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Negócios

Por que investidores temem colapso da OpenAI após saída de Sam Altman?

Empresa que desenvolveu ChatGPT tem crise interna que pode colocar em dúvida futuro da inteligência artificial.

A OpenAI, startup pioneira no desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial (IA), teve um fim de semana tumultuado, marcado por acontecimentos que preocuparam investidores quanto à capacidade de sobrevivência da empresa. O que começou com a demissão do CEO Sam Altman, considerado o “pai do ChatGPT”, na última sexta-feira (17), culminou em ameaça de “debandada” de centenas de funcionários.

Em meio a divergências sobre o direcionamento estratégico da empresa, Altman teria sido expulso do conselho de administração, que alegou perda de confiança na habilidade do executivo de continuar liderando a OpenAI. A decisão foi confirmada no sábado (18), de modo que Emmett Shear, fundador do Twitch.it, foi designado para assumir o cargo interinamente.

Sam Altman, CEO da OpenAI. Crédito: Annabelle Chih/Bloomberg

Durante o fim de semana, fracassaram as negociações para tentar trazer Altman de volta à OpenAI – mas as tentativas continuam nesta terça-feira (21). Segundo uma fonte ouvida pela “Bloomberg”, um dos cenários discutidos para seu retorno seria, se não no cargo de CEO, uma nova cadeira de diretor em um conselho temporário.

Sem perder tempo, a Microsoft (MSFT34) anunciou já na segunda-feira (20) a contratação de Sam Altman e do cofundador da OpenAI, Greg Brockman, que havia sido rebaixado do conselho também por motivos vagos, decidindo, então, sair da empresa. 

Altman e Brockman devem liderar a nova equipe de pesquisa avançada em AI da big tech.  Apoiada pelas contratações, as ações da Microsoft subiram 2% no pregão da véspera. Vale lembrar que a empresa detém 49% da OpenAI, mas não tem representação no conselho, o que sugere que a decisão das demissões foi tomada sem o aval dos principais acionistas.

Efeito manada‘?

No mesmo dia, a maioria dos funcionários da OpenAI, entre eles muitos de alto escalão, ameaçaram pedir demissão para seguir o ex-líder agora na Microsoft. A ameaça de uma eventual debandada dos funcionários deixou os investidores preocupados quanto ao risco da até então startup do momento enfrentar um possível colapso. 

Sam Altman, então CEO da Open AI. Crédito: David Paul Morris/Bloomberg

Uma carta assinada por cerca de 700 dos aproximadamente 770 funcionários alega incapacidade “de trabalhar para ou com pessoas que carecem de competência, julgamento e cuidado” com a missão da empresa. O texto diz ainda que a Microsoft “assegurou que há posições para todos os funcionários da OpenAI na nova subsidiária”.

Para o analista da área de pesquisa Next Generation do Julius Baer, Luca Menozzi, os eventos recentes são “um grande revés” para a OpenAI. Ele lembra que, há apenas algumas semanas, a empresa havia alcançado o valuation (capitalização de mercado) de US$ 86 bilhões em meio a negociações para venda de ações. 

“O fim de semana foi caracterizado por acontecimentos caóticos e inesperados na OpenAI, empresa-mãe do ChatGPT e uma das startups de maior sucesso da história”.

Luca Menozzi, analista do Julius Baer.

O que levou à ‘queda de braço

A razão para o rompimento entre Altman e o conselho envolve a direção estratégica que a OpenAI precisa tomar. De um lado, o agora ex-CEO pressionava pelo desenvolvimento de novos produtos e pela inovação acelerada, enquanto, de outro, o conselho queria desacelerar o desenvolvimento e focar na segurança. 

Isso acontece porque a OpenAI é controlada por uma empresa sem fins lucrativos, a OpenAI Nonprofit. Essa estrutura reduz o poder de voto dos investidores de capital de risco (venture capital), que geralmente ocupam assentos no conselho nas companhias que fazem parte de seu portfólio. 

No próprio site da OpenAI, ainda antes dos recentes desdobramentos, consta a frase de que a empresa foi criada para beneficiar “a humanidade, não os investidores” da startup. Como resultado, os funcionários têm até mais poder para pressionar o conselho do que os investidores que ajudam a financiar a empresa.

“Os acontecimentos mostram os riscos de investir em participações minoritárias de startups, uma vez que os investidores não têm voz nas decisões de gestão, apesar dos seus grandes investimentos”.

Luca Menozzi, analista do Julius Baer.

O analista destaca as tensões entre desenvolver soluções seguras de IA e lançar novos produtos para otimizar os lucros e o valor da empresa. 

No fim, os investidores podem acabar vendo empresas inovadoras e em rápido crescimento demitirem fundadores visionários, em um dramático show de palhaços que parece ser tradição no Vale do Silício. Vale lembrar que a Apple (AAPL34) demitiu Steve Jobs em meados dos anos 1980, antes de trazê-lo de volta cerca de uma década depois, enquanto o ainda Twitter dispensou o cofundador Jack Dorsey em 2008, retornando anos mais tarde.

  • Descubra a história de Steve Jobs: o homem que mudou o mundo com a Apple

“Como pode tanta inteligência artificial ser envolta por tanta falta de inteligência humana?”, indagou o estrategista global do Rabobank, Michael Every, em relatório. 

IA em jogo

À medida que a saga da OpenAI pode chegar ao fim, a grande questão é: quais são as implicações desta crise para a inteligência artificial (IA) e para as empresas envolvidas no projeto do ChatGPT? De um modo geral, é esperado algum impacto em toda a cadeia de valor do setor, ainda que de forma mista. 

Segundo a área de pesquisa do Julius Baer, as empresas de semicondutores podem sair vencedoras dessa história, diante da perspectiva de aumento de gastos em infraestrutura de IA. Já a Microsoft, em particular, pode se ver obrigada a gastar mais para apoiar a equipe interna com a contratação de talentos e defender seu investimento na OpenAI.

Ao mesmo tempo, a história envolta no subtema computação em nuvem (Cloud Computing) & IA segue construtiva, avalia Menozzi. “Os investidores existentes devem, portanto, manter suas posições, enquanto os novos investidores devem aproveitar contratempos temporários para construir as suas”, conclui o analista, em comentário. 

*Com agências internacionais

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