Papo Cripto – InvestNews https://investnews.com.br Sua dose diária de inteligência financeira Mon, 12 Jun 2023 14:24:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2024/03/favicon-96x96.ico Papo Cripto – InvestNews https://investnews.com.br 32 32 Os NFTs morreram? Ou finalmente se encontraram? Conheça 4 exemplos brasileiros https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/os-nfts-morreram-ou-finalmente-se-encontraram-conheca-4-exemplos-brasileiros/ Mon, 12 Jun 2023 09:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=489692 O termo do ano de 2021 parece ter sumido do vocabulário popular. Depois da euforia centrada em jogos como o Axie Infinity e imagens de perfil (PFPs) como os Crypto Punks, a derrocada dos preços de cripto levou consigo as valorizações explosivas dos ativos digitais únicos – minando o interesse de boa parte dos investidores.

Os dados do mercado de NFTs não mentem: os US$ 740 milhões negociados em maio de 2023 apresentaram baixa de 78% com relação ao mesmo período do ano passado e o valor médio das transações caiu 83% (CryptoSlam).

Mas a mensagem, aqui, não é de desalento. Muito pelo contrário: o fim do hype fez assentar a poeira sob o que realmente interessa. Foi nos últimos meses que as principais aplicações da tecnologia amadureceram, abrindo portas para que o próximo ciclo se baseie no verdadeiro valor dos NFTs – em lugar da empolgação dos investidores.

Não que a empolgação seja de todo ruim. Foi no biênio 2021-22 que o universo cripto estourou a bolha fintech e alcançou, com o impulso dos NFTs, a graça dos mais variados públicos. Hoje, as aplicações abarcam desde ingressos e imóveis a royalties de música, programas de vantagens e itens de jogos.

Os programas de vantagens têm sido um vetor de destaque para a expansão da tecnologia. O “Yacht Club” proposto pela Yuga Labs, que oferece comunidades e eventos exclusivos para os detentores de um Bored Ape ou Mutant Ape, inaugurou uma nova onda de inovações no mundo dos NFTs.

E o Brasil tem seus próprios exemplos de pioneirismo nesse setor. Em 2023, dois casos tem se destacado:

Surf Junkie Club

Um lançamento de sucesso foi o do Surf Junkie Club, comunidade de surfistas representada por uma coleção de PFPs com 4 mil unidades. Cada “Junkie” participa de sorteios anuais de eventos exclusivos com grandes nomes do esporte, além de ter acesso a vouchers de marcas como Billabong e Evoke.

Além disso, os detentores da coleção fazem parte de reuniões mensais para ajudar a decidir os próximos destinos de viagem, os surfistas profissionais a serem convidados para eventos e outras decisões, como os novos produtos a serem desenvolvidos pela marca.

(Imagem: Reprodução/https://surfjunkieclub.io/)

Club at HashTown

A gestora de criptoativos Hashdex apostou em uma iniciativa semelhante. Lançou, no último mês de maio, uma coleção de obras produzidas por inteligência artificial que representam os direitos de sócio sobre o chamado Club at HashTown.

Os participantes têm acesso a um espaço de coworking com salas de reunião, estúdio de gravação e outras instalações, além de participarem de eventos com curadoria de grandes nomes do meio corporativo e do esporte, como o fundador da Stone André Street e o ex-treinador de vôlei Bernardinho.

(Imagem: Hashdex)

Pistol Birds

Já entre os lançamentos do ano passado, destaca-se a coleção Pistol Birds: vendida pelo braço cripto da Reserva, captou quase R$1 milhão em 24h e continua com uma comunidade ativa, que recebe vantagens exclusivas – desde cursos e peças da marca até imersões e mentoria com um cofundador da Reserva.

A coleção ainda tem características ESG, alinhadas com o perfil da Reserva, como a neutralização das emissões de carbono de cada transação na blockchain e a reversão de parte das receitas para uma ONG de combate à fome.

(Imagem: Reprodução/https://x.usereserva.com/)

Crypto Rastas

Por fim, um projeto lançado em novembro de 2021 segue inovando no setor. A coleção Crypto Rastas ganhou destaque quando o artista Snoop Dogg anunciou que havia comprado uma unidade e encorajou os seus seguidores a apostarem na coleção.

Desde então, o projeto mantém uma comunidade engajada, já estabeleceu parcerias com grandes nomes internacionais da cultura do Reggae e segue oferecendo vantagens exclusivas, como a possibilidade de investir em direitos autorais de artistas como Dada Yute.

Fonte: cryptorastas.com

Conclusão

O potencial dos NFTs tem se mostrado muito superior ao que se podia conceber durante o primeiro ciclo de alta desses ativos. À medida que diferentes aplicações e nichos se aproveitam das vantagens da tecnologia, é de se esperar o fim das barreiras para a economia tradicional e uma grande geração de valor em diferentes setores.

Nesse contexto, o Brasil conta com o pioneirismo de diversas soluções e a sua pujante economia criativa para se manter como um dos maiores centros de desenvolvimento de aplicações de NFTs.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

]]>
Fenômeno GPT: como um chat está mudando o mundo e o universo cripto https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/fenomeno-gpt-como-um-chat-esta-mudando-o-mundo-e-o-universo-cripto/ Mon, 08 May 2023 09:30:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=475472 Oportunidades e riscos

Especialmente na comunidade empreendedora, a ferramenta tem facilitado o desenvolvimento de negócios em um ritmo inédito. Desde a descoberta de oportunidades até a elaboração de programas, planilhas e materiais de marketing, o “estagiário virtual” executa as mais variadas tarefas em poucos segundos.

E os maiores impactos ainda estão por vir…

Nas áreas de atendimento, assistentes virtuais inteligentes poderão substituir os chatbots de hoje por versões mais flexíveis, simpáticas e fáceis de usar – além de ampliar o público graças à grande capacidade de atendimentos simultâneos e ao multilinguismo da solução.

A automação de processos também está “na mira”: a gestão de estoque e finanças, por exemplo, poderá ser facilitada com a integração de tecnologias tradicionais a um analista virtual baseado em inteligência artificial.

Já nos setores de análise e pesquisa, a rapidez com que o sistema processa grandes volumes de dados desbloqueia um grande potencial para produção de resumos e geração de insights.

A ferramenta também oferece riscos, é verdade. A começar pelos trabalhos que poderão ser substituídos, ameaçando o emprego de uma grande variedade de profissionais. Programadores, copywriters, analistas e outros trabalhadores de escritório poderão ter seus números reduzidos.

Outros riscos, mais relacionados ao uso da solução, incluem: vieses e preconceitos contidos nos dados de treinamento do modelo; eventuais indisponibilidades da tecnologia; e resultados pobres ou enganosos, visto que o aprendizado da máquina também está sujeito a uma variedade de erros.

Um último risco, ainda mais importante, diz respeito à segurança de dados: o ChatGPT é alimentado por um grande volume de dados, podendo conter informações pessoais e sensíveis dos usuários – o que traz sérios riscos de violação de privacidade e segurança da informação.

Impactos no universo cripto

O caráter inovador das blockchains e a imparável ascensão do seu mercado propiciam um “match” perfeito com as tecnologias de inteligência artificial.

Os empreendedores e investidores perceberam a oportunidade: já há uma série de funções sendo desempenhadas ou facilitadas pelo ChatGPT, ampliando o potencial disruptivo desse mercado.

No âmbito dos investimentos, um caso de uso demonstrando relevância é a análise de projetos e tecnologias. O ChatGPT tem sido usado para avaliar oportunidades de investimento, encontrar riscos e propor estratégias de investimento.

Já do lado dos empreendedores, a ferramenta tem se aplicado para desenvolver tokens e aplicativos, como carteiras digitais ou plataformas de negociação, além de soluções de segurança, detecção de fraudes e prevenção a ataques cibernéticos.

Nos próximos meses, é de se esperar uma expansão ímpar nas possibilidades do mundo de tecnologia e, mais especificamente, de cripto. Com os efeitos multiplicativos do código aberto e da componibilidade de soluções, é garantido que veremos uma nova revolução no universo das blockchains.

]]>
Bitcoin pode sair mais forte do cenário macro desafiador https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/bitcoin-pode-sair-mais-forte-do-cenario-macro-desafiador/ Thu, 13 Apr 2023 09:30:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=462766 Desde o início de 2022, o bitcoin (BTC) e o mercado cripto encaram uma verdadeira “prova de fogo”.

Isso porque, até o ano passado, as condições macroeconômicas eram favoráveis para uma classe de ativos de alto risco. Principalmente depois de 2010, com taxas de juros próximas de 0%, crescimento do PIB global acima de 2,5% e inflação controlada nas principais economias, não faltava liquidez para a diversificação em ativos com alto potencial.

A pandemia pôs um primeiro desafio nessa trajetória. Entre fevereiro e março de 2020, com as evidências do impacto que seria imposto pela covid-19, os criptoativos seguiram o mercado de ações numa sequência de quedas impressionantes – nos 30 dias até 13 de março, a capitalização de cripto decaiu mais de 50%.

Mas a crise global ainda seria adiada, principalmente com a emissão monetária empenhada nos Estados Unidos e na Europa. Grande parte da liquidez oferecida seria aplicada no mercado financeiro, oferecendo novo fôlego aos mercados de risco – não à toa, cripto e as bolsas não só se recuperaram rápido como alcançariam máximas históricas em 2021.

Foi em 2022 que a conta, de fato, chegou. Com o estouro da guerra da Ucrânia em fevereiro; a progressão na taxa de juros norte-americana a partir de março; e o recrudescimento das disputas econômicas entre EUA e China, com implicações inéditas no comércio e no padrão monetário mundial, ficou clara a transição para um novo ciclo econômico.

E é neste cenário que cripto, hoje, realiza muitas promessas dos seus idealizadores. Veremos, a seguir, o porquê da instabilidade econômica e do enfraquecimento do dólar serem, na verdade, grandes oportunidades para cripto e suas tecnologias.

O bitcoin na guerra da Ucrânia

Notas de rublo russo ao lado de representações de bitcoin (01/03/2022 REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração).

A guerra da Ucrânia trouxe algumas validações importantes para o uso do bitcoin.

Para começar, centenas de milhões de dólares em BTC e outros criptoativos foram doados para apoiar a resistência à invasão. Nesse ínterim, as blockchains demonstraram o potencial do seu caráter transfronteiriço, permitindo transações mais rápidas, baratas e verificáveis em tempo real.

Também foi recorrendo à criptomoeda que muitos refugiados ucranianos conseguiram conservar seu patrimônio. As negociações online (24 horas por dia e 7 dias por semana), independentes de fronteiras permitiram a conversão da sua riqueza para uma moeda que pudesse ser aceita ou convertida em praticamente qualquer país de destino.

Muitos russos também aderiram a esse uso, é verdade. Mas, aqui, o frequentemente esquecido elemento “pseudo” do pseudoanonimato das blockchains mostrou o seu valor. Para impedir que as oligarquias locais contornassem as sanções internacionais à Rússia, os bitcoins que passaram pelas exchanges do país foram rejeitados por diversas instituições do mundo cripto – e, até, por muitos protocolos descentralizados.

O bitcoin na guerra das moedas

Excluída do mercado internacional e com fortes restrições no sistema financeiro, a Rússia ampliou seus laços comerciais com a China para superar o baque econômico.

O novo alinhamento político se refletiu nas reservas russas, que, pelo menos desde 2019, já vinham trocando posições em dólar por euro, yuan e ouro. Mais recentemente, o banco central russo ainda despejou seu estoque em moeda europeia para mitigar a sua exposição ao Ocidente.

O cenário é perfeito para a China, que tem aproveitado cada oportunidade de questionar a hegemonia do dólar. Em um tratado do mês passado, por exemplo, a potência oriental estabeleceu que não haverá mais conversão para dólar nas transações bilaterais com o Brasil.

E outros países veem com bons olhos o enfraquecimento da moeda estadunidense. Índia, Emirados Árabes e Arábia Saudita são algumas das nações buscando alternativas para a precificação de petróleo e gás em dólar, enquanto os BRICS (acrônimo para as cinco principais economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estudam a criação de uma moeda própria.

Mas e o bitcoin nesse meio? A criptomoeda pode parecer pequena nessa briga, dada a sua capitalização de “apenas” US$ 500 bilhões. Mas o BTC não precisa substituir o dólar para mudar de patamar.

O uso em transações internacionais não exigiria mudanças drásticas no comércio para trazer grandes avanços para o bitcoin. Os exportadores que aceitassem pagamentos na criptomoeda seriam incentivados a manter parte da sua riqueza em BTC, o que, por sua vez, significa um estímulo a também vender por BTC.

A exposição ao bitcoin via comércio exterior também abriria caminho para o investimento dos Bancos Centrais (BCs) – já que, para proteger suas balanças comerciais, os exportadores líquidos de BTC precisariam garantir a sua capacidade de compra dos produtos que importam.

E essa seria, sem dúvidas, a conquista mais importante da história do bitcoin: o status de moeda de reserva.

Aqui, claro, caberia uma pergunta: se a chave das disputas monetárias é o uso para transações e reservas, por que um governante trocaria o dólar por uma moeda que ele também não controla?

A resposta, sem paralelo no universo das moedas estatais, é o fato de o bitcoin não ser controlado por ninguém. Substituindo as cotações em dólar por preços denominados em euro ou yuan, por exemplo, um exportador de petróleo ainda está sujeito à política monetária de algum BC.

Mas chega de hipóteses. Vamos ver por que o hedge para inflação é um campo de batalha importante para a principal criptomoeda – e como ela está se saindo.

O bitcoin na guerra à inflação

Para calar os críticos da tese de ativo de reserva, o bitcoin precisa provar que o seu valor resiste à inflação.

Essa tese sofreu duros ataques desde a pandemia. Tendo se tornado mais correlacionado às ações do que nunca, o bitcoin agiu de acordo com a tese de investimento mais geral de cripto: a de ativo arriscado com alto potencial de valorização, andando em desalinho com as escaladas dos preços.

Mas o cenário, hoje, parece estar mudando. Os últimos anos marcaram a entrada de grandes investidores institucionais no bitcoin – incluindo fundos de pensão e outros agentes interessados na tese de longo prazo.

O horizonte temporal desses investimentos, a decrescente importância do varejo e o aumento da clareza regulatória em torno do bitcoin tendem a favorecer um comportamento mais estável na evolução de preços, gerando ainda mais incentivo para o uso como reserva.

A cripto hoje

O bitcoin enfrenta, hoje, desafios que dificilmente teriam sido imaginados em 2008. Na virada de ciclo econômico, com tensão geopolítica crescente e o fantasma da estagflação, a criptomoeda pode finalmente provar que não é mais um ativo de risco.

Para isso, conta com um histórico de solidez tecnológica e crescimento resiliente; com a validação de investidores e instituições do mundo todo; e com o crescimento de um ecossistema cripto cada vez mais maduro.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Veja também

]]>
O que é ‘tokenomics’? Entenda a economia dos principais criptoativos https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/o-que-e-tokenomics-entenda-a-economia-dos-principais-criptoativos/ Thu, 16 Mar 2023 09:30:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=450061 O sucesso de projetos como bitcoin (BTC) e ethereum (ETH) não se deve apenas às suas  tecnologias revolucionárias. A descentralização proposta pelos seus inovadores depende, necessariamente, de modelos econômicos que incentivam a criação e circulação de valor.

Infelizmente, muitos outros projetos falham nesse aspecto. Não é suficiente ter uma tecnologia avançada – é preciso estabelecer dinâmicas atrativas para os indivíduos, instituições e governos.

‘Tokenomics’ do bitcoin

O bitcoin é um exemplo claro: a primeira criptomoeda alcançou a popularidade que conhecemos graças aos incentivos econômicos que oferecem para quem atua garantindo o bom funcionamento da rede.

Satoshi percebeu, em primeiro lugar, que era preciso incentivar os mantenedores da rede com taxas de transação – que, ademais, desincentivam spam. Visando garantir o trabalho desses mantenedores mesmo que a quantidade ou o valor das transações fosse baixo, estabeleceu as recompensas regulares por bloco, custeadas com emissão de novos bitcoins.

E essas recompensas, para incentivar os pioneiros, se fizeram decrescentes ao longo do tempo. Aqui está, talvez, a característica mais valiosa do modelo econômico do bitcoin: a expansão monetária decrescente impõe urgência aos mineradores, permite o famoso teto de 21 milhões de unidades e, assim, a escassez que explica o uso como reserva de valor.

Mais uma sacada importante foi exigir do minerador uma atividade custosa: ao associar a segurança da rede com o custo das operações computacionais exigidas, o Proof-of-Work impõe uma barreira prática às eventuais tentativas de fraudar transações na rede.

‘Tokenomics’ do ethereum

Para expandir as vantagens da tecnologia blockchain, os criadores do ethereum precisaram repensar alguns elementos da economia do bitcoin.

A primeira diferença apareceu ainda antes do lançamento da rede: para captar os recursos que seriam investidos no desenvolvimento do ethereum e do seu ecossistema, 72 milhões de tokens ETH foram emitidos e vendidos ao público.

Mais tarde, esse tipo de captação levaria o nome de Initial Coin Offering (ICO) – ou, mais apropriadamente, Initial Crypto Offering –, tendo sido utilizado por praticamente todos os projetos de peso na rede Ethereum.

A oferta de tokens estipulava, entre outras regras, o destino e o ritmo de gasto desses recursos, aproveitando aprendizados do mercado tradicional como os períodos de lock up e vesting.

Já no que tange a função do token, assim como os usuários do bitcoin pagam taxas em bitcoins para submeter transações na rede, os usuários do ethereum precisam manter saldos em ETH para demandar os serviços dessa máquina virtual.

Mas a função de pagamento do ether é mais restrita. Diferentemente de uma moeda, projetada para permitir toda sorte de negociação, o token de utilidade serve a uma finalidade específica – pagar taxas aos validadores da rede Ethereum.

Essa característica exige flexibilidade para a oferta de ETH. Apesar do forte apelo anti-inflação de boa parte da comunidade cripto, uma escassez rígida de um token de utilidade pode tornar impraticável o pagamento de taxas – e, portanto, a utilização da rede.

Por isso, a oferta de ETH não tem um teto predefinido. Sua escassez é garantida pela queima de parte dos tokens usados para pagar taxas e pelo modelo de consenso utilizado pela rede: o Proof-of-Stake.

Diferentemente da rede bitcoin, em que os validadores são remunerados em BTC por gastos em moeda local – compra, instalação, operação e manutenção dos equipamentos de mineração –, o ‘investimento’ dos validadores do ethereum consiste em abrir mão da sua liquidez.

Os usuários precisam manter tokens ETH travados para atuarem como validadores e, assim, receberem a devida remuneração. Os eventuais problemas que apresentarem, como imprecisão e indisponibilidade, são punidos com a perda de parte da sua riqueza em stake.

Os modelos econômicos e o investidor 

Os dois exemplos acima demonstram a importância de modelos econômicos apropriados para as diversas aplicações da tecnologia blockchain. Com a diversificação das tecnologias e ativos, uma vasta gama de novas possibilidades está sendo implementada.

Cabe ao investidor entender os mecanismos que afetam o valor do seu investimento. E, ao empreendedor, aproveitar os aprendizados até aqui para estabelecer os modelos mais adequados ao projeto que deseja desenvolver.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

]]>
Investir em cripto pode ser seguro agora? 5 dicas para minimizar riscos https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/investir-em-cripto-pode-ser-seguro-agora-5-dicas-para-minimizar-riscos/ Tue, 15 Nov 2022 18:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=383255 O mercado cripto está sob estresse. Mais uma vez, o colapso de empresas não reguladas precipitou uma onda de contágio e desvalorizações pelo setor, desafiando a confiança de muitos investidores.

Por outro lado, os eventos recentes trouxeram à tona o valor das boas práticas de investimento. Veremos, a seguir, algumas dicas que podem mitigar riscos importantes.

1 – Quanto investir em cripto?

O investidor não precisa de uma grande exposição a cripto para se beneficiar com a valorização de longo prazo. O gráfico abaixo demonstra como alocações pequenas em uma cesta de cripto podem ter impacto substancial sobre os retornos de uma carteira diversificada.


Fonte: Hashdex.
Carteira rebalanceada a cada 10 dias, entre 1/1/2017 e 31/10/2022. Os criptoativos são representados pelos índices HDAI (até 31/05/2020) e NCI (a partir de 06/01/2020). Composição do portfólio simulado sem o NCI: 28,5% Multimercados (IHFA) + 20,0% Crédito Privado (IDA) + 17,5% Ações (IBOV) + 15,0% Inflação (IMA-B) + 9,0% Internacional (SPXI 11) + 5,0% CDI + 5,0% Pré-fixado (IRFM1+).

Enquanto contribuem para retornos acima da média, as alocações de até 5% do portfólio ainda podem ser compatíveis com a tolerância a risco de praticamente qualquer investidor.

Fonte: Hashdex.
Carteira rebalanceada a cada 10 dias, entre 1/1/2017 e 31/10/2022. Os criptoativos são representados pelos índices HDAI (até 31/05/2020) e NCI (a partir de 06/01/2020). Composição do portfólio simulado sem o NCI: 28,5% Multimercados (IHFA) + 20,0% Crédito Privado (IDA) + 17,5% Ações (IBOV) + 15,0% Inflação (IMA-B) + 9,0% Internacional (SPXI 11) + 5,0% CDI + 5,0% Pré-fixado (IRFM1+).

Você pode estimar a alocação em cripto mais adequada ao seu perfil comparando o retorno de diferentes composições de carteira no simulador da Hashdex.

2 – Em que criptoativos investir?

Nos anos 1990, um investidor não teria conseguido adivinhar quais empresas de internet chegariam ao vulto do Google (GOGL34) e Amazon (AMZO34): o estágio das tecnologias e mercados não permitia imaginar a complexidade atual do ecossistema nem o valor que cada funcionalidade agregaria para os seus usuários.

Hoje, de forma semelhante, os criptoativos contam com potenciais muito diferentes, determinados pelas suas tecnologias, setores de aplicação e níveis de risco. Por isso, é vantajoso ter exposição a uma gama de ativos.

A diversificação pode ser facilitada por índices, como o Nasdaq Crypto Index (NCI), que selecionam os ativos com base em critérios pré-estabelecidos. Os critérios podem se referir ao nicho de atuação, à liquidez e ao valor de mercado, por exemplo, delimitando os tipos de risco incorridos pelo investidor.

3 – Qual o prazo do investimento em cripto?

A incerteza é natural de um mercado nascente. O estouro da famosa bolha ponto-com criou riscos para a própria existência de empresas como Amazon e Google. Eventos dramáticos como esse alimentaram preocupações de curto prazo, mas não diminuíram o potencial que as tecnologias entregariam nas próximas décadas.

Episódios semelhantes podem ser encontrados em toda a história das tecnologias recentes – em especial, em cripto. Já é bem provado que a queda de alguns players pode transbordar pessimismo para todo o mercado, como nos casos Terra-LUNA e FTX.

Mas o investidor poderá lembrar também das quedas da Mount Gox., exchange que chegou a processar 70% do volume do bitcoin (BTC), e da The DAO, organização autônoma descentralizada criada na rede ethereum (ETC). Em 2013 e 2016, respectivamente, esses eventos tiveram grandes impactos que seriam diluídos pelo tempo.

Preço do bitcoin. Fonte: Coinmetrics.

4 – Como investir em cripto?

Boa parte dos investidores de cripto não contam com as garantias oferecidas por produtos financeiros regulados. Ao investir em exchanges não reguladas ou fazer a autocustódia, eles depositam a sua confiança em intermediários com finanças pouco transparentes – como a FTX e a Binance – ou assumem os próprios riscos de perder permanentemente o acesso aos seus ativos.

Enquanto isso, existem alternativas que trazem os mesmos retornos atrativos, porém com o grau de segurança do mercado de fianças tradicional. É o caso de produtos de investimento regulados como os fundos negociados em corretoras e dos ETFs, que você pode acessar por meio da bolsa de valores.

5 – Quais empresas de cripto são confiáveis?

Aderência à regulação é um critério importante para qualquer empresa financeira. Os padrões de transparência e governança corporativa exigidos pela CVM e pela Anbima são exemplos de práticas vantajosas para o investidor, já que minimizam os riscos corridos.

E depois de tudo isso?

Ciente das características do mercado cripto e do seu perfil, o investidor pode reduzir a sua exposição a riscos desnecessários enquanto aproveita o potencial de longo prazo dos criptoativos. Cabe, para isso, buscar adequar a sua alocação, a composição da carteira e os produtos de investimento utilizados.

Christian Gazzetta é economista formado pela UFRJ e redator da Hashdex, se dedica a aprender e ensinar sobre cripto desde 2017. Estuda métodos de valoração de criptoativos e os setores de DeFi e NFTs.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Veja também

]]>
Factor Investing e momentum: o que são, como funcionam e por que aplicar https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/factor-investing-e-momentum-o-que-sao-como-funcionam-e-por-que-aplicar/ Mon, 10 Oct 2022 09:30:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=372302 A ‘Hipótese dos Mercados Eficientes’

“Os preços descontam tudo”. Essa frase resume uma visão sobre a economia de mercado conhecida como “Hipótese dos Mercados Eficientes” (HME).

Em termos práticos, a HME assume que o preço de um livro, por exemplo, reflete todos os fatores de qualidade, disponibilidade e apelo do produto – e que, portanto, qualquer diferença entre o seu preço e o que ele vale de fato é uma “anomalia” do mercado.

Esse princípio dá base às estratégias de investimento passivo: assumindo que o preço das ações e imóveis, por exemplo, reflete o valor desses ativos, o investidor prefere o retorno médio do mercado a tentar antecipar os movimentos de preço.

Mas é importante atentar às premissas da HME.

Para concluir que os preços refletem perfeitamente o estado do mercado, a teoria pressupõe que as pessoas consigam identificar as forças de mercado que atuam sobre os ativos; quantificar os impactos desses fatores; e reagir da melhor maneira possível – ou, pelo menos, que ajam como se fossem capazes de tudo isso.

Como se pode imaginar, essa ideia está rodeada de questionamentos. O descolamento entre preço e valor das coisas é um fenômeno mais frequente do que os adeptos da HME gostariam de admitir, tendo nas infames “bolhas” os seus exemplos mais flagrantes.

‘Factor Investing’ e as estratégias de ‘momentum

Criptomoeda; bitcoin
Bitcoin | Imagem ilustrativa

Os questionamentos à HME reforçam visões distintas sobre o mercado e, com elas, algumas filosofias de investimento.

Uma corrente importante é a do Factor Investing, ou investimento em fatores, que propõe abordagens sistemáticas. Em vez de apenas refletir o mercado em suas carteiras, esses investidores se baseiam em dados para se antecipar aos movimentos de preço.

  • As estratégias de fatores macro definem suas alocações com base em índices da economia, como PIB, juros e inflação;
  • E as estratégias de estilo são pautadas em atributos dos ativos, como valor, qualidade e momentum.

As estratégias de momentum merecem especial atenção: apresentam resultados superiores à média do mercado em praticamente todas as classes de ativos tradicionais – sua eficácia rendeu, inclusive, o apelido de “premier anomaly” por um dos próprios criadores da HME.

Fonte: Bloomberg

A abordagem é conceitualmente simples: propõe aproveitar a continuidade dos movimentos de mercado montando posições nos ativos com mais tração – ou momentum.

As diferentes explicações para o sucesso dessas estratégias se referem, em geral, a mecanismos de retroalimentação dos movimentos de mercado. Por exemplo: a alta repentina de uma determinada ação atrai a atenção pública, aumentando as probabilidades de mais pessoas investirem nela e, assim, alimentarem a tendência de alta.

Momentum‘ no mundo cripto

Depois de validadas no mercado tradicional por muitas décadas, as estratégias de momentum têm mostrado superioridade também no mundo dos criptoativos.

Em um mercado com pouquíssimos consensos, grandes assimetrias de informação e relevância notável dos investidores de varejo, com sua reconhecida suscetibilidade a efeitos comportamentais como o de “manada”, os investidores de momentum parecem ter encontrado o nicho perfeito para aplicar suas metodologias.

O gráfico abaixo compara os retornos de uma estratégia desenvolvida pela Hashdex com o Nasdaq Crypto Index, o índice passivo do mercado cripto.



Fonte: Bloomberg

O que isso quer dizer?

As estratégias de momentum têm um grande potencial no mercado cripto. Aproveitando algumas características do nicho, podem ajudar a antecipar movimentos de preço e, assim, maximizar os retornos do investidor.

Christian Gazzetta é economista formado pela UFRJ e redator da Hashdex, se dedica a aprender e ensinar sobre cripto desde 2017. Estuda métodos de valoração de criptoativos e os setores de DeFi e NFTs.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Veja também

]]>
Inverno cripto: por que agora pode ser um ótimo momento para investir? https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/inverno-cripto-por-que-agora-pode-ser-um-otimo-momento-para-investir/ Mon, 12 Sep 2022 09:30:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=363462 As baixas do mercado cripto podem afetar a confiança do investidor, principalmente depois de hacks, falhas técnicas ou falências no setor. E é comum que movimentos de preço assustem ainda mais aqueles menos acostumados com a volatilidade.

Mas os momentos de baixa guardam, também, grandes oportunidades. É nesses períodos que os investidores reduzem o seu preço médio de compra e que as próximas soluções se desenvolvem, resolvendo os problemas de ciclos anteriores ou expandindo as fronteiras da tecnologia.

E não é só isso. As blockchains e sua adoção não pararam de evoluir depois das altas de preços e, atualmente, parecem compor um cenário favorável para o próximo ciclo de crescimento.

Adoção institucional

Cripto sempre atraiu a atenção de grandes instituições. A Microsoft (MSFT34), por exemplo, já aceita pagamentos em bitcoin (BTC) desde 2013 e trabalhou com diversas aplicações de blockchain, desde o rastreio de café para o Starbucks até o uso do ethereum (ETH) para combater a pirataria online.

Nos últimos meses, essas interações com a Web3 se proliferaram a um ritmo nunca visto antes.

Enquanto preços despencavam entre setembro de 2021 e junho de 2022, empresas continuaram firmando presença na Web3. Uma pesquisa recente da BlockData mostrou que 40 das 100 maiores companhias de capital aberto do mundo investiram em projetos envolvendo blockchain durante o período, somando cerca de US$ 6 bilhões investidos.

Enquanto isso, o mercado financeiro tem cada vez mais possibilidades para o investimento institucional em cripto. Os fundos regulados, ETFs e a entrada nesse mercado pela BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, são marcos importantes para o reconhecimento dos criptoativos como uma classe de ativos atrativa.

Os governos também estão se posicionando: os últimos meses foram marcados pela inclusão do bitcoin entre as moedas de curso legal de dois países; pela mudança de postura de governos como o russo, que já estuda usar bitcoin para o comércio internacional; e do Reino Unido, que busca se tornar um hub de cripto.

No Brasil, os sinais também são claros. Os reguladores têm acolhido inovações e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem declarado seu interesse em promover a adoção de cripto no país, por exemplo, pela integração do ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi) ao futuro real digital.

Novos caminhos para a adoção do varejo

A evolução entre as instituições também abre caminhos para o varejo.

Com a difusão de produtos de investimento em cripto regulados, como os ETFs da Hashdex, os criptoativos se aproximam da realidade do investidor tradicional e passam a compor o portfólio de um público mais amplo.

Outra vereda sendo explorada é a adoção de cripto como meio de pagamento. Empresas como AMC e Gucci aderiram recentemente, enquanto gigantes de tecnologia se preparam para acompanhar – executivos da Apple (AAPL34), Airbnb (AIRB34), eBay (EBAY34) e Uber (U1BE34) anunciaram estar se preparando para aceitar criptomoedas.

Há, ainda, as empresas que estabelecem infraestrutura para compra e venda de cripto em suas plataformas. É o caso de soluções de pagamento, como Square (S2QU34) e Paypal (PYPL34), mas também de bancos, como o Nubank (NUBR33).

E a adoção do varejo ainda tem muito espaço para crescer: em uma pesquisa da Stellar e Wirex com 10 mil respondentes, 35% deles disseram estar mais inclinados a usar cripto do que no ano anterior; e 52% reconheceram o potencial de cripto como alternativa aos serviços tradicionais de transferências.

Tecnologia

Enquanto evolui a demanda por cripto, a oferta de soluções nesse mercado desbloqueia novas economias.

O “Merge”, transição tecnológica mais importante do ethereum, pode tornar o token ether mais atrativo como investimento e estabelecer uma taxa de juros “básica” para o ecossistema – aquela paga aos validadores da rede.

A decorrente redução do consumo energético da rede ethereum também abrirá as comportas para a demanda de investidores institucionais que seguem diretrizes Environmental, social and Governance (ESG).   

As soluções complementares também podem destravar crescimento: o surgimento dos chamados zk-rollups deve ampliar a capacidade de processamento dos aplicativos em blockchain; e o amadurecimento da Lightning Network, rede de pagamentos construída sobre o bitcoin, permitirá transações em tempo real com taxas praticamente nulas.

A diversificação dos casos de uso também terá sua importância. 2021 e 2022 foram os anos em que cripto “furou a bolha”, atingindo grupos menos afeitos às finanças e à tecnologia, como a classe artística. De 2023 em diante, a renovada comunidade cripto deverá trazer suas experiências “off-chain” para enriquecer o cenário de soluções com blockchain.

Os próximos ciclos poderão ser marcados pelas aplicações cripto na educação, na saúde, na administração pública e em tantos outros mercados ainda pouco explorados, contribuindo para a diversidade e a complexidade do ecossistema.

O futuro

A demanda e as ofertas de cripto não param de crescer. Os últimos meses têm trazido importantes fatores de crescimento que poderão impulsionar os próximos ciclos e, no longo prazo, realizar o potencial de cripto como tecnologia e classe de ativos.

Christian Gazzetta é economista formado pela UFRJ e redator da Hashdex, se dedica a aprender e ensinar sobre cripto desde 2017. Estuda métodos de valoração de criptoativos e os setores de DeFi e NFTs.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Veja também

]]>
Merge do ethereum: a corrida das plataformas está chegando ao fim? https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/merge-do-ethereum-a-corrida-das-plataformas-esta-chegando-ao-fim/ Mon, 08 Aug 2022 09:30:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=353157 Anúncios sobre a transição mais importante do ethereum estão movimentando o mercado cripto. Com indícios de que o “Merge” pode ocorrer ainda em 2022, o token da principal plataforma de contratos inteligentes reverteu, em julho, a tendência de baixa dos últimos meses.

A jornada da escalabilidade do ethereum

A capacidade de processamento do ethereum sempre foi uma preocupação central do mercado cripto. Nos últimos anos, especialmente, o tema ganhou destaque com diversos picos de atividade que levaram ao congestionamento da rede, causando aumentos exorbitantes nas taxas de transação.

Os desenvolvedores do ethereum conhecem bem esse problema e têm um plano para resolvê-lo: um planejamento detalhado que estabelece um passo-a-passo para aprimorar a capacidade de processamento da plataforma, com implementações previstas até 2024.

Em linhas gerais, a ideia é dividir a atividade da rede em unidades menores, chamadas shards. Cada shard irá funcionar paralelamente às demais, de forma a permitir que um número muito maior de operações seja executado em cada período.

Mas, para isso, o ethereum precisa de um novo mecanismo de consenso: como, no sistema de mineração (conhecido como proof-of-work), a segurança da rede é proporcional ao poder computacional dedicado pelos mineradores, a fragmentação da plataforma – e, portanto, do poder computacional dedicado – implicaria uma redução do custo necessário para “atacar” a rede.

A solução escolhida é substituir este sistema pelo proof-of-stake, em que, em vez de gastar grandes quantidades de energia para manter o registro, os validadores aplicam tokens ETH como garantia (stake) do seu bom comportamento. A boa atuação é remunerada com mais ETH, enquanto falhas e tentativas de fraude se punem com a perda de parte do stake.

A transição para este sistema é conhecida como “Merge” (fusão) porque, nos próximos meses, a blockchain do ethereum vai se fundir com a rede proof-of-stake Beacon Chain, criada para assumir a continuidade da rede.

A tarefa não é trivial: o desafio do ethereum se assemelha à troca do motor de um carro em movimento, já que consiste em substituir o seu mecanismo-base sem deixar de atender, por um dia que seja, ao pujante ecossistema que opera sobre a plataforma.

A corrida das plataformas

Enquanto duram as incertezas sobre a jornada do ethereum, dezenas de projetos buscam desenvolver soluções alternativas ou complementares. Cardano, solana, polygon e optimism são alguns exemplos, cada qual com uma tecnologia inovadora e uma comunidade apaixonada.

Cardano, solana e avalanche são alguns dos principais concorrentes, visando oferecer uma infraestrutura semelhante com maior eficiência técnica. A oportunidade destes projetos reside nas limitações atuais do ethereum e na relativa lentidão com que a plataforma líder se desenvolve.

Já Polygon, Arbitrum e Optimism são exemplos de redes construídas sobre a base tecnológica do ethereum – as chamadas soluções de segunda camada. Em vez de concorrer com o ethereum, estas plataformas alavancam a capacidade de processamento da rede.

A rede Polygon é uma plataforma classificada como sidechain, que executa transações de forma independente e faz o equivalente a back ups na blockchain principal, utilizando-a como último recurso de segurança.

Enquanto isso, os chamados rollups são soluções de segunda camada mais “íntimas” da rede principal, que comprimem os dados de cada operação e os registram no ethereum.

Os zero knowledge rollups (ou zk rollups) são considerados a forma mais eficiente dessa tecnologia, ainda sem exemplos em fase operacional, enquanto os roll ups “otimistas” são sistemas relativamente mais simples, atualmente disponibilizados por projetos como arbitrum e optimism.

O vencedor leva tudo? Cenários para o futuro das plataformas

O resultado da corrida tecnológica das plataformas de DApps será determinante para a infraestrutura da economia cripto.

É possível que diferentes plataformas sejam utilizadas para funções específicas – hipótese conhecida como “multi-chain”. Neste caso, comparável ao cenário competitivo das provedoras de internet, as redes poderão se especializar pela sua velocidade de processamento, pela segurança, pela descentralização ou, ainda, por outros fatores.

Jogos virtuais poderão preferir as redes mais rápidas, por exemplo, enquanto a tokenização de imóveis e outras atividades com movimentações vultosas serão executadas em redes com mais segurança sendo providas pelos validadores.

Outro cenário possível é o “winner takes all”, comparável ao cenário competitivo atual das redes sociais – dominadas pelo Facebook –, em que uma blockchain é responsável pela maior parte das operações no ecossistema

Os chamados “maximalistas” do ethereum defendem esta hipótese usando como argumento a dominância da primeira plataforma em relação ao número de DApps e usuários e à confiança depositada pelo ecossistema.

Mas, mesmo com a concentração em uma rede, ainda será possível a coexistência de diferentes blockchains. Alguns especialistas defendem que uma “super blockchain” pode ser usada como base para o desenvolvimento de outras plataformas, combinando a especialização do primeiro cenário com a tese de dominância de uma blockchain sobre as demais.

Sob esta hipótese, mais uma vez, o ethereum aparece como um dos candidatos favoritos: soluções de segunda camada poderão expandir as capacidades da rede e prover funcionalidades específicas para diferentes nichos, enriquecendo o universo de possibilidades sustentado pelo “maior computador do mundo”.

Mas ainda há a chance do ethereum não ser a camada de base da economia cripto. Neste caso, uma plataforma de “camada zero” – como Polkadot e Cosmos – interligaria as diferentes redes exercendo a função conhecida como blockchain das blockchains.

Perspectivas

Algumas notícias das últimas semanas podem favorecer o cenário do ethereum como principal blockchain do mundo cripto.

Declarações da equipe de desenvolvimento da plataforma trouxeram esperança com o último teste para o “Merge” sendo realizado no início de agosto e a transição definitiva da rede principal prevista para meados de setembro.

O co-fundador Vitalik disse, ainda, acreditar que o “Merge” não está incorporado nas expectativas dos investidores e da comunidade, o que sugere uma aceleração do crescimento do ecossistema – e dos preços – nos próximos meses.

Para completar o cenário otimista, uma série de anúncios renovou as esperanças na tese das soluções de segunda camada. Polygon, Matter Labs e Scroll, projetos de soluções complementares do ethereum, divulgaram as suas expectativas de implementação de zk rollups ainda nas próximas semanas.

Christian Gazzetta é economista formado pela UFRJ e redator da Hashdex, se dedica a aprender e ensinar sobre cripto desde 2017. Estuda métodos de valoração de criptoativos e os setores de DeFi e NFTs.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Veja também

]]>
Uma regulamentação governamental para criptomoedas é realmente necessária? https://investnews.com.br/colunistas/plano-b/uma-regulamentacao-governamental-para-criptomoedas-e-realmente-necessaria/ Sun, 17 Jul 2022 23:00:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=346216 Você provavelmente já deve ter ouvido falar de várias propostas de regulação de criptoativos ao redor do mundo. 

Aqui no Brasil, por exemplo, está em tramitação desde 2015 um projeto de lei que pretende regulamentar criptomoedas que, após idas e vindas, revisões e emendas, basicamente coloca as atividades das corretoras desses ativos sob supervisão estatal.

O que acho interessante sobre esse tema é que não importa se você gosta e está familiarizado ou não com o assunto – você provavelmente tem uma opinião sobre a real necessidade de se regular ou não os criptoativos. 

Isso porque, ao meu ver, a opinião que costumamos ter sobre a necessidade do Estado intervir na vida das pessoas vem muito mais do viés liberal ou intervencionista que temos do que do assunto em si. 

Então, é provável que se você for da opinião de que é necessário que o governo intervenha na política de preço dos combustíveis, ao invés de deixá-lo à mercê do livre mercado, também seja a favor de pelo menos algum nível de regulação em atividades que possam, em algum momento, causar um risco sistêmico, como é o caso de exchanges de criptos, que custodiam o saldo de milhões de usuários.

A questão da regulação ao redor do mundo tem, na minha opinião, dois pontos principais e uma conclusão óbvia que pouca gente parece discutir.

Primeiro: existem as corretoras de criptoativos que, dada a natureza da atividade, custodiam criptomoedas e moedas fiduciarias de seus clientes. 

À medida que o mercado foi ganhando relevância, essas corretoras passaram a ter mais e mais clientes e a custodiar mais e mais recursos de terceiros. 

Conclusão: se ao final de 2021 estimava-se um total de algo em torno de 5 milhões de usuários de criptos no Brasil, é bem provável que boa parte deles, mesmo com todas as recomendações de melhores práticas de segurança, deixasse recursos depositados em corretoras. E é justamente aí que mora o problema.

Quando estamos diante de atividades não reguladas, a corretora apenas tem como opção custodiar esses recursos de terceiros em nome próprio. Isso significa que, caso haja alguma ação trabalhista milionária, por exemplo, essa mesma conta poderá ser penhorada para pagar o débito, independentemente de quem seja o real dono daqueles recursos. 

Agora, imagine que haja uma série de débitos dessa corretora e, por consequência, uma série de penhoras em sua conta. Certamente, passado algum tempo, ela poderá ficar insolvente e não honrar com a custódia que fez a todos seus usuários.

Exatamente por causa disso, projetos de lei para colocar sob supervisão estatal quem realiza esse tipo de atividades estão em voga há bastante tempo. 

A primeira que surgiu nesse sentido, salvo engano, foi a Bit License em Nova Iorque, em agosto de 2015. Lembro que à época foi amplamente criticada pela comunidade de criptomoedas ao redor do mundo (que, façamos a ressalva, geralmente carrega a pecha de ter um viés mais libertário), porém “vingou” e permanece vigente até hoje. 

Depois disso, a China, em 2017, decidiu proibir esse tipo de atividades (em um de seus famigerados “China Ban” ao mercado de criptoativos), o que levou ao fechamento da maior corretora de criptoativos da época, a BTC China (BTCC). 

Depois disso, a tese de que seria necessário regular as corretoras de criptos começou a ganhar mais força ao redor do mundo – o que resultou, inclusive, na regulação que vem sendo discutida aqui no Brasil.

O segundo ponto principal de regulações atualmente em discussão é o de regular as chamadas securities (valores mobiliários, em bom português). 

Isso porque existe uma série de iniciativas de cripto, especialmente quando o assunto é tokenização de ativos, que, por não passarem no chamado Howey Test, poderiam ser classificados dessa maneira.

Esse assunto, inclusive, tem causado inúmeras discussões na SEC americana, na CVM brasileira e em todos os órgãos que regulam o mercado de capitais ao redor do mundo. 

Não porque seria per se ilegal emitir um token representativo de uma ação, por exemplo, mas porque, ao fazê-lo, o responsável deveria seguir uma série de normativas emanadas por esses órgãos, o que tornaria o processo de captação de recursos públicos feitos dessa maneira muito menos intuitivo, mais burocrático e caro. 

O contraponto a isso é que toda oferta pública precisa ser absolutamente transparente aos potenciais investidores e dar todos os disclaimers de risco. Assim, munido dessa informação, ele pode decidir se quer ou não investir. 

E, obviamente, quase todos os projetos de tokenização que decidem burlar as regras relativas ao mercado de capitais ou não querem, ou não estão preparados, para oferecer toda essa gama de informações obrigatórias.

A conclusão óbvia, que pouco tem sido discutida, é de que em nenhum dos dois casos estamos falando de “regular as criptomoedas”, mas sim de regular algumas atividades relativas a esse mercado.

É importante que se entenda isso, pois, ao meu ver, as criptomoedas verdadeiramente descentralizadas, como o bitcoin (BTC), são absolutamente “irreguláveis”.

Isso porque, ao confiarem seu processamento a uma rede da qual ninguém é dono, não existe autoridade central no mundo que possa impor uma norma que vá ser automaticamente aplicável ao protocolo. A tecnologia é não governamental e, olhando por essa perspectiva, absolutamente libertária.

É exatamente por isso que não sou necessariamente contra as regulações que vêm sendo discutidas pelo mundo. São governos fazendo seu papel de proteger os cidadãos de risco sistêmico de corretoras ou de ofertas públicas não autorizadas de valores mobiliários. 

Existem vários porquês, como expliquei acima, para essas normas existirem, todos eles pautados no fato de que os cidadãos em geral não possuem meios para se protegerem sozinhos de eventuais falhas nesses serviços ou ofertas.

A questão toda, portanto, não são as criptomoedas, mas sim o quanto o Estado deveria assumir esse papel de ser um “estado-babá” para proteger as pessoas. Esse é o verdadeiro debate. Qual é a sua opinião?

Antes de ir, convido você a entrar no meu grupo do Telegram, onde envio novas informações e vídeos sobre criptoativos.

Até a próxima semana.

*Helena Margarido é especialista em blockchain e moedas digitais e sócia da Monett

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

]]>
Ethereum Name Service ocupa 1ª posição no ranking de volume dos ativos únicos https://investnews.com.br/colunistas/papo-cripto/ethereum-name-service-ocupa-1a-posicao-no-ranking-de-volume-dos-ativos-unicos/ Mon, 11 Jul 2022 09:30:00 +0000 https://investnews.com.br/?p=343960 Nas últimas semanas de junho, já em um cenário de baixa atividade no mercado de NFTs, uma coleção reconquistou a atenção do público. Com seu volume semanal de negociações na casa de US$ 1 bilhão, o Ethereum Name Service (ENS) chegou a ocupar a primeira posição no ranking de volume dos ativos digitais únicos.

E essa não é uma coleção qualquer: diferentemente de outras ilustres, como CryptoPunks e Bored Ape Yacht Club (BAYC), que têm uma oferta limitada a 10 mil unidades, o ENS já soma mais de 1,4 milhão de NFTs e não tem limite para a sua oferta.

O que é o ENS e qual o seu valor para a comunidade cripto?

O Ethereum Name Service é um análogo do Domain Name System (DNS), o mecanismo que registra os sites da internet que conhecemos – como hashdex.com e google.com.

O DNS serve para facilitar a nossa busca por páginas da internet: representa o código numérico que o computador usa para encontrar os sites – 66.102.0.0, no caso do google – com texto, o que simplifica muito a nossa navegação.

O ENS tem a mesma função. É usado para identificar sites e contas registradas na blockchain, de forma a substituir os complexos endereços originais das plataformas. Vejamos, abaixo, um exemplo da simplicidade trazida por esse sistema:

Endereço do Vitalik Buterin, co-fundador do Ethereum: 0xd8dA6BF26964aF9D7eEd9e03E53415D37aA96045

ENS associado a esse endereço: vitalik.eth

Assim como não há dois sites com o endereço google.com, os endereços ENS são ativos únicos sem qualquer chance de duplicação, registrados na forma de NFTs.

A demanda pelo ENS

Esses endereços são um passo importante para facilitar a experiência do usuário final de blockchains: reduzem o tempo e o esforço necessário para se encontrar um site e são fáceis de memorizar e de conferir, o que também contribui para a redução de riscos na navegação.

É por isso que a comunidade tem se empenhado em encontrar os endereços estratégicos. Grandes marcas, como Puma (puma.eth), Budweiser (beer.eth) e Gucci (gucci.eth) são alguns exemplos de pioneirismo nessa nova frente do mundo cripto, já contando com algumas iniciativas na Web3 e no metaverso aplicando endereços ENS.

Mas não é só para a utilização imediata que esses endereços estão sendo comprados: assim como ocorreu nos primórdios da internet, muitos investidores, vislumbrando uma futura “corrida” por certos endereços, estão agregando esses ativos à sua carteira para revendê-los com prêmio.

Um exemplo desta corrida foi a compra do endereço 000.eth, no último dia 3 de julho, por 300 ETH (cerca de US$ 344 mil). A transação contribuiu para um dos maiores picos de atividade da coleção e ajudou a atrair a atenção da mídia e de outros investidores, instigados a encontrar oportunidades equivalentes de lucrar com os endereços ENS.

O que determina o valor de cada endereço ENS?

Como o principal valor desse sistema é a simplicidade e os nomes curtos são, naturalmente, mais escassos, a ferramenta precifica a criação dos endereços de acordo com o número de caracteres.

000.eth, por exemplo, foi criado mediante um pagamento de US$ 185 e a sua renovação anual custa US$ 640, enquanto o endereço nome-bastante-grande.eth pode ser registrado por “apenas” US$ 23 e renovado por US$5 ao ano – custo praticamente equivalente ao de renovação de um DNS no site godaddy.com.

A escassez dos códigos numéricos curtos tem justificado, inclusive, um clubismo dos detentores de endereços de 3 ou 4 dígitos, conhecidos como 999 Club e 10K Club, com os preços dos NFTs sendo negociados acima de 22 ETH e 2 ETH, respectivamente.

Esses usuários podem ainda não ter clareza de todas as vantagens a serem trazidas por esses códigos, mas demonstram estar convictos de que os altos custos vão valer a pena.

E como o ENS é administrado?

De forma semelhante a grandes aplicativos de finanças descentralizadas (DeFi), como MakerDAO e Uniswap, o Ethereum Name Service é governado de forma descentralizada pela sua comunidade.

Os detentores do criptoativo ENS detêm o direito a voto sobre as taxas de registro e outras regras do sistema, o que cria um incentivo para que os maiores interessados na funcionalidade mantenham uma parte da sua riqueza aplicada neste ativo.

O que esperar do ENS? 

O ENS é uma ferramenta-chave para a popularização da Web3. A facilidade e a redução de riscos que este sistema traz irão permitir uma adoção mais rápida dos criptoativos e dos aplicativos descentralizados, impulsionando, também, o valor do ecossistema cripto.

À medida que os usuários e as empresas registram os seus endereços ENS, é de se esperar um aumento na percepção de valor da solução e, por consequência, do criptoativo ENS dos próprios endereços.

Christian Gazzetta é economista formado pela UFRJ e redator da Hashdex, se dedica a aprender e ensinar sobre cripto desde 2017. Estuda métodos de valoração de criptoativos e os setores de DeFi e NFTs.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

]]>