Enquanto a Black Friday do varejo já é bastante consolidada no país, as promoções do mercado financeiro têm ganhado força. Corretoras, casas de análises de investimentos, bancos e aplicativos estão aproveitando a data para fazer ofertas e conquistar novos clientes. Mas como identificar se a “promoção” vale a pena?
A lista de ofertas é grande: CDBs (Certificados de Depósito Bancário) que prometem pagar mais de 300% do CDI; redução do aporte inicial para investir; taxa zero para transferências internacionais em dinheiro; aplicativos para controles das finanças pela metade do preço; assinatura de análises de investimentos vitalícia e cursos para aprender a investir pela metade do valor são só alguns exemplos.
Viviane Ferreira, planejadora financeira CFP pela Planejar, confirma que a Black Friday voltada para o segmento financeiro, especialmente por parte das corretoras, tem aumentado bastante, principalmente nos últimos dois anos.
Cuidados ao embarcar na ‘Black Friday das finanças’
A especialista considera o movimento positivo, já que é um caminho para estimular a educação financeira. “Antes a Black Friday, era para quem queria comprar coisas e agora a promoção também é para quem quer investir mais”, diz.
Alex Mondl von Metzen, economista da AGR Consultores, acrescenta que o aumento no números de pessoas físicas no mercado de ações, especialmente a partir de 2017, também estimulou as empresas a aproveitarem a data para buscar novos clientes.
“A Black Friday é uma oportunidade pela própria publicidade do evento, que traz mais pessoas para o mercado financeiro, além de ser um pontapé para alguém fazer o primeiro investimento”, explica.
O fato é que o investidor pode encontrar boas opções, mas uma dose de cuidado vale a pena. “É importante prestar atenção nas cláusulas e condições dos contratos”, alerta Frederico da Costa Carvalho Neto, professor de direito do consumidor da PUC-SP.
Assim como ocorre no varejo, o consumidor deve se atentar aos “asteriscos” que, em geral, acompanham as promoções e detalham as condições reais da oferta.
“O código de defesa do consumidor determina que todas as cláusulas restritivas de direito, como valores e prazos, precisam ser colocadas em destaque”, explicou o docente ao apontar que, em alguns casos, essas informações não estão tão perceptíveis, o que pode levar o consumidor a tomar uma decisão equivocada.
Se o consumidor se sentir lesado, ele poderá abrir uma reclamação junto ao Banco Central ou Comissão de Valores Mobiliários (CVM), caso a denúncia envolva instituições reguladas pelos órgãos, como bancos e corretoras. “Também é possível acionar o Procon por conta da publicidade enganosa para aplicação de multa”, reiterou Neto.
O que tem de interessante?
A Black Friday das finanças tem uma série de promoções, e é importante saber identificar as mais vantajosas, segundo Viviane. Ela menciona, por exemplo, casas que diminuíram o valor mínimo de uma aplicação financeira, em especial fundos de investimentos.
A opção abre uma oportunidade de entrada ao investidor que tinha interesse por um determinado investimento, mas, até então, não tinha dinheiro suficiente para fazer o aporte.
Há ainda instituições financeiras que oferecem quantias de R$ 100 a R$ 200 para clientes que investirem por meio delas. “O que pode ser um gatilho para sair do comodismo da poupança e começar a investir melhor”, acrescentou.
Por outro lado, os especialistas alertam que a quantia paga pelas corretoras muitas vezes está condicionada ao valor que o cliente vai aplicar. Há corretoras, por exemplo, que desembolsam R$ 150 para cada R$ 10 mil investidos. Ou seja, a velha máxima de que não existe “almoço grátis” continua valendo, alertam eles.
Há casas de investimentos que oferecem CDBs que pagam mais de 300% do CDI (que são os títulos emitidos por bancos) aos novos clientes – valor bem superior ao que o mercado costuma pagar, que é de 100% a 150% do CDI.
Antes de abrir uma conta em uma instituição financeiro com o objetivo único de ter acesso a uma rentabilidade mais alta, vale um alerta para evitar frustrações. “É preciso identificar o prazo da aplicação e o valor mínimo para entrar, que podem não estar adequados ao que o investidor busca”.
Alguns desses CDBs promocionais oferecidos têm prazo de três meses. Significa que o investidor vai pagar a maior alíquota de Imposto de Renda quando resgatar o dinheiro, que é de 22,5%. Além disso, o valor mínimo para aplicação é de R$ 500 e o máximo de R$ 7 mil.
Vale reiterar que essas informações, em geral, constam nos rodapés das páginas. “E quem passa os olhos na publicidade não vê e acha que pode investir qualquer valor, por exemplo”, alerta o docente da PUC.
A isenção de taxas por parte das corretoras e bancos também merece um olhar atento. “Às vezes, a corretora pode retirar a taxa de custódia por um mês e depois de trinta dias voltar a cobrança normal, por exemplo. Além disso, algumas delas podem isentar taxas que outras instituições já não cobram normalmente”, reitera Viviane.
O economista von Metzen conta que isso pode ocorrer também com as taxas de corretagem. “Muitas corretoras estão aplicando descontos, mas que só são aplicados na primeira semana, por exemplo”.
Promoções que premiam contas com o maior número de transação também são vistas na Black Friday deste ano. “Isso, muitas vezes, estimula o investidor a tomar algum tipo de ação imprudente, como comprar e vender ação em um único dia”, alerta o economista.
Golpes financeiros
A especialista da Planejar também faz um alerta sobre o aumento dos golpes financeiros que podem estar disfarçados durante a Black Friday.
O “Indicador de Tentativas de Fraude” da Serasa Experian registrou um aumento de 10% nos golpes em outubro de 2021, no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Essa alta significa que, a cada 7 segundos uma movimentação suspeita acontece no Brasil.
Além disso, de acordo com o índice, o segmento de bancos e cartões é o que tem a maior representatividade (58%) e que registrou expansão de 16,6% em relação às movimentações fraudulentas detectadas.
Levantamento feito pela CVM, que ouviu pessoas vítimas de fraude, apontou que quando questionados sobre quais aspectos que contribuíram para que tivessem caído no golpe, as respostas mais frequentes foram: aparência do site transmitindo confiança (39,9%), outros familiares/amigos já haviam feito o investimento (38,8%), bom atendimento por parte dos profissionais (35,4%), pequeno investimento exigido (30,9%) e desconhecimento da modalidade do golpe (24,7%).
Um caminho para evitar cair em ciladas, indicam os especialistas, é verificar se a corretora onde a pessoa interessada vai investir seu dinheiro, por exemplo, está cadastrada na CVM.
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