hora de declarar Imposto de Renda, o investidor pagará imposto apenas na venda (15% sobre os lucros), recolhido via Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF).
- Diversificação: Deixar a carteira mais diversificada e arrojada ao investir em empresas de ponta, como Google, Apple ou Facebook. Esse investimento também pode compensar possíveis perdas no mercado interno em períodos turbulentos da economia brasileira e, simultaneamente, se aproveitar da disparada da taxa de câmbio, quando há fuga de investidores internacionais.
Uma das desvantagens é o alto risco desse investimento, porque o investidor estará sujeito ao sobe e desce no preço dos papéis, conforme as oscilações típicas do mercado, da mesma maneira como ocorre com as próprias ações. A variação cambial também influencia os rendimentos dos BDRs.
Além das ações de empresas internacionais e de poder comprar ativos de renda fixa, os BRDs podem ser lastreados em ETFs (exchange traded funds) – fundos de índices e títulos de dívida pública estrangeira, como Treasuries norte-americanos.
Para investir em BDRs, o interessado deve ter conta em uma instituição mediadora para realizar o processo de compra de ações. Os principais custos do investidor são: a taxa de corretagem, a taxa de custódia, emolumentos e a taxa de liquidação.
A taxa de corretagem é a quantia cobrada por instituições financeiras para negociar a compra/venda de um determinado ativo na bolsa. Já a taxa de custódia é de 0,2% ao ano sobre o total investido, cobrada pela Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) no primeiro dia útil do ano e no primeiro dia útil de julho. Ligada à B3, a companhia é responsável por custodiar, liquidar e garantir a operação das transações.
Por fim, emolumentos são valores cobrados diretamente pela B3 e entram no valor final da nota de corretagem. Já a taxa de liquidação varia conforme o volume financeiro negociado em cada transação. É importante que o investidor saiba que os BDRs não tem garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Contudo, a B3 ressalva que o investidor pode acionar o Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos (MRP), caso adquira BDR e tenha perda provocada por falha da empresa que faz a intermediação, como corretoras e distribuidoras, nos negócios ou serviços de custódia.
Expectativa de retorno com dividendos/dividend yield?
Por razões tributárias, geralmente empresas com sede fiscal nos Estados Unidos tendem a preferir remunerar os acionistas através de programas de recompra de ações.
“De forma geral, as empresas recomendadas estão inseridas em setores subpenetrados, com tendências seculares de crescimento, e a geração de caixa é melhor empregada no reinvestimento nas próprias operações (vis-à-vis distribuição de lucros)”, diz Guilherme Bellizzi Motta, analista da Santander Corretora.
“Atualmente enxergamos retornos implícitos na ordem de aproximadamente 15% ao ano, em dólar, para as ações – patamar atrativo para empresas de alta qualidade e que possuem modelos de negócio previsíveis, com alta rentabilidade sobre o capital investido e poder de preço”.
Celso Pereira, da Nomad, explica que a taxa de câmbio pode impactar quantos reais um brasileiro obterá a partir de um investimento em reais no presente e, por ser um ativo de renda variável, não é apropriado projetar retorno do preço e dividendo para um período tão curto, como para 2023. “Dito isso, há boa probabilidade de que os melhores retornos totais (preço e dividendos) estejam nos setores de energia, infraestrutura e bancário no primeiro semestre do ano que vem.”
“Quanto a dividendos, especificamente, os maiores pagadores estão nesses mesmos setores e no setor imobiliário, principalmente BDRs de fundos imobiliários dos EUA (os REITs, Real Estate Investment Trust, na sigla em inglês), que investem em hipotecas. Outro setor que deve ganhar destaque em 2023 é o bancário, em razão dos juros mais altos nos EUA”, acrescenta.
Para dividendos é comum que se faça uma projeção dos dividendos para o ano seguinte (2023), sendo o “dividend yield” o resultado da divisão do dividendo projetado pelo preço atual do ativo e da taxa de câmbio, explica Pereira. “Todavia, os investidores poderão surpreender-se negativamente com os dividendos no ano que vem, principalmente em caso de recrudescimento da recessão econômica prevista para o início de 2023. As empresas poderão lucrar menos ou mesmo optar por não distribuir dividendos e preservar o caixa da companhia.”
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