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Finanças

Dividendos em 2022 e turnaround de sucesso. O tiro da Taurus é certeiro?

Segundo Salesio Nuhs, CEO da companhia, quando um democrata é eleito o mercado de armas fica aquecido por dois anos

Desde que Salesio Nuhs, CEO Global da Taurus, assumiu o controle da companhia em janeiro de 2018, ele apostou com força em um tripé estratégico que permitisse recuperar a confiança dos investidores.

Em processo de turnaround, que deve concluir em 2022, a estratégia vem rendendo seus frutos. No terceiro trimestre de 2020, a fabricante de armamentos teve lucro líquido de R$ 102,2 milhões, revertendo um prejuízo líquido de R$ 26,4 milhões no mesmo período em 2019.

A companhia atingiu oito recordes no seu resultado: maior volume de produção, vendas, maior receita líquida, lucro bruto, margem bruta, Ebitda, margem Ebitda e lucro líquido.

Com uma herança de forte volatilidade, o futuro da ação parece estar mudando e, segundo Nhus, os investidores vão receber dividendos a partir do segundo semestre de 2022.

Dar a volta por cima não foi fruto do acaso, a estratégia de reestruturação da Taurus se concentrou em três pilares:

O primeiro foi a reorganização operacional da companhia, com foco em melhorar a produtividade e logística garantindo ganhos de produção constantes. A empresa começou 2020 produzindo 4 mil armas por dia e encerrou o terceiro trimestre no patamar de 6,9 mil armas/dia, graças as operações no Brasil e na Georgia (EUA). De janeiro a setembro, a empresa produziu mais de 1 milhão de armas, volume que representou 92% da produção em 2019.

O segundo pilar foi a criação de um centro tecnológico Brasil-EUA, unificando engenheiros em ambas as sedes e apostando em inteligência de mercado para conhecer os desejos dos consumidores. Com mão de obra altamente qualificada, Nhus investiu na criação de novos produtos, estes foram responsáveis por 50% do faturamento da companhia nos últimos dois anos. Atualmente o centro tecnológico trabalha no desenvolvimento de uma pistola Microcompacta, com carregador de 12 tiros.

E o terceiro pilar foi a reestruturação global, a companhia trocou o CEO norte-americano no final de 2019, nomeando Bret Vorhess, um perfil mais focado em vendas, além de reestruturar a área comercial globalmente.

Demanda para 7 meses

A Taurus trabalha com dois grandes mercados: os Estados Unidos, onde concentra a sua demanda e o Brasil focado em esporte de tiro e segurança pública. A companhia vai expandir para Índia por meio de uma joint venture entre a companhia e o grupo siderúrgico Jindal.

A Índia é hoje o segundo maior mercado de armas no mundo e com a parceria há forte potencial para o setor de defesa. Em uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas, cerca de 3,7 milhões trabalham na segurança pública e 7 milhões são seguranças privados.

Carlos Daltozo, head de renda variável da Eleven Financial, acredita que 2020 foi um ano atípico para a empresa, um ano de ‘sorte’ que uniu as eleições americanas com a inauguração da fábrica na Georgia, além da escolha de um CEO norte-americano focado em vendas. “No passado, a Taurus se colocava como a opção mais barata, isso gerava prejuízos, eles estão se reposicionando para mudar essa visão”, explica.

Enquanto essa mudança acontece, Salesio Nuhs garante ter certeza sobre a demanda dos próximos meses. “Não há ameaças a curto e médio prazo, temos pedidos para fazer 2 trimestres e meio igual a estes”, afirma.

Em entrevista ao InvestNews, o CEO revelou não estar preocupado com a eleição do democrata Joe Biden. Ele acredita que a demanda deve continuar forte a curto prazo “Sempre que um democrata ganha as eleições, o mercado de armas fica aquecido pelos próximos dois anos”, revela.

Para garantir que não haverá imprevistos nos próximos anos, Nuhs comenta que estudou detalhadamente o plano de governo de Biden e não encontrou efeitos negativos para a companhia. “Ele não está preocupado com armas leves, como a Taurus, e sim com armas automáticas, fuzil e metralhadora”, afirma.

Ainda segundo uma pesquisa da Southwick Associates, 24 milhões de americanos devem comprar sua primeira arma de fogo nos próximos cinco anos. Segundo Nuhs os backorders (pedidos em carteira) fortes são de quase 1,026 mil para os EUA.

No Brasil, a demanda por armas também cresceu, as vendas saltaram 174,3% no terceiro trimestre de 2020 e pela primeira vez superaram os EUA.

Nuhs enxerga potencial no mercado brasileiro, ele afirma que nos últimos anos houve um aumento na procura das pessoas por armas de fogo, especialmente motivada pela carência na segurança pública. No governo de Jair Bolsonaro o acesso a armas foi facilitado, só no primeiro semestre de 2020 foram concedidos 58 mil novos registros para defesa pessoal.

Outra vertente de mercado para Taurus é o tiro esportivo que também está crescendo no Brasil.

Apesar de ser um mercado promissor, ele reclama da burocracia que lhe impede lançar novos produtos em território nacional. “Quando você tem um produto como armas entra em uma fila de 300 para conseguir homologar” desabafa. A saída que ele encontrou para poder entregar ao cliente um novo produto em 4 ou 5 anos foi produzir nos EUA e exportar para o Brasil. “Aqui sempre será a nossa prioridade mas por esses problemas acabamos gerando emprego fora”, diz.

O futuro da ação

Especialistas consultados pela reportagem afirmam que a companhia está em um novo patamar, o que torna mais seguro comprar os ativos. No passado quem investia em Taurus (TASA4; TASA3) estava sempre exposto a uma forte volatilidade, cenário que mudou um pouco com a reestruturação. “Os papéis ainda são voláteis mas nada discrepante com a média do mercado” afirma William Teixeira, head de renda variável da Messem Investimentos.

Nos últimos cinco anos as ações preferenciais da Taurus valorizaram 940,58%. No acumulado de 2020, o papel tem ganhos de 44,74%.

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Um dos motores que favoreceu a valorização do papel foi a eleição de Jair Bolsonaro e o impacto que isso teria no acesso às armas. As ações da TASA4 chegaram a disparar 439% desde o dia 22 de junho de 2018 até o dia 26 de outubro de 2018, último pregão antes da eleição.

Nos EUA, apesar do ‘efeito democrata’ defendido pelo CEO da Taurus, não houve o mesmo impacto com a eleição de Joe Biden. As ações da companhia ficaram lado a lado com o Ibovespa, e no intervalo de 6 a 9 de novembro recuaram 1,43%.

Veja a evolução da ação em 2020:

Daltozo, da Eleven Financial, afirma que a Taurus é um exemplo de turnaround bem sucedido, embora o processo ainda está em andamento e deve concluir apenas em 2022. A companhia conseguiu reduzir seu endividamento, que era um ponto de preocupação para os investidores. No final de setembro a dívida líquida/Ebitda era de 3,1 vezes com R$ 96,4 milhões a vencer no curto prazo. “A situação financeira da companhia realmente mudou de patamar e está mais sólida”, avalia.

No entanto, ele destaca como novo desafio da Taurus equalizar o patrimônio líquido que ainda é negativo. Só após esse processo a companhia terá concluído efetivamente o turnaround.

Nesta segunda-feira (16), as ações fecharam em queda de 1,43%, cotadas a R$ 8,97.

A Eleven Financial acredita na valorização do papel no futuro e ajustou o preço-alvo da ação para R$ 12, reforçando a recomendação de compra. Segundo a casa de análise, a expectativa é que a demanda de produção da companhia chegue a 8 mil armas/dia, puxada por um novo recorde operacional fruto da parceria com a Índia.

Como toda companhia que atravessa um processo de reestruturação, a companhia também tem seus riscos e segundo Daltozo estes são setoriais. “O investidor pode ficar tranquilo porque o processo de turnaround está bem encaminhado”, defende.

Teixeira, da Messem Investimentos, também enxerga potencial de valorização do papel e concorda com a expectativa dos R$ 12. Para ele, a empresa é uma ótima oportunidade para diversificar a carteira por ser a única empresa de armas no Brasil. “É importante ficar atento a variação cambial que afeta a dívida e receita da companhia”, alerta e acrescenta que as vendas nos EUA devem crescer não apenas por ter um democrata no poder e sim pela abertura econômica que isso implica.

Com a dívida domada, Salesio Nuhs está animado com o futuro e aposta suas fichas no programa de subscrição de ações, onde espera converter R$ 260 milhões e reduzir ainda mais a dívida da companhia. “Nossos bônus foram comprados a R$ 5 ou R$ 6, a ação está custando quase R$ 9, dificilmente não exercer o direito de subscrição”, comenta.

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