Até a semana passada, apenas 9 companhias de capital aberto ultrapassavam a marca de R$ 100 bilhões em valor de mercado na B3, segundo dados da plataforma de informações financeiras TradeMap fornecidos para o InvestNews. Enquanto muitas deixaram a lista após o susto da pandemia, outras mostraram fôlego para crescer mesmo em meio a uma das piores crises que nossa economia já conheceu.
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A própria B3 (B3SA3) é a mais nova estreante da lista, após bater a marca de R$ 104 bilhões em valor de mercado na última quinta-feira (18). Outro “diamante” do mercado, a varejista Magazine Luiza (MGLU3), alcançou o feito no final de maio, dividindo espaço com grandes bancos e gigantes como a Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3).
Quanto mais investidores, melhor…
A rápida escalada da B3 se sustenta, principalmente, pela entrada maciça de novos investidores pessoas física na bolsa de valores desde o ano passado, movimento que ganhou força ainda maior durante a pandemia. Até o dia 29 de maio, a operadora da bolsa possuía 2,5 milhões de CPFs cadastrados em sua base, contra 1,6 milhão no final de 2019, um crescimento de 56% em cinco meses.
Essa chegada em peso de investidores ajudou a melhorar o balanço financeiro do primeiro trimestre da B3, que apresentou um lucro líquido recorrente de R$ 1,157 bilhão — 57% maior que em igual período de 2019 e o melhor trimestre da história da companhia. Os investidores aprovaram o resultado e o reflexo aparece na alta das ações da empresa: a valorização acumulada em 2020 é de quase 20%, enquanto o Ibovespa recua ao redor de 17%.
“Diferentemente de crises passadas, as taxas de juros estão muito baixas, o que incentivou a entrada de investidores à bolsa. Além disso, vemos grandes feitos como margem elevada, baixa alavancagem financeira e fluxo de receita constante, o que nos mantêm positivos em relação às ações [da B3]”, observaram analistas do banco BTG Pactual em relatório recente sobre a companhia.
A rainha do e-commerce brasileiro
A varejista Magazine Luiza alcançou o posto no final de maio, após deixar os investidores de queixo caído com o resultado do primeiro trimestre. Mesmo com um lucro 76% menor, para R$ 30,8 milhões, a companhia viu as vendas do vendas do comércio eletrônico crescerem 73% em plena pandemia. A presença digital ajudou a impulsionar o preço da ação, levando a companhia ao seu maior valor de mercado desde que abriu seu capital, em 2011.
A cultura interna também favorece a avaliação positiva dos investidores. Uma pesquisa da Glassdoor e do UBS Lab Evidence, divulgada em fevereiro deste ano, mostrou que, quando se trata de comércio eletrônico no Brasil, o Magazine Luiza aparece em terceiro lugar entre as empresas mais bem avaliadas pelos funcionários, atrás do iFood e do Mercado Livre (MELI).
Entre os varejistas online, o Magalu recebeu a maior nota no quesito valores culturais (4.5 pontos) e oportunidades de carreira (4.3), à frente de concorrentes diretos no mercado nacional como B2W (BTOW3) e Via Varejo (VVAR3). Em 2020 até a última semana, o grupo de varejo acumulava valorização de quase 50% na bolsa, mesmo com os tropeços que derrubaram boa parte das empresas listadas no período.
Com o feito, o Magalu vale hoje mais que o Banco do Brasil (BBSA3) e a B3. Logo que atingiu a marca dos R$ 100 bilhões, no fim de maio, a varejista também chegou a ultrapassar o banco Santander Brasil (SANB11) em valor de mercado. Até a última quinta-feira, ela era avaliada em R$ 112 bilhões, segundo o TradeMap.
WEG: fôlego para crescer na crise
Já a fabricante de motores elétricos e peças industriais WEG (WEGE3) chegou a entrar para o time dos R$ 100 bi em fevereiro deste ano, quando despontava entre as ações mais promissoras do Ibovespa. A companhia sofreu bem menos que muitas empresas da bolsa no auge da restrição social, mesmo não pertencendo aos segmentos diretamente favorecidos pela pandemia, como o varejo online e empresas de tecnologia.
Por não estar diretamente ligada à oscilação nos preços de commodities como petróleo e minério de ferro, a WEG é menos vulnerável a turbulências no exterior como outras empresas na bolsa. Mas o papel da companhia vem sofrendo fortes oscilações desde o início da pandemia, mesmo acumulando valorização superior a 30% no ano. Desde então, a empresa entrou e saiu do grupo dos R$ 100 bilhões várias vezes, avaliada hoje ao redor de R$ 95 bilhões.
Valor de mercado
O valor de mercado (ou capitalização) de uma empresa listada em bolsa não pode ser confundido com o patrimônio líquido, que é a diferença entre os ativos e passivos (tudo o que a empresa possui, menos o que ela deve aos credores). O valor de mercado é calculado da seguinte forma: o preço atual da ação é multiplicado pelo número de ações existentes.
Por exemplo, imagine que a empresa X possui 100 mil ações circulando na B3 e que cada papel é negociado ao preço de R$ 10. O valor de mercado desta companhia é, portanto, de R$ 1 milhão. Claro que, tratando-se de empresas de verdade, os valores costumam ser bem mais exorbitantes.
No momento, a empresa mais valiosa do mundo é a Apple, avaliada em torno de US$ 1,5 trilhão, após ter tirado a liderança da Microsoft no ano passado. Recentemente, ela chegou a ser superada pela petrolífera saudita Saudi Aramco, que alcançou a marca de US$ 2 trilhões após o IPO (abertura de capital) feito no ano passado.
SÓ ACIMA DE R$ 100 BI
Empresas com valor de mercado superior a R$ 100 bilhões*:
EMPRESA | VALOR | VARIAÇÃO EM 2020** |
Vale | R$ 297,78 bilhões | -25,87% |
Petrobras | R$ 288,78 bilhões | -28,86% |
Itaú Unibanco | R$ 258,45 bilhões | -21,82% |
Ambev | R$ 216,04 bilhões | -25,87% |
Bradesco | R$ 196,61 bilhões | -31,68% |
Santander | R$ 115,87 bilhões | -34% |
Magazine Luiza | R$ 112,84 bilhões | 48,81% |
B3 | R$ 104,48 bilhões | 19,66% |
Banco do Brasil | R$ 103,41 bilhões | -34,84% |
Variação no ano**
Fonte: TradeMap