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Negócios

2 anos após IPO, ação da Ambipar tem potencial de valorização, dizem analistas

Empresa já fez 37 aquisições desde a abertura de capital, em julho de 2020.

No mês de julho, a Ambipar (AMBP3) completou dois anos da sua abertura de capital na bolsa de valores brasileira. Segundo especialistas consultados pelo InvestNews, a empresa de gestão ambiental tem colocado em prática de forma positiva o seu plano da Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês) e as ações da companhia devem entregar alto crescimento no futuro. 

A Ambipar foi a primeira empresa do setor a entrar na B3 e registrou uma oferta pública inicial com procura superior a doze vezes pelos investidores. O valor levantado com o IPO foi R$ 1,1 bilhão, com a companhia tendo como estratégia o plano de expansão global a partir de crescimento orgânico e aquisições. 

Fabiano Vaz, analista da Nord Research, avalia como muito bom o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Ambipar desde o IPO, com a  empresa multiplicando seus resultados.

“A grande via de crescimento foram as aquisições, mas a companhia vem demonstrando sua capacidade em crescer organicamente também. Claro que nem tudo foi positivo, vimos um aumento da alavancagem da empresa, mas foi necessário, já que não conseguiu fazer o IPO da divisão Environment ano passado”, diz Vaz. 

Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, explica que, com toda a incerteza sobre a economia mundial, os ativos de risco sofreram bastante, e isso inclui ações, principalmente aquelas negociadas em países emergentes como o Brasil, mas as perspectivas são positivas para o ativo da Ambipar. 

“A estratégia de se tornar uma empresa com diversas especialidades e em diversos mercados a partir de aquisições se manteve. Portanto, assim que o apetite por risco aumentar e as ações de crescimento voltarem a se valorizar, é possível que a Ambipar esteja entre eles”, destaca Chinchila.

Aquisições

A companhia se divide entre Ambipar Environment, que faz o gerenciamento e valorização total de resíduos industriais, e a Ambipar Response, que atua na prevenção de acidentes.

O plano de crescimento da Ambipar no segmento Environment tem como objetivo a expansão no Brasil e no exterior, focado na valorização de resíduos, aplicando os conceitos da economia circular.

No segmento Response, o foco é na expansão no país e na América Latina, América do Norte e Europa, com atuação em prevenção, treinamento, atendimento emergencial e serviços industriais, buscando eficiência no tempo de resposta e reduzindo possíveis impactos ambientais.

Outra via de crescimento da empresa são as oportunidades de investimento por meio de  aquisições que buscam incorporar novas soluções e tecnologias, setores e geografias complementares no Brasil e no exterior, além de sinergia com a base de clientes. 

Segundo a Ambipar, em 2021, o foco das aquisições foram empresas que agregam valor a plataforma das verticais de crescimento, aumentam o conhecimento do grupo em novas tecnologias e serviços, como as aquisições feitas na Environment e, no caso da Response, as que pudessem dar maior abrangência geográfica.

Já neste ano, foram feitas compras no Brasil, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Irlanda. Desde o seu IPO, a empresa já realizou 37 aquisições. 

Chinchila explica que o modelo de negócio baseado em aquisições é um pouco controverso no mercado de capitais, pois, para se determinar o preço de uma compra, leva-se em conta seus ativos e o quanto essa nova aquisição irá trazer de benefícios ao combinar os negócios, o que é conhecido como sinergia. 

O analista da Terra Investimentos destaca que o primeiro ponto é simples e não costuma gerar problemas para a empresa. O segundo ponto, porém, de acordo com Chinchila, é complicado de se avaliar, pois, em alguns casos, paga-se mais do que a sinergia vale e, em outros, ela nem existe, levando aos episódios de sinergia reversa, em que os dois negócios juntos geram resultados piores do que separados. 

“Mas existem razões para adotar esse modelo, já que possibilita a expansão rápida da empresa e facilita a entrada e exposição a novos mercados e setores, algo que, às vezes, não acontece com crescimento orgânico. Portanto, cabe entender que a Ambipar é focada nessa modelo agressivo de aquisições e chegou até aqui apoiada nele”, destaca Chichila.  

Na mesma linha, Vaz defende que o setor de gestão e emergência ambiental é bastante pulverizado, pois, em geral, são pequenas e médias empresas, regionalizadas e com serviços específicos e, por isso, a estratégia de crescer via aquisições é acertada. 

“Para a Ambipar é mais interessante adquirir empresas e sua tecnologia, conhecimento e contratos do que iniciar uma operação do zero. Mas não deixa de ser uma estratégia arriscada unir empresas com pessoas, culturas, processos e gestões diferentes. É complicadíssimo. É um ponto que precisa ser acompanhado sempre de perto”, alerta o analista da Nord Research.

Matheus Jaconeli, analista da Nova Futura Investimentos, também aponta que esse movimento é positivo e recorrente em companhias que estão em estágio de crescimento. Ele alerta, no entanto, que, do lado negativo, há o fato de taxas de juros mais elevadas poderem impactar a estratégia de crescimento da companhia via aquisições e investimentos. 

Sinergias consistentes?

Funcionários e veículos da Ambipar
Funcionários e veículos da Ambipar. Crédito: Divulgação

Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos, explica que existem negócios em que a aquisição é fundamental ou parte inerente da expansão, como é o caso da Ambipar.

Segundo Cozzolino, a depender do modelo de negócio e tamanho das empresas, existe uma demora e até frustração de expectativas em relação às sinergias. Mas, de acordo com o  sócio da Levante Investimentos, no caso da Ambipar, é um processo mais rápido, pois são aquisições um pouco diferentes, apesar de também ter seus riscos.

Para Vaz, a Ambipar vem fazendo um bom trabalho em relação às sinergias das aquisições, com o seu histórico e experiência ajudando no processo de consolidação e ganhos de sinergia com as adquiridas.

“Até pelo perfil em adquirir empresas menores ajuda. As margens da empresa nos últimos trimestres têm se mantido em patamares elevados sem variações significativas”, aponta o analista da Nord Research.

De olho no exterior

No começo do mês passado, a Ambipar anunciou que assinou acordo para a combinação dos negócios entre a Emergência Participações, subsidiária da empresa, e a HPX, uma sociedade de aquisição de propósito específico. 

A expectativa é que a conclusão do negócio aconteça até setembro, quando a subsidiária da Ambipar deve ser negociada em Wall Street sob o ticker AMBI. 

Para Fabiano Vaz, analista da Nord Research, a notícia é positiva e vai em linha com o que a Ambipar pretende ser no futuro: uma grande holding de serviços ambientais. Segundo Vaz, o fator mais importante será a possibilidade de a empresa acessar um mercado muito mais maduro e barato para se capitalizar, seja via ações ou dívidas. 

“Com mais recursos em caixa, a divisão vai conseguir acelerar ainda mais seu crescimento orgânico e via aquisições”, aponta o analista da Nord. 

Matheus Jaconeli, da Nova Futura Investimentos, também avalia esse movimento como positivo, já que os Estados Unidos também estão avançando nas pautas ESG (Environmental, Social and Governance), além de ser uma chance para questões de visibilidade para a companhia e de poder acessar outros mercados. 

Foco em ESG: Ambipar sai ganhando?

A Ambipar atua em diversos segmentos oferecendo serviços e produtos voltados à gestão ambiental. A empresa está presente em 16 países, 5 continentes e em 350 bases.

Vaz explica que o diferencial da Ambipar para sair na frente foi enxergar a oportunidade de gerir e tratar resíduos de empresas e estar ganhando envergadura em um mercado que ainda está amadurecendo.

Régis Chinchila, da Terra Investimentos, também aponta o foco da empresa em questões ambientais como um grande diferencial, pois, segundo ele, trata-se de um mercado que deve crescer muito, considerando que várias empresas precisarão de auxílio para combater o passivo ambiental. 

“O ESG está se tornando um componente pesado nos fundos de investimentos. Desta forma, as empresas que não convergirem com estes princípios acabarão sem crédito e serão preteridas, alavancando as companhias que estiverem na outra ponta”, considera Chinchila.

Enrico Cozzolino, da Levante Investimentos, destaca que o segmento de atuação da Ambipar é uma forma de demais empresas poderem ter um cunho maior voltado ao ESG e, com isso, a Ambipar será a solução, sendo um “braço” para as empresas que não são ESG passarem a se tornar.

“O ESG tem tido valor, tem tomado a pauta das empresas, investidores. É cada vez mais importante companhias com esse cunho, e a Ambipar seria uma solução”, afirma.

Desempenho das ações

A empresa fez sua abertura de capital no ápice da pandemia e, assim como diversas companhias da bolsa, também vem sendo impactada recentemente.

No acumulado do ano até 1º de agosto de 2022, a ação da Ambipar tem queda de 34,11%, segundo a TC/Economatica. Já no acumulado desde a abertura de capital até 1º de agosto de 2022, o ativo tem alta de 12,67%.

Gráfico com o desempenho da ação da Ambipar

Apesar de o cenário de pandemia impactar diversas empresas da bolsa de valores, Chinchila aponta que a Ambipar tem características diferenciadas e que seu melhor horizonte é o de longo prazo, e, por isso, é compreensível a desvalorização do ativo. Mas, segundo o analista, com a retomada do risco por parte de investidores, as ações da companhia estarão entre as valorizações.

Fabiano Vaz, da Nord, destaca que são vários fatores que impactam os papéis da companhia, mas, talvez, a grande decepção do mercado tenha sido a empresa não ter conseguido emplacar o IPO da divisão Environment, por causa do momento ruim do mercado. Assim, sem o IPO, precisaram levantar mais dívidas para manter o ritmo das aquisições. 

“Isso somado a um cenário de juros subindo fez o mercado pesar bastante nas ações. Mas os ativos da empresa não tiveram uma performance tão diferente quando comparamos com outras small caps e empresas de crescimento. Baixa liquidez, juros altos e perspectivas ruins para o cenário macroeconômico sempre pesam bastante em papéis como o da Ambipar”, explica Vaz.

Para o  analista, no longo prazo, o mercado sempre vai dar valor para as empresas que crescem, e a Ambipar cresce e proporciona visibilidade de que vai continuar entregando um alto crescimento no futuro, sendo uma boa oportunidade de investimento.

Matheus Jaconeli, da Nova Futura, aponta no entanto que vale lembrar que boa parte das companhias que têm foco em questões ESG são empresas de crescimento – as são mais sensíveis aos movimentos de juros.

Para esse ano, tendo em vista a aproximação das eleições e a expectativa de continuidade de alta nos juros no exterior, Jaconeli acredita que, mesmo que de forma mais moderada que o esperado, o cenário macroeconômico pode afetar o desempenho da companhia. 

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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