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Negócios

Caso Americanas completa 6 meses com dados escassos e falta de clareza

Avaliação é de especialistas; eles não descartam que a empresa possa se reerguer, mas afirmam que processo será longo.

Em 11 de janeiro, a Americanas surpreendia o mercado ao anunciar que havia encontrado uma “inconsistência contábil” bilionária. Agora, seis meses depois, ainda não se sabe com exatidão o tamanho do rombo, mas a própria empresa já reconhece que houve, na verdade, uma fraude contábil. Apesar do escândalo, analistas ouvidos pelo InvestNews apontam que a recuperação da empresa não é impossível, embora certamente vai exigir muito tempo e esforço. 

Desde a eclosão do escândalo, a ação AMER3 se desvalorizou em mais de 90% na bolsa de valores, de R$ 12 para R$ 1,16 no fechamento da última sexta-feira (7). Mas, no momento mais crítico para o papel, a cotação chegou a R$ 0,71 no fechamento do dia 20 de janeiro.

Brasília, Brasil 12/01/2023. REUTERS/Ueslei Marcelino

Especialistas apontam que, embora meses já tenham se passado, ainda faltam informações essenciais sobre as perdas com a fraude e a operação da companhia. “Desde quando o rombo bilionário veio a público, o que mais pesou e continua pesando é a falta de transparência sobre os fatos”, afirma Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante. 

Em junho, a Americanas informou que os assessores jurídicos da administração da empresa apresentaram relatório contendo achados preliminares sobre as inconsistências relatadas em janeiro. O documento indica que houve fraude. O presidente da Americanas, Leonardo Coelho, apresentou em audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) uma série de comunicações internas e documentos que, segundo ele, sustenta o cometimento de uma fraude de resultado pela antiga diretoria da empresa.

CEO da Americanas , Leonardo Coelho 28/03/2023 REUTERS/Adriano Machado

Além da falta de informações sobre o rombo, os analistas do mercado apontam que sequer há dados confiáveis sobre o desempenho da companhia. “A gente já está para começar novamente uma temporada de resultados, do 2º trimestre deste ano, e até agora nem divulgaram o 4º trimestre do ano passado”, diz Sanchez. 

Nesse cenário nebuloso, o que resta aos analistas é tentar mensurar a dimensão do problema da empresa com os poucos dados disponíveis. Gabriel Costa, da Toro, aponta por exemplo uma estimativa de relação entre dívida e geração de caixa (Ebtida) da Americanas de 6,5 vezes – bem acima dos 2,27 de Magazine Luiza (MGLU3) e dos 3,23 de Via (VIIA3). “É uma estimativa com o que se tem hoje, mas o número pode ser muito maior”, diz Costa. 

Diante de tantas perspectivas negativas para a situação operacional e incertezas sobre a investigação da fraude na empresa, gestores e analistas têm deixado de lado a ação AMER3 em suas considerações. 

“Os investidores diminuíram a atenção sobre a ação. Boa parte das gestoras já nem considera mais. O que tem mesmo são pessoas que buscam oscilações grandes num curto prazo. Mas, realmente, fazer uma grande análise, isso não parece estar mais acontecendo. A gente não vê mais nenhum analista cobrindo.” 

Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos

Segundo levantamento do Valor Pro com nove casas diferentes, oito têm o papel sob revisão, sem recomendação. Entre elas estão XP Investimentos, Safra, Santander e Ágora Investimentos. Já o Inter tem recomendação neutra para AMER3. 

Costa diz que a Toro tem perspectiva neutra, e justifica: “por mais que muita coisa tenha acontecido ao longo do caminho, pouca coisa prática realmente se resolveu”. Da mesma maneira, Sanchez conta que a Levante segue com AMER3 em revisão, e diz: “A gente olha os dados financeiros da Americanas e não sabe o que procede, o que realmente é verdade e o que foi manipulado”.

  • Confira a as ações da Via Varejo (VIIA3)

AMER3 tem salvação?

Embora visão negativa sobre a empresa seja unânime entre os especialistas ouvidos pelo InvestNews, eles não descartam que Americanas possa, eventualmente, se reerguer. No entanto, os analistas afirmam que esse processo deve levar ainda bastante tempo e, ainda assim, não é possível dizer que a ação AMER3 possa recuperar todo o valor perdido. 

“Passado todo esse tempo, a gente consegue ter uma ideia muito melhor de que é possível que a empresa se recupere, desde que exista uma certa vontade, principalmente dos acionistas de referência, de levantar a empresa”, opina Sanchez, da Levante. 

“A empresa tem salvação, aos poucos vai conseguir se recuperar. Porém, valer o mesmo que antes é um processo que deve demorar muito mais do que se imagina. Não dá para falar que é impossível, mas é pouco provável.”

Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante

Ainda falando sobre preço da ação, a analista diz que “basta a gente olhar o exemplo de Oi”. Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, também cita o caso da ação OIBR3, e acrescenta que a operadora de telefonia tinha à disposição uma série de ativos para vender e tentar levantar recursos – situação diferente da Americanas, segundo sua análise.

Logo da Oi 02/03/2023 REUTERS/Ricardo Moraes

“Ela tem apenas a sua marca. Então, não tem ativos para ela vender e capitalizar, reduzir um pouco a operação, paralelo ao que a Oi fez na sua recuperação judicial”, diz Bassotto. 

A Americanas anunciou em maio que, além do hortifruti Natural da Terra, está buscando interessados em comprar a participação da companhia no Grupo Uni.Co, dono das marcas Puket e Imaginarium. No entanto, ainda não houve mais desdobramentos.

“Eles tinham incluído no plano do processo de recuperação a informação de que venderiam ativos para eliquibrar as finanças, mas até agora não tem nada de concreto sobre a venda da UniCo e Natural da Terra”, comenta Costa, da Toro. Diante do cenário, o analista diz que uma possível recuperação da empresa “é um processo que vai demorar anos para acontecer”. 

Cruz, da RB, acrescenta que “precisaria de alguns trimestres com resultados positivos para as pessoas ficarem convencidas de que as coisas não podem piorar ainda mais”. “A empresa, toda vez que a gente tem alguma notícia, é sobre demissões, fechamento de lojas. Então, a trajetória não é das melhores”, comenta. 

Bassotto, do Simpla Club, se mostra bastante pessimista com o papel, “diante dessa dificuldade de captar recursos e de uma operação que já começou a dar alguns sinais de queda”. Ele finaliza: “Então, a gente ainda tem uma visão muito pessimista para a empresa, não acreditando que ela possa sair uma empresa saudável desse processo – se, de fato, ela conseguir sair viva.”

6 meses do caso Americanas

Relembre abaixo os principais acontecimentos desde o início da crise:

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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