
O tag along, que em português significa “direito de ir” , é uma proteção prevista na Lei das Sociedades por Ações para quem investe em empresas que têm ações negociadas na Bolsa de Valores.
Na prática, ele serve para proteger o acionista minoritário, ou seja, aquele que tem uma pequena quantidade de ações da empresa. Se o dono da maior parte da companhia (o controlador) decidir vender sua participação para outra pessoa ou empresa, o tag along garante que o pequeno investidor também tenha a chance de vender suas ações.
A lei determina que, nesse caso, o investidor que tem ações ordinárias — que dão direito a voto nas assembleias — deve receber pelo menos 80% do valor por ação paga ao controlador na negociação. Assim, o minoritário não fica de lado e pode sair do investimento em condições mais justas. Ou seja, se a empresa foi vendida a R$ 10 por ação, o acionista terá o direito a receber ao menos R$ 8.
Quais empresas oferecem o tag along?
Todas as companhias listadas no mercado de ações são obrigadas a oferecer o tag along para investidores com papéis ordinários na carteira.
Para as ações preferenciais (que dão preferência ao pagamento de dividendos ao acionista), a exigência do direito pode variar de acordo com a listagem na B3. Algumas empresas, como é o caso do Itaú (ITUB3 e ITUB4), oferecem o direito para investidores de ambos os papéis, mesmo não sendo uma regra imposta pelo segmento de atuação.
Quais ações têm tag along?
Pela legislação, a cobertura de tag along é válida para qualquer investidor que possua ações ordinárias. Por outro lado, há duas categorias que incluem a garantia para ambos os acionistas (detentores de ações ordinárias ON e preferenciais PN) e que podem chegar a 100% do valor, de acordo com o segmento de listagem da B3 (que são as categorias de governança corporativa por meio do qual são divididas as empresas listadas na Bolsa).
Esse é o caso da Petrobras (PETR3, PETR4), listada no Nível 2, que garante 100% de tag along para as duas modalidades de papéis. Isso significa que, se a Petrobras um dia for privatizada, todos os acionistas minoritários estarão protegidos em relação a possíveis desvalorizações do papel.
Veja como funciona a concessão de tag along
Bovespa Mais |
100% para ações ON |
Bovespa Mais Nível 2 |
100% para ações ON e PN |
Novo Mercado |
100% para ações ON |
Nível 2 |
100% para ações ON e PN |
Nível 1 |
80% para ações ON (conforme legislação) |
Básico |
80% para ações ON (conforme legislação) |
Tag along estendido
As empresas listadas nos segmentos que não exigem a garantia de tag along para as ações preferenciais podem estender o benefício. O Itaú (ITUB3 e ITUB4), por exemplo, presente na listagem Nível 1 da Bolsa (que só estabelece a regra de tag along de 80% para as ações ordinárias) estende a proteção para as ações preferenciais no mesmo percentual.
Além disso, muitas companhias que têm ingressado recentemente na Bolsa já buscam a listagem no Novo Mercado, segmento que inclui as companhias com o maior nível de governança e que precisam seguir, dentre outras regras, o oferecimento do tag along aos dois tipos de papéis.
Entre as empresas com cláusula de tag along de 100% para ações ordinárias e preferenciais estão Vale (VALE3), Localiza (RENT3), Lojas Renner (LREN3) e Cyrela (CYRE3).
Proteção contra oscilações
Caso o acionista invista em ações de uma companhia que não garanta o tag along para os papéis preferenciais, o investidor pode se deparar com as oscilações dessas ações, para cima ou para baixo, o que vai depender da interpretação do mercado ao ser informado sobre o interesse de aquisição por outra companhia.
Um caso emblemático ocorreu com a Ambev (ABV3), em 2004, quando a companhia alterou todo o seu controle societário, a partir da fusão com a empresa belga Interbrew, criando a AB Inbev. Na ocasião, a companhia oferecia o direito de tag along somente para os papéis ordinários.
Após o anúncio da mudança de controle, as ações ordinárias da empresa tiveram valorização de 10,35%, enquanto as preferenciais desvalorizaram 18%. Ou seja, os ativos com as garantias do tag along tiveram valorização, enquanto os ativos sem a proteção apresentaram queda.
O investidor, dono de ações preferenciais, que optou por vender os papéis naquele momento acabou levando prejuízo.
Liquidez dos papéis x tag along
Entretanto, o investidor não deve necessariamente descartar os papéis que não possuem direito a tag along. É essencial avaliar a história e a trajetória do driver, bem como ter confiança em sua idoneidade e capacidade de gestão. Além disso, é importante analisar a composição do conselho e da diretoria, já que, mesmo com a existência do tag along, as decisões de má-fé podem ser conduzidas por quem detém o poder de comando dentro da companhia.
Uma empresa pode, por exemplo, convencer os acionistas com maior participação — e, portanto, com maior poder de decisão — a aprovar condições de tag along que ficam abaixo do valor considerado justo, lembrando que a definição do preço passa pela aprovação da assembleia de acionistas.
Outro ponto relevante é que as ações preferenciais, que dão prioridade na obtenção de dividendos, costumam apresentar maior rentabilidade em comparação com as ações ordinárias. Isso acontece porque há mais investidores interessados em obter os lucros da companhia do que em exercer direito de voto nas assembleias.
Dessa forma, em muitos casos, a liquidez dos papéis pode ser uma seleção mais importante de decisão do que o próprio tag along, especialmente quando se trata de chamadas blue chips, empresas de grande porte na Bolsa, onde a chance de mudança de controle é bastante reduzida.
Como saber qual é o tag along de uma ação?
O investidor pode inserir no site da B3 o nome da companhia para identificar o segmento de listagem e os direitos de tag along inclusos. Além disso, para as empresas que oferecem direitos além dos exigidos pelo segmento de listagem, o investidor poderá consultar o estatuto social da empresa.
Pagamento de prêmio
O novo controlador pode oferecer o pagamento de prêmio para que os acionistas minoritários não vendam as ações da companhia. Nesse caso é desembolsada a diferença entre o valor de mercado do papel e o preço pago na venda do controle.
De acordo com informações do portal investidor.gov, neste contexto os acionistas minoritários podem se beneficiar da venda do controle da companhia sem serem obrigados a se desfazer de suas ações, e, em contrapartida, quem adquire o controle acionário pode ter um desembolso financeiro menor do que teria caso não oferecesse a opção aos minoritários.
Como escolher o direito à tag along?
O investidor deve exercer o direito caso não deseje permanecer posicionado na ação e o valor pago pela empresa seja maior do que o valor de mercado no momento. Caso seja menor, é mais interessante vender a posição a mercado ou ainda manter o ativo em carteira, se entender que o novo controlador poderá trazer bons frutos para a organização.
Como se concretiza uma tag along?
O comprador interessado em adquirir a empresa é quem realiza a oferta pública de aquisição de ações (OPA). A operação deve ser comunicada amplamente ao mercado e, após essa etapa, a companhia tem 30 dias para pedir a autorização junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia, por sua vez, tem 60 dias para negar ou aceitar o pedido.
Assim como ocorre no processo de IPO (oferta inicial de ações), um cronograma da oferta é anunciado pela companhia ao mercado após a decisão da CVM.
A definição do preço justo da ação que será pago ao acionista controlador e, consequentemente, irá para o bolso do minoritário — de forma proporcional — é definido por uma auditora independente. Além disso, o preço definido passa por aprovação dos acionistas em assembleia.
Se o valor for aprovado, a OPA é efetivada em leilão realizado na Bolsa ou no mercado de balcão organizado — momento em que os acionistas colocam seus papéis à venda para o novo controlador.