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Oi fez boa recuperação judicial, mas ainda tem muitos desafios, dizem analistas

Companhia deu entrada no processo em 2016 com uma dívida de cerca de R$ 65 bilhões.

Depois de mais de seis anos, o processo de recuperação judicial da Oi (OIBR3, OIBR4) foi encerrado na noite da véspera pela 7ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, de acordo com informações publicadas no jornal Valor.

Segundo o jornal, o juiz Luiz Fernando Viana escreveu que o encerramento da recuperação judicial “não importa em qualquer prejuízo à apreciação de postulações de direito material e processual formuladas por credores concursais [preferenciais] ou não, e por terceiros, e não decididas no curso do processo.”

Com isso, a empresa está apta a seguir sem fiscalização. Para analistas consultados pelo InvestNews,  a companhia fez um bom trabalho em relação à recuperação judicial e à reestruturação da empresa e saiu do processo pouco parecida com a forma com que entrou, mas ainda tem muitos desafios pela frente.

oi móvel
Logotipo da operadora de telecomunicações Oi. 18/7/2018. REUTERS/Paulo Whitaker

No último dia 27, o administrador judicial da recuperação judicial da Oi apresentou à justiça o quadro geral de credores da companhia. A justiça abriu vista do processo ao Ministério Público.

Gabriel Tinem, analista de telecomunicações da Genial, avalia todo o processo de recuperação judicial da companhia como  positivo, sobretudo com a entrada de Rodrigo Abreu para o comando da empresa.

“De modo geral, o que foi proposto no aditamento do plano de recuperação foi, em sua vasta maioria, cumprido. Dentre os destaques que observamos entre 2020 e 2022 foram as vendas de seus principais ativos para solucionar sua delicada situação financeira. Um dos pontos mais negativos foi a redução na participação da Oi na InfraCo, que antes estava prevista de ficar em torno de 42%, mas ficou mais próxima de 35%, em virtude dos ajustes contratuais junto ao grupo BTG”, avalia Tinem.

Para Henrique Tavares, analista CNPI da DV Invest, a recuperação judicial da companhia foi um desafio de grandes proporções e o negócio que sai desse processo pouco deve se parecer com o da forma com que a companhia entrou. 

“A nova Oi foca em se tornar uma empresa mais “asset light”, diminuindo a demanda do negócio por capital intensivo e mantendo uma estrutura mais leve e flexível para a alocação de capital da nova companhia”, afirma Tavares.

O analista da DV Invest lembra, no entanto, que o principal desafio da companhia é gerar caixa, pois, do contrário, a Oi pode começar a se endividar novamente para seguir operando. 

Nova Oi

A Oi tem como objetivo se tornar uma empresa com foco em fibra ótica, fazendo prestação de serviço de banda larga ao público em geral e oferecendo suas redes de forma neutra para as demais operadoras de 4G e 5G.

Entre os principais pontos apresentados do plano estratégico para o triênio 2022-2024 da Oi, estão: para 2024, previsão de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 1,9 bilhão a R$ 2,3 bilhões, receita líquida entre R$ 14,8 bilhões e R$ 15,5 bilhões e um programa de corte de R$ 1 bilhão em custos.

Além das projeções, a Oi também estima um crescimento anual composto (CAGR) de média de casas conectadas com fibra entre 2021 e 2024  de 31%. A receita média por casa seria de R$ 94 por mês em 2024, tendo a taxa CAGR no período de 11%.

A companhia também projeta economias de aproximadamente R$ 350 milhões com vendas, marketing e atendimento, R$ 320 milhões na organização e suporte ao negócio, R$ 150 milhões em sistemas e processos de Tecnologia da Informação e R$ 400 milhões com redes e operações.

Fabiano Vaz, analista da Nord Research, avalia que o foco na fibra ótica foi uma boa decisão da companhia, que entendeu o mercado em potencial da fibra, pois a telefonia fixa e móvel estão cada vez mais em desuso.

 “A Oi era uma empresa gigantesca, com diversos serviços e produtos onde ela pecava operacionalmente e, consequentemente, impactava nos seus resultados. Focando na fibra, essa nova Oi vai ser uma empresa muito mais enxuta e vai poder aproveitar para agregar serviços complementares”, destaca Vaz.

Gabriel Tinem, analista de telecomunicações da Genial, também enxerga a fibra ótica como um bom  caminho para os negócios da companhia e cita quatro motivos: segmento altamente pulverizado,  existindo grande espaço para desenvolvimento dentro dele;  necessidade de substituição em vários businesses da tecnologia de cobre para fibra, por proporcionar, além de mais velocidade, maior confiabilidade na conexão; velocidade mais alta, que propicia uma melhor experiência para o usuário, que pode usufruir de diversos serviços; demanda crescente por velocidades maiores acabam aderindo a planos mais caros, ou seja, o ticket médio da fibra é mais alto, o que auxilia nessa linha de receita da companhia.

Matheus Jaconeli, analista de investimentos na Nova Futura investimentos, destaca ainda que, focando em um apenas uma frente, com a fibra ótica, a Oi não precisa mais de tanto endividamento e dispêndio de capital em outras atividades, trazendo melhora na geração de caixa. 

“Adicionalmente, o mercado de fibra ótica teve crescimento de 14% em 2021, com muitos clientes assinando a modalidade. Isso evidencia que é um mercado com potencial de crescimento e, focando nele, a Oi terá a oportunidade de participar de uma importante expansão”, estima Jaconeli.

Desafios

Apesar do fim do processo de recuperação judicial da empresa, Vaz avalia que são muitos os desafios da Oi  e o maior deles é conseguir conciliar o alto investimento na expansão da fibra ótica com o pagamento da dívida, que vai continuar elevada. 

“A empresa vai conviver com esse desafio por alguns anos ainda, até atingir com a fibra um nível operacional e financeiro que proporciona uma forte geração de caixa, se transformando em uma empresa lucrativa e rentável”, avalia Vaz. 

O analista da Nord Research aponta ainda que o grande trunfo da Oi é a sua participação na V.tal, que tem um grande potencial de valorização no negócio de estrutura de fibra, porém, como o percentual da participação da Oi na companhia será menor, Vaz avalia que deve aumentar ainda mais o desafio para a empresa, que terá que compensar essa fatia menor na V.tal através da expansão da fibra no varejo. 

Jaconeli destaca que, mesmo com a venda dos ativos, os desafios da Oi também estão em evidenciar que a nova governança é crível, além de enfrentar um cenário de taxa de juros elevadas, o que dificulta o financiamento para novos investimentos.

Perspectivas

Fabiano Vaz, analista da Nord Research, considera que, apesar dos desafios não terminarem para Oi com o fim da recuperação judicial, as perspectivas para o futuro da companhia são boas. 

“Com o fim da recuperação, a companhia cumpriu e acordou os débitos com seus credores, abrindo a possibilidade de equalizar sua estrutura de capital. Os esforços e foco na expansão da fibra nessa nova Oi deverá ser ainda maior”, destaca Vaz.  

Para Gabriel Tinem, analista de telecomunicações da Genial, a perspectiva para a companhia é que ela se torne uma empresa muito mais focada em serviços e na qualidade de atendimento do que qualquer outra coisa. 

“A parte móvel já foi vendida. No fixo, o controle da V.tal foi vendido para o BTG, sobrando apenas a telefonia fixa, que é obsoleta e traz margens negativas. O que sobra são as conexões finais e os serviços (Cloud, B2B, plataforma digital, etc)”, afirma Tinem.

Henrique Tavares, analista da DV Invest, espera que a companhia possa escalar sua atividade operacional para se tornar competitiva e garantir geração de caixa, com foco na fibra ótica, que, segundo Tavares, representa uma oportunidade de forte crescimento, mas apresenta seus próprios desafios.

“Trata-se de um setor com pouca ou nenhuma diferenciação, com repasse de preços muito difícil, o que é crítico em períodos inflacionários, além de ser um mercado muito competitivo e muito pulverizado entre players menores”, diz Tavares.

Além da fibra, Tavares destaca a que a Oi conta com a Oi Expert e a Oi Soluções, que fornecem serviços de suporte e soluções digitais de dados respectivamente a seus clientes. Segundo o analista, não é esperado que esses segmentos correspondam a uma parte muito significativa das receitas da Oi no curto prazo, mas são estratégias para ampliar o portfólio de produtos da empresa e criar ferramentas de diferenciação entre os pares.

Ação da Oi: vale a pena investir?

Para os analistas consultados pelo InvestNews, não é um bom momento para investir nas ações da Oi.

Matheus Jaconeli, analista de investimentos na Nova Futura investimentos, comenta que o cenário é de risco, o que acaba afetando ativos que passam por momento de mais sensibilidade, com companhias com contas fragilizadas tendo suas ações penalizadas.

Fabiano Vaz, analista da Nord Research, explica que os papéis da Oi vêm sofrendo bastante e, pelas perspectivas que se tem em relação à economia e ao crescimento, os ativos da da empresa ainda devem continuar pressionados. 

“Oi é uma tese de risco, e essas ações sempre sofrem mais nesses momentos. Mesmo com avanços na fibra, os resultados financeiros ainda devem demorar e isso pode ser outro fator que pressione os papéis”, avalia Vaz.

Do lado positivo, o analista cita que a saída da recuperação judicial pode destravar um pouco as ações, já que empresas nesta situação não podem, por exemplo, entrar em índices como o Ibovespa, além de muitos fundos de investimentos, pelos seus mandatos, não poderem investir em companhias em recuperação.

“Apesar dos avanços operacionais, acredito que precisamos entender melhor as perspectivas da empresa com um percentual menor na V.tal, que considerava como o grande trunfo da Oi. E, por isso, recentemente, alteramos nossa recomendação de compra para manter”, diz o analista da Nord Research.

Dalton Vieira, analista-chefe CNPI-T da DV Invest, também avalia que, por hora, é preferível ficar fora do papel, principalmente por não ser possível enxergar um horizonte de geração de caixa saudável para a companhia, o que reforça o risco de novos ciclos de endividamento. 

Como surgiu a Oi?

A Oi nasceu em 1998, com operação em 64% do país, como parte da privatização do sistema Telebrás. A estatal acabou sendo dividida em companhias. Uma delas, a Tele Norte Leste, que passou a se chamar Telemar.

A Telemar foi adquirida por um  consórcio no valor de R$ 3,4 bilhões, que foi financiado por fundos de pensão e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). Com isso, o BNDES e os fundos de pensão se tornaram, ao mesmo tempo, acionistas e credores da Oi.

Com a aquisição, o consórcio passou a fazer a ampliação da empresa, a comprar outras companhias para aumentar a atuação. Porém, muitas dessas empresas possuíam dívidas, o que acabou elevando o endividamento da Telemar.

Em 2002, a Telemar passou a fazer investimentos na telefonia móvel e começou a operar com a marca Oi e, em 2007, ela passou a ser usada em todos os seus produtos. Com isso, a marca Telemar foi extinta e a Oi passou a concentrar todos os negócios. Neste ano, foi criada a Oi Móvel.

Em 2008, a Oi era tida como a “supertele brasileira”. Para ela ser criada, foram feitas uma sériede investimentos na empresa. OBanco do Brasil, o BNDES e a Caixa Econômica realizaram aportes nas ações do grupo na época. Neste ano, a companhia lançou o serviço de telefonia móvel no estado de São Paulo e, em 2009, comprou a Brasil Telecom, formando uma companhia com atuação nacional, assumindo o controle em 2010, e passando a atuar em todo o território brasileiro. 

Depois de um processo de reestruturação societária, em 2012, a companhia teve, pela primeira vez, ações da Oi S.A. negociadas na bolsa de São Paulo e na bolsa de Nova York.

Já no ano de 2013, aconteceu a fusão com a Portugal Telecom, quando as dívidas da empresa pioraram. Estava prevista a entrada de R$ 3,2 bilhões na Oi, o que não aconteceu. O valor estava aplicado em títulos podres em uma subsidiária do banco português no Espírito Santo. Depois da fusão entre as empresas, ela acabou quebrando. Com isso, a Portugal Telecom não tinha caixa para fazer a injeção de dinheiro pretendida. 

Em 2014, a companhia era a única com 100% de fibra ótica nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Em 2015, os ativos portugueses foram vendidos para a empresa estrangeira Altice.

Por que a Oi entrou em recuperação judicial?

Em meio a aquisições de empresas endividadas e o desejo do governo de criar uma “supertele”, a companhia acabou se afundando em dívidas.

Além disso, à época, a telefonia fixa foi ficando de lado à medida que a telefonia móvel passava por transformações e conquistava o mundo das telecomunicações, com os dados móveis passando a ganhar força.

Neste cenário, e de diversas trocas na presidência da companhia, a Oi, que acumulava dívidas que somavam aproximadamente R$ 65 bilhões, pediu recuperação judicial em 2016, com o objetivo de preservar os serviços prestados aos clientes enquanto concluía a renegociação de suas dívidas, garantindo, assim, a sustentabilidade do negócio.

Esse mecanismo permite que a empresa em dificuldade financeira não tenha a falência decretada até que seus credores façam a aprovação de um plano para a empresa sair da situação em que está.

O pedido acabou sendo aprovado em 2017, garantindo a reestruturação da dívida e permitindo a expansão de investimentos com o aumento de capital, com a redução do valor da dívida em R$ 36 bilhões mediante descontos, parcelamentos no longo prazo e troca de créditos em ações.

O juiz responsável por aprovar o pedido apontou o fato de a empresa ser uma das maiores no setor de telecomunicação no mundo, bem como seu impacto na economia do país.

Desinvestimentos

Em operação que já estava prevista no plano de recuperação judicial, a Oi vendeu em janeiro de 2020 a participação que tinha na tele angolana Unitel para a estatal do petróleo Sonangol. O negócio foi de US$ 1 bilhão.

Em setembro de 2020, foi aprovada por credores uma proposta de mudanças no plano. A Oi conseguiu apoio para reestruturar seu negócio e  sair do setor de telefonia e internet móveis para  atuar como uma empresa de infraestrutura de fibra ótica.

A reformulação do plano propunha a venda de torres, data centers, rede móveis e parte da rede de fibra óptica.

Os primeiros leilões para a venda dos ativos da Oi aconteceram sem concorrência.

Em novembro de 2020, a Piemonte Holding fez a aquisição da unidade produtiva isolada (UPI) de data centers. Foi pago o preço mínimo de R$ 325 milhões por cinco data centers localizados em Curitiba, Porto Alegre, São Paulo e Brasília. A venda foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

No mesmo mês, a Highline, por sua vez, arrematou a UPI de torres também pelo preço mínimo de R$ 1,076 bilhão.  Foram vendidos 637 torres e roof tops para o serviço móvel, além de cabos e antenas implantados pela operadora para o sinal de celular em ambientes internos em 222 endereços, dos quais 220 são shopping centers, um é em estádio e outro em hospital. A venda também foi aprovada pelo Cade.

Em dezembro de 2020, um consórcio formado pela Tim, Vivo e Claro arrematou os ativos da rede móvel da Oi por R$ 16,5 bilhões.  A compra dos ativos foi autorizada, com restrições, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Cade. A aprovação foi condicionada ao cumprimento de medidas que diminuam os riscos concorrenciais e que estarão contidas em um Acordo em Controle de Concentrações

Em julho de 2021, foi a vez da participação majoritária na até então chamada Infraco, hoje V.tal, a subsidiária de fibra ótica da Oi, ser arrematada pelo BTG Pactual Economia Real Fundo de Investimento em Participações em conjunto com a Globenet Cabos Submarinos por R$ 12,9 bilhões. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou o negócio sem restrições.

A conclusão do negócio ocorreu em junho de 2022 e os termos da operação receberam ajustes de modo que a participação do grupo BTG na companhia deve chegar a 65,27%, de 57,9% divulgados ao mercado inicialmente.

A Oi continua sendo acionista da V.tal e espera uma valorização de sua participação, com potencial para gerar eventos de liquidez ou capacidade adicional de refinanciamento de obrigações de longo prazo nos próximos 2 a 3 anos, ajudando assim a atender algumas de suas necessidades de caixa até 2025.

A InfraCo é a unidade de negócios criada para concentrar a operação e expansão da fibra óptica da Oi. A nova empresa terá uma rede do tipo “neutra”, que poderá ser alugada para quaisquer outros provedores de internet. A Oi continuará a oferecer banda larga aos consumidores finais, mas na condição de ‘locatária’ das redes da InfraCo.

Além disso, a Oi tem uma dívida bilionária com a Anatel. A companhia fechou um acordo e a agência cortou em mais de 50% a dívida que a operadora tinha junto à União, saindo de R$ 20,2 bilhões para R$ 9,1 bilhões.

A  Oi já realizou durante o processo de recuperação judicial depósitos à agência reguladora. Dessa forma, o valor líquido a ser pago será de R$ 7,3 bilhões.

No seu último balanço, referente ao 1º trimestre de 2022, a Oi divulgou que registrou lucro de R$ 1,782 bilhão, revertendo o prejuízo de R$ 3,038 bilhões registrado no mesmo período do ano passado. Já o lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de rotina cresceu 9,9% no primeiro trimestre deste ano, totalizando R$ 1,252 bilhão.

dívida líquida da companhia ficou em R$ 31,420 bilhões no final de março de 2022, uma alta de 24,8% em relação aos três primeiros meses do ano passado.

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