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Stablecoins: as vantagens e riscos de investir em dólar usando criptomoedas

Criptos com lastro funcionam como uma alternativa mais barata e ágil de investir em câmbio

Pode nem ser um bom investimento, caso o dólar esteja num pico histórico e não tenha muito mais para onde subir. Mas duas coisas são fato:

1) É impossível saber se os R$ 6 de hoje são um pico, ou apenas parte de um caminho até valores mais altos no curto/médio prazo.

2) Em tempos de altas constantes do dólar, aumenta a disposição de investir em dólar. Nem que seja da forma mais bruta: comprando moeda americana para se proteger da desvalorização do real.

A boa notícia: existe uma forma de ter dólar sem pagar IOF e com taxas relativamente baixas, ainda que não seja exatamente dólar; mas um ativo que acompanha par e passo a flutuação moeda americana (que subiu 23% nos últimos 12 meses).

Estamos falando das stablecoins.

Elas usam as mesmas tecnologias de segurança e de transparência das criptos comuns, mas com uma característica peculiar: têm seu valor fixado sempre em US$ 1; na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença. 

Para isso, empresas como a Tether, dona da maior stablecoin do mundo, a USDT; ou a Circle, controladora da USDC, garantem que para cada ativo em circulação deles há US$ 1 guardado em seus caixas. É o lastro dessas moedas.

Até 1971, o ouro era o lastro do dólar. Em tese, cada país que tivesse moeda americana em suas reservas poderia dirigir-se ao Banco Central dos EUA e trocar cada nota por uma certa quantidade de ouro.

Com USDTs e USDCs é a mesma coisa. As empresas guardam dólares de verdade de modo que eles confiram valor a seus “cripto dólares”. E para que serve uma versão cripto de uma moeda fiduciária?

Serve para que essa moeda fiduciária rode por redes de blockchain – coisa que ela “não sabe” fazer. Cripto sabe. E isso traz vantagens.

Enquanto o mercado tradicional de câmbio opera basicamente em horário comercial, as stablecoins podem ser negociadas 24 horas por dia, 7 dias por semana, já rede de blockchain não dorme.

Com isso, dá para fazer “pix em dólar”, vamos dizer assim. É possível mandar moeda americana instantaneamente da sua carteira para outra, em qualquer lugar do planeta. Por conta disso, existe mundo afora gente que recebe salário em stablecoin.

Não impressiona, então, que o uso desse tipo de cripto esteja massificado. Nos últimos 30 dias, a Tether (USDT), registrou um volume de negociação de US$ 6,5 trilhões, praticamente três vezes mais que o Bitcoin, que teve US$ 2,2 trilhões.

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O Brasil também segue essa tendência. O volume de operações registradas com a Tether por aqui chegou a R$ 16,6 bilhões em setembro, segundo dados da Receita Federal. O valor é mais de cinco vezes o registrado pelo Bitcoin, que teve negociações de R$ 3,1 bilhões no mesmo período.

As stablecoins têm se popularizado muito em países em crise econômica, que sentem com força o impacto da câmbio e da inflação, como é o caso da Argentina. “É mais fácil você fazer transferências e pagamentos com stablecoins”, avalia Bernardo Teixeira, COO da plataforma argentina de cripto Ripio.

As stablecoins, porém, são muito mais usadas em transferências mesmo, e não como meio de pagamento em si, já que são raros os estabelecimentos pelo mundo que aceitam pagamento direto na moeda digital. Para usar 100 dólares na forma de stable coins na Disney, por exemplo, você vai ter de trocar suas stables por dólares normais – aqueles que “entram” no cartão de débito internacional. E só aí pagar por coisas.

Como comprar stablecoins

Você precisa ter uma conta em alguma exchange, banco ou plataforma que negocie cripto se quiser adquirir stablecoins. Todas as grandes operam alguma delas, principalmente a USDT e a USDC.

Binance, Coinbase, Kraken, OKX, Mercado Bitcoin, Foxbit, Ripio, além de plataformas como a Mynt (do BTG) e o app do Nubank estão entre as que operam stablecoin. Basta abrir uma conta gratuita em qualquer uma delas, depositar reais e escolher a cripto de preferência.

Vantagens das stablecoins

Para qualquer operação de câmbio com dólar “normal” há cobrança de IOF – 1,1% na hora de converter de real para moeda americana; outro 1,1% na volta. Além disso, tem as taxas, que podem variar de 0,5% a 2%. Na ida e na volta.

Enquanto isso, operações de compra de stablecoins têm apenas a taxa da plataforma escolhida, sem IOF. E ela fica entre 0,25% e 1%. Na ida e na volta também. Mas o fato é que sempre haverá alguma economia no momento da conversão.

Atualmente, a maioria das empresas cobra taxas que variam dependendo do volume negociado pelo investidor, com valores que vão diminuindo conforme se transaciona mais.

Outro ponto positivo é que a cotação é sempre bem próxima à do dólar comercial – aquele cujo preço aparece no Google. No universo das stable coins não há nada parecido com “dólar turismo”, a cotação vitaminada para quem compra notas das casas de câmbio.

Governança e riscos

Apesar das vantagens sobre outras formas de investir em dólar, as stablecoins também têm seus riscos, que envolvem as empresas por trás dos ativos.

Para conseguir manter a paridade com o dólar, elas precisam ter uma reserva de dólares para cada unidade de cripto emitida. O lastro, como já dissemos.

O problema é que nem todas as empresas são transparentes sobre essas reservas, o que pode gerar crises de desconfiança. Apesar de ser a maior do mercado, a própria Tether, dona do USDT, já se envolveu em polêmicas sobre o tema. Hoje, para mostrar que existe um dólar guardado (na forma de títulos públicos americanos) para cada um dos 142 bilhões de USDTs emitidos, ela divulga relatórios trimestrais auditados pela empresa de contabilidade BDO Italia.

Já a USDC, da Circle, além de trazer relatórios sobre suas reservas, tem seus ativos em um fundo sob custódia do Bank of New York Mellon e administrado pela BlackRock. Essa é a garantia de que existe, de fato, um dólar para cada um dos 40 bilhões de USDCs emitidos.

Um grande problema são as criptos que se dizem “stable coins” mas não têm lastro. Era o caso, por exemplo, de uma chamada Terra. Seu “lastro” era uma cripto comum, a Luna (numa alusão ao baile gravitacional entre o planeta Terra e a Lua). Uma fórmula insana “garantia” a paridade com o dólar baseada na valorização da Luna. Quando ficou claro que nada disso tinha lógica, todo mundo correu para vender suas Terras e Lunas. O valor de ambas desabou e meio trilhão de dólares virou pó.

Lição que fica: pesquise se sua stablecoin de preferência tem lastro.

Risco regulatório

No Brasil um outro fator começa a se tornar importante para investidores que usam stablecoins. Foi lançada recentemente uma consulta pública do Banco Central sobre operações com criptomoedas no mercado de câmbio, em um movimento que pode afetar principalmente as stablecoins.

Ainda não há grandes detalhes e especialistas ainda avaliam os potenciais impactos sobre o investidor no Brasil, mas ao obrigar empresas que operam com stablecoins a terem registro de câmbio, abre-se a possibilidade de cobrança de IOF ou outras taxas, o que pode inibir o mercado doméstico.

Além disso, um novo projeto de lei foi apresentado no Congresso para a regulação da emissão de stablecoins no país. Autor da proposta, o deputado federal Aureo Ribeiro (SD-RJ) afirmou ao InvestNews que o projeto não prevê a taxação ou aumento da burocracia para investidores de stabecoins.

“Nós vamos impactar o mercado, fazendo com que ele ofereça segurança para os investidores. Essa regulamentação é justa e devemos estar atentos às necessidades dele para não engessar os transacionamentos. O Brasil já está na vanguarda com as criptomoedas, e agora também estará no patamar das stablecoins”, disse ele.

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