Com o início das novas regras para a tributação de compras internacionais feitas pela internet a partir desta terça-feira (1º), a dúvida é como isso impacta as varejistas brasileiras. Por enquanto, nada muda, pois as plataformas estrangeiras de comércio eletrônico ainda aguardam o aval da Receita Federal para que possam ser habilitadas – o que pode levar algumas semanas ou até meses.
Mas os grandes players vindos da Ásia já deixam a sensação de que o e-commerce brasileiro não será dominado por empresas tradicionais como Casas Bahia (VIIA3) ou Magazine Luiza (MGLU3); nem pela gigante argentina Mercado Livre (MELI34). Ainda mais após o vácuo deixado no setor pelo rombo contábil da Americanas (AMER3).
E o motivo é simples. A começar pelos três principais pilares do comércio eletrônico: produto, preço e experiência. Trata-se de uma briga de gente grande, já que o Brasil é o 10º maior mercado de compras online do mundo e ainda tem muito espaço para crescer.
Empresas asiáticas, como Shein e AliExpress, já anunciaram que vão aderir ao Remessa Conforme, programa do governo federal que isenta a cobrança do imposto de importação em produtos adquiridos no exterior no valor de até US$ 50. As mudanças também beneficiam outras plataformas internacionais, como a norte-americana Amazon e a Shopee, de origem em Singapura.
Mais concorrência
Com isso, a expectativa para as varejistas brasileiras é de aumento da concorrência. No entanto, a melhora da competitividade das empresas internacionais também tem a ver com o modelo de negócios, com a experiência do marketplace permitindo interações nos moldes de um shopping virtual, em um modelo mais participativo. Além disso, os gargalos de infraestrutura no Brasil e o déficit tecnológico reduzem a eficiência do negócio nacional.
Na visão da XP Investimentos, o cenário macro continua desafiador para as empresas de comércio eletrônico, principalmente para a demanda de bens duráveis, diante do poder de compra da população pressionado e os juros básicos (taxa Selic) elevados. Dessa forma, os balanços do segundo trimestre deste ano serão impactados pela despesa financeira.
Mas a notícia também é negativa para o segmento de vestuário. Segundo relatório do Itaú BBA, a Shein já domina cerca de 30% do e-commerce de roupas e calçados no Brasil, vendendo sozinha quase R$ 8 bilhões no Brasil em 2022, quando quadruplicou de tamanho, superando a Marisa (AMAR3) e praticamente empatando com a Riachuelo (GUAR3).
A expectativa é dobrar as vendas em 2023, o que, se confirmado, tornará a chinesa líder no segmento nacional, ultrapassando a Renner (LREN3), conforme prevê o BTG Pactual.
O que muda para o consumidor?
Para os consumidores, o programa pode significar queda nos preços e nos prazos de entrega. Afinal, a faixa de preço de US$ 50 representa mais de 90% do total das 800 mil encomendas que entram no país diariamente e a isenção da tarifa garante sinal verde na alfândega, permitindo que os pacotes sejam entregues mais rapidamente.
Nas compras até US$ 50, o consumidor não irá pagar a alíquota de 60% do imposto de importação, caso compre de empresas participantes do Remessa. No entanto, todas as vendas internacionais têm de recolher tributos estaduais, com a cobrança de 17% de ICMS. Já para as compras acima de US$ 50, segue em vigor a taxação do Imposto de Importação.
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