Acabou setembro e o Ibovespa ficou no vermelho pelo segundo mês consecutivo. O índice da B3 acumulou queda de 4,79% no período. O principal driver da baixa foi o risco fiscal, que pressionou o índice por várias semanas, de Renda Brasil à Renda Cidadã, somado as incertezas da CPMF e reforma tributária.
Os investidores estão estressados com o risco de calote e pedalada fiscal. Além dos IPOs que não deram certo, o que comprova que o mercado está cada vez mais seletivo.
Segundo Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos enquanto o Ibovespa cai uma coisa que avança é a dívida pública, um buraco de R$ 572,9 bilhões até 2023, destes R$ 233,6 bilhões são esperados para 2021. “Em 2020, o déficit primário é de R$ 861 bilhões que equivale a 6% do PIB”, explica.
Situação que também impacta na curva de juros futuros, cada vez mais deteriorada. Em cinco anos, os juros com vencimento em janeiro de 2025 saíram de 5,2% a.a em julho para 6,4%. Um crescimento de 120 pontos base. “Essa curva não é normal, assim como a alta expressiva do dólar”, reforça o especialista.
Apesar de toda essa incerteza, o Ibovespa não se descolou muito do S&P 500 (termômetro da renda variável) que fechou setembro em queda de 3,92%.
Guimarães defende que em outubro o Ibovespa pode ficar de lado, oscilando entre os 90 mil e 95 mil pontos. “Não vemos nada que faça o índice andar, a questão fiscal pode trazer mais volatilidade”, destaca.
Apesar de que os resultados do 3º trimestre devem animar o mercado, o ano de 2020 já era. Agora resta aos investidores esperar por 2021, e torcer para que a política e o risco fiscal não atrapalhem a retomada.
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Maiores altas
Entre os destaques positivos do mês duas companhias valorizaram após transformações societárias. É o caso da Localiza (RENT3), maior ganho de setembro, com alta acumulada de 17,77%.
Segundo Guimarães, o grande acontecimento que fez a ação ter esse desempenho no mês foi a fusão com a Unidas. “Um movimento inesperado mas que vai gerar muito valor ainda”, afirma.
A estratégia fez todo sentido, pelo fato de a Localiza ser líder no aluguel de carros enquanto a Unidas comanda a gestão de frotas. Juntas elas teriam mais de 490 mil veículos, cinco vezes mais que Movida, o segundo player do mercado. A fusão representa uma vantagem competitiva para as companhias.
Além disso, ele destaca o alinhamento entre acionistas fundadores, que deixa a relação num contexto de ganha-ganha. “Agora tudo depende do Cade e da concentração que cada região terá do conglomerado”, reforça.
Outra companhia que teve mudanças societárias interessantes para o investidor foi o Pão de Açúcar (PCAR3), que em setembro aprovou a cisão do atacarejo Assaí. As ações do grupo avançaram 9,86% no mês.
A rede de atacarejo Assaí vale praticamente um Pão de Açúcar, e negociadas de forma conjunta o papel estava prejudicando a valorização do seu dono PCAR3. Os investidores reagiram positivamente a separação, após o anúncio as ações chegaram a saltar 14%. “O setor se beneficia com a separação, o atacarejo tem crescido com força no digital e não recebeu a devida atenção”, avalia Guimarães.
Ainda entre as maiores altas, outro setor que chama atenção é a siderurgia. Neste Gerdau (GGBR4) e CSN (CSNA3) valorizaram 9,43% e 8,55%, respectivamente.
Guimarães afirma que a alta de Gerdau aconteceu graças ao aumento da demanda do aço longo. Com a retomada do setor de construção civil desde agosto o preço do metal subiu. Somado ao desempenho da companhia no 2º trimestre de 2020, com lucro de R$ 315,3 milhões que veio acima do esperado pelo mercado. “Em setembro houve um reajuste de preços para o papel”, diz.
Já a CSN (CSNA3) subiu graças a uma combinação de fatores: o primeiro foi o aumento da demanda de aço plano. O segundo foi a alta do minério de ferro na China.
Impactou também no preço do papel o IPO da CSN Mineração, que foi aprovado pela companhia. “Esta oferta pública foi esperada por muitas anos, mas com várias empresas adiando IPO acho improvável sair”, avalia o especialista da Levante.
Veja as 10 maiores altas de setembro:
Ação | Alta no mês |
Localiza (RENT3) | 17,77% |
Azul (AZUL4) | 10,22% |
Pão de Açúcar (PCAR3) | 9,86% |
Gerdau (GGBR4) | 9,43% |
Qualicorp (QUAL3) | 9,31% |
Raia Drogasil (RADL3) | 9,28% |
CSN (CSNA3) | 8,55% |
Metalúrgica Gerdau (GOAU4) | 6,83% |
IRB Brasil (IRBR3) | 5,05% |
Carrefour (CRFB3) | 4,19% |
Maiores quedas
Nos destaques negativos um setor pressionado foi o varejo, com ênfase no marketplace. A B2W (BTOW3) foi a maior queda de setembro, a ação recuou 19,32%.
Guimarães aponta como causa principal o efeito Amazon, a companhia anunciou que o evento Prime Day acontecerá pela primeira vez no Brasil nos dias 13 e 14 de outubro. Este dia é semelhante ao Black Friday oferecendo produtos da Amazon a preço de banana.
Não é a primeira vez que a varejista americana olha para o mercado brasileiro. Em setembro a companhia também anunciou a abertura de um novo centro de distribuição em Cajamar, São Paulo.
Com o aumento da concorrência, B2W sente os impactos. Contudo, a companhia também sofreu um movimento de realização, após ter valorização expressiva nos meses anteriores com follow on das Lojas Americanas.
Outra que sofreu na mão do efeito Amazon foi a Via Varejo (VVAR3), a ação caiu 15,27% no mês. A companhia valorizou com força nos últimos meses, se tornando uma das queridinhas do investidor pessoa física. Mas, nem todo conto de fadas tem final feliz e a Via Varejo voltou a recuar com o movimento especulativo diminuindo. “A euforia da ação passou, mas ainda é a terceira maior alta do ano”, explica o analista. Sem sua torcida de fanáticos, será que a companhia segura o ritmo?
A segunda maior queda do mês foi da Cosan (CSAN3), com queda de 17,78%. A companhia teve forte alta no passado com o anúncio do IPO da Compass Gás e Energia, mas voltou atrás após cancelar a oferta pública no dia 28 de setembro, alegando deterioração do mercado.
Ainda em setembro, o Goldman Sachs manteve sua recomendação neutra para os papéis estimando riscos da atividade econômica e mudanças na produção.
Caiu também a Marfrig (MRFG3), que fechou em baixa de 14,10%. A empresa realizou lucros após forte alta no 2º trimestre. Guimarães acredita que este é um bom momento para os frigoríficos com a demanda nos EUA aumentando. A operação americana beneficia muito a Marfrig.
Embora a China anunciou recentemente que pretende se tornar autossuficiente em carne suína, o que prejudica as exportadores o analista defende que o impacto maior é para JBS e Minerva, que tem concentrado sua demanda no país asiático. Enquanto a Marfrig tem ampla participação no mercado americano e passa invicta.
Veja as 10 maiores quedas de setembro: