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Negócios

Carne artificial: como as ‘food techs’ estão acelerando a produção no mundo

Mercado de tecnologia dos alimentos deve atingir um valor global de aproximadamente R$ 980 bilhões até 2022.

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O surgimento de startups voltadas ao desenvolvimento de tecnologias de alimentos, chamadas de Food Techs, está acelerando a produção de carne artificial. No começo de março, a BRF (BRFS3), décima maior fornecedora de carnes do mundo, anunciou um acordo com a startup israelense Aleph Farms para produção e distribuição exclusiva de proteínas fabricadas em laboratório.

A startup tem capacidade para desenvolver vários tipos de células simultaneamente em uma estrutura tridimensional, criando uma textura muito semelhante com a da carne de verdade, sem depender de engenharia ou modificação genética.

“Essa parceria fortalecerá a geração e diversificação de negócios para atender às crescentes demandas dos consumidores por uma maior variedade de proteínas alternativas”, disse a BRF em comunicado.

A procura por alimentos sustentáveis e o crescimento acelerado das startups do setor tem pressionado a indústria tradicional de alimentos a buscar caminhos mais rápidos para inovar. 

Para Gary Brenner, proprietário da agtech israelense, a proteína de laboratório não será apenas um episódio passageiro. “A carne que desenvolvemos será parte do futuro. Estamos caminhando para poder atender às demandas culinárias de consumidores nos Estados Unidos e na América Latina”.

Corrida por alternativas 

Segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), após a pandemia, a população em vulnerabilidade alimentar passará de 135 para 265 milhões de pessoas, circunstância que vai gerar uma corrida pelo abastecimento alimentar das nações e, consequentemente, uma importante demanda para os países produtores de alimentos a preços mais competitivos.

Além disso, para conseguir acompanhar o crescimento da população mundial, que deverá atingir os 9 bilhões de pessoas em 2050, a produção global de alimentos precisará crescer cerca de 70%, revela uma pesquisa da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO)

Mudança de hábitos

Junto com a necessidade de alimentar todas essas pessoas, a transformação dos hábitos alimentares da população oferece grandes oportunidades para empresas que desenvolvem novas opções para o mercado tradicional de alimentos.

De acordo com Jim Toy, Analista de Consumidores do instituto de pesquisa GlobalData, o apetite da América Latina por proteínas alternativas atingiu novos patamares nos últimos meses.

A última pesquisa de consumo do instituto mostrou que dois em cada cinco entrevistados seguem alguma forma de dieta com baixo consumo de carne vermelha.

“Até o início da pandemia, a demanda por substitutos da carne pelos consumidores da América Latina não chegava nem perto da que existe hoje, apesar de algumas poucas empresas como Revolution, Marfrig e Future Farm já investirem na área”, defende o analista.

Como será a demanda do mundo por carne? 

De acordo com o relatório “A pandemia da Covid-19 e as perspectivas para o Setor Agrícolo Brasileiro no Comércio Internacional”, produzido pelo Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne), a pandemia levou o mundo a um aumento na demanda por alimentos mais baratos. A recessão e a queda no poder aquisitivo da população em geral são os principais motivos apontados pelo parecer. 

Segundo o IBGE, após três anos de expansão, o abate de bovinos no Brasil caiu 8,5%, em 2020. O recuo vem em meio a uma disparada nos preços da arroba bovina no Brasil para valores recordes.

“Estamos no chamado ciclo de alta na bovinocultura após um período de baixa. A arroba subiu de preço, o bezerro, um dos principais insumos de produção, está escasso e valorizado”, diz Bernardo Viscardi, analista do IBGE.

A redução nos abates, no entanto, não prejudicou as exportações brasileiras, que alcançaram patamar inédito em 2020. Graças à desvalorização do real, o produto se tornou mais competitivo para o mercado exterior, como observou o IBGE, citando dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia.

Até 2029, o Brasil terá papel preponderante para a manutenção do abastecimento alimentar mundial. A China, por exemplo, deve importar 31,7% da carne bovina do Brasil. Além do país, os principais mercados para a carne bovina brasileira são Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul. 

Perspectiva para o futuro

Para o especialista em ações da Levante, Eduardo Guimarães, os alimentos de laboratório ainda possuem um custo alto de produção e, portanto, serão uma realidade na mesa dos brasileiros somente daqui a algum tempo.

“As empresas do setor estão se esforçando para entrar em um no mercado mais competitivo, com produtos de maior valor agregado e margem de lucro melhores. Sair da linha da carne in natura. é um sonho antigo da BRF para deixar de ser uma commodity”, diz o analista.

Do ponto de vista dos investimentos, o analista acredita no crescimento do setor, mas ainda enxerga um tímido reflexo no mercado financeiro brasileiro, já que a carne ainda é a proteína culturalmente dominante no Brasil.

“O impacto financeiro das carnes vegetais, veganas ou alternativas nas empresas brasileiras ainda é pequeno. É provavelmente o setor que mais tem crescido, mas não acredito que vá dominar o mercado. Porém, no médio a longo prazo, deve ter resultados interessantes”, finaliza.

Apesar de tímido se comparado a outros países, o setor tem grande potencial de crescimento. Segundo o The Food Tech Matters, instituição britânica que conecta empreendedores do setor com companhias, aceleradoras, investidores e outros players, a expectativa é de que o mercado de Food Techs atinja um valor global de aproximadamente R$ 980 bilhões até 2022.

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