Os investimentos feitos pelos brasileiros bateram recorde em 2020. O crescimento de 13,4% em relação a 2019 foi o maior da série histórica iniciada em 2014. Com isso, o volume financeiro acumulado pelas pessoas físicas alcançou R$ 3,7 trilhões, segundo dados divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) nesta quinta-feira (4).
Pela primeira vez, o varejo tradicional foi o segmento com maior variação. O aumento de 20,3% levou o montante aplicado a alcançar R$ 1,2 trilhão. Na sequência, estão os clientes do private, com R$ 1,5 trilhão, resultado 13,5% maior que em 2019. O varejo alta renda veio depois, com variação positiva de 6,7% sobre os recursos do ano anterior, totalizando R$ 1,1 trilhão.
“O aumento recorde dos investimentos dos brasileiros foi impulsionado pela poupança, principalmente pelos depósitos do auxílio emergencial feitos na caderneta”, explicou, por nota, José Ramos Rocha Neto, presidente do Fórum de Distribuição da Anbima.
Fundos de renda fixa perdem espaço
A poupança passou a ocupar uma fatia ainda maior na carteira dos clientes dos segmentos de varejo e varejo alta renda: evoluiu de 40% do total de investimentos, em 2019, para 42,9% no ano seguinte. Olhando para o volume financeiro, são R$ 810,1 bilhões no tradicional e R$ 142,4 bilhões no alta renda, resultados que refletem variações positivas de 22,8% e de 15,5%, respectivamente.
O número de contas que têm dinheiro na caderneta avançou, também com impacto do auxílio emergencial: são 86 milhões no varejo tradicional, o que mostra um crescimento de 30,0%, e 2,9 milhões no varejo alta renda, uma variação de 11,4%. A evolução foi motivada também pela criação de contas para recebimento do auxílio emergencial.
Os fundos de renda fixa, que já estavam tendo resgates desde antes da pandemia, perderam ainda mais participação na carteira dos investidores: corresponderam a 16,1% dos recursos de todo o varejo em 2020, quando eram 23,1% em 2019, e por 5,9% do private, diante de 8,7%, na mesma base de comparação. O volume financeiro do produto teve queda de 28,5% no alta renda, seguida pela retração de 23,3% no private. O movimento se explica pela redução da taxa Selic, que levou à procura por novas alternativas de aplicações que pudessem apresentar maior rentabilidade.
CDBs ganham maior adesão
Outra opção de muitos investidores para a reserva financeira, o CDB (Certificado de Depósito Bancário) ganhou espaço em todos os segmentos: passou de 10% da carteira do varejo em 2019 para 13,6% em 2020 e de 2,6% para 4,3%, na mesma base de comparação, das aplicações do private. O total de recursos aplicados no produto teve maior variação entre os mais ricos: cresceu 90% no private, 72,3% no alta renda e 34,1% no varejo tradicional.
Renda variável salta 79,2%
A renda variável caiu no gosto dos brasileiros em 2020. A B3 bateu recorde de 3,2 milhões de contas de pessoas físicas em dezembro e o varejo tradicional despontou, com evolução de 79,2% no número de contas. “A busca por aplicações com maior possibilidade de retorno fez com que os fundos de ações e também a compra direita de ações se tornassem mais atrativas aos olhos dos investidores. É um desempenho notável, considerando que o Ibovespa ficou negativo em grande parte do ano”, avaliou no comunicado da Anbima.
Crescimento no Nordeste
Outro recorde de 2020, o número total de contas dos investidores cresceu 27,8% e chegou a 105,6 milhões no ano. Vale lembrar que esse número não equivale ao total de CPFs, pois cada pessoa pode ter mais de uma conta. O Sudeste responde por mais de metade do total, com 53,9 milhões de contas, ou 25,5% além do registrado em 2019.
O maior crescimento, entretanto, foi no Norte: a região bateu 6,0 milhões de contas em 2020, 46,6% a mais que no ano anterior. O Nordeste subiu 31,7%, chegando a 21,7 milhões de contas, e o Centro-Oeste avançou 31,1%, alcançando a marca de 8,3 milhões. O Sul responde por 15,7 milhões de contas, aumento de 23% no período.
Novos produtos na estatística de varejo
A letra de câmbio, a LIG (Letra Imobiliária Garantida) e a LAM (Letra de Arrendamento Mercantil) são os três produtos que passam a integrar as estatísticas de varejo da Anbima e respondem por volumes de R$ 1,6 bilhão, R$ 724,8 milhões e R$ 128,7 milhões, respectivamente. “A LIG é um instrumento relativamente novo no mercado e que ajudará no financiamento do setor imobiliário”, explica Rocha.
Os dados da Associação trazem ainda um maior detalhamento de outros três tipos de produtos: títulos públicos, debêntures e ETFs (Exchange Traded Funds). Os papéis do governo federal somam R$ 43,7 bilhões no varejo, divididos em 50,9% de títulos híbridos (indexados pelo IPCA), 29,1% de pós-fixados e 20,0% de pré-fixados.
Entre os R$ 11,5 bilhões de títulos corporativos de dívida, 83,9% são de debêntures incentivadas e 16,1% correspondem a debêntures tradicionais. Já os ETFs acumulam R$ 2,9 bilhões, com a maioria (91,4%) de renda variável.