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É hora de fazer previsões erradas para 2022

Para os investimentos no ano que começa, a lição é de que não existe previsão perfeita.

Análise de gráficos

No começo de 2019, último ano antes da pandemia da covid, a média das previsões do mercado para a economia era de crescimento de 2%. Deu 1,1%. O mesmo percentual do ano anterior. Mas o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em março de 2018, projetava alta de 3% tanto para aquele ano como para o seguinte. Para ser justo com o Ipea, o Boletim Focus, com as projeções das instituições financeiras, também falava que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceria 2,7% no mesmo 2019.

E o Ibovespa? Em maio, algumas projeções elevavam o principal índice da bolsa brasileira aos 145 mil pontos no final de 2021. Dezembro terminou com o Ibovespa abaixo dos 105 mil. Uma derrapada de 38% em relação à previsão feita só oito meses atrás – sem contar a queda de 11,39% no acumulado de 12 meses. A inflação, pelo Boletim Focus, ficaria em 3,75% no ano. Os 10,42% do IPCA representam um erro de 178% em relação ao previsto.

Não quer dizer que as projeções dos economistas estejam sempre erradas. O Banco Central, por exemplo, cravou o PIB de 2019 em 1,12%. Errou por 0,02%. Mas, ficando com os equívocos, há duas explicações. Uma óbvia: cenários mudam. Ninguém previu o surgimento da covid e, no começo da pandemia, uma catástrofe econômica parecia a caminho. Se não se concretizou, foi porque os governos injetaram trilhões de dólares para salvar as economias.

Projeções refletem as informações de momento e, dado que ninguém tem bola de cristal, sugerem cenários prováveis, não certezas. Mas economistas também são humanos e, assim como investidores, muitas vezes cometem erros devido ao excesso de confiança, porque querem seguir a manada, alinhando suas projeções a outras parecidas, ou dão mais atenção aos dados que confirmam suas certezas.

Momentos positivos acenam com um futuro excessivamente otimista. Momentos negativos fazem o contrário. Se o cenário era mais róseo meses atrás, hoje, em meio a um 2022 complicado pela inflação em alta e as eleições, o futuro parece sombrio. Em geral, há uma tendência a visões muito mais positivas no começo de janeiro. Mas desta vez predomina o pessimismo geral. O PIB crescerá só 0,42%, segundo o Boletim Focus desta segunda (3).

O ministro da Economia, Paulo Guedes, reclama das projeções negativas. Lembra que economistas erraram o PIB de 2020 – cairia 9%, ficou em – 4,1%. Ignora a lição de que os cenários mudam, preferindo as teorias da conspiração de uma suposta torcida contra que sempre assombram os ocupantes da pasta quando os números são negativos. Mas também tem certa razão. Se tantas previsões não se confirmaram, por que vão agora?

Para os investimentos no ano que começa, a lição é de que não existe previsão perfeita. É preciso dar atenção não só às informações positivas como também às negativas sobre um papel ou empresa, dando atenção aos riscos e ao ambiente econômico. Diversidade de opiniões não fazem mal a ninguém, principalmente naquele momento, em janeiro de 2023 em que você olhar para trás e conferir que muitas delas estavam erradas.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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