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Aceite: vai ter volatilidade, sim

Volatilidade faz parte do mercado, e investidores precisam aprender a lidar com ela ao invés de tentar evitá-la.

Gráfico de ações

Janeiro foi um mês e tanto, não é mesmo? Quem, lá em dezembro, poderia dizer que viveríamos a montanha russa que vivemos – muito especialmente com o retorno do Brasil aos holofotes dos investidores internacionais?

Em meio a isso tudo, volatilidade foi a palavra da vez. Mesmo de gestores profissionais, ouvi certa surpresa com o comportamento do mercado ao longo desse período.

O que em nada me surpreendeu foi que o momento tenha servido para reacender um questionamento frequente por parte de pequenos investidores, em minhas interações em redes sociais: ‘como lidar com a volatilidade?’.

Oras: a volatilidade faz parte do jogo em todos os mercados de investimento – tal qual o risco, frequentemente apontado como seu sinônimo (adianto-me em discordar…). Ao investidor restam como alternativas ou aprender a enfrentá-la ou recolher-se a oportunidades onde a vol é menor – e não há nenhum demérito nisso.

Mas quando se fala especificamente do universo das ações, que segue sendo o magneto mais intenso dentre seus pares, a afirmação é patente: a volatilidade média do Ibovespa é da ordem de 25% a.a. Isto significa que sua carteira pessoal terá uma volatilidade de magnitude similar a essa – talvez um pouco mais, talvez um pouco menos, mas definitivamente não será 5, não será 0.

Renda variável tem volatilidade. Ponto final. Ou você se acostuma com o fato, ou esse mercado simplesmente não é para você.

Frequentemente me deparo com pequenos investidores fantasiando com estratagemas capazes de mitigar de maneira relevante (na verdade o sonho é zerar) a tal da vol. De tempos em tempos voltam à tona os discursos em torno de seguros, proteções… 

Serei curto e grosso: ter 1 ou 2% do seu portfólio em ouro não vai compensar a vol de 40% em renda variável. Ter 3% do portfólio de RV investido em opções também não. No primeiro caso, uma suposta correlação inversa da commodity com os mercados de risco não assegura uma resposta hidráulica a cada solavanco dos ativos de risco.

No segundo caso, o problema é de dimensionamento: as posições em derivativos precisariam ser substanciais para, de fato, terem a chance de neutralizar a vol. Na prática, o tal seguro se torna profundamente antieconômico. Parafraseando Peter Lynch, muito mais dinheiro já se perdeu preparando-se para crises do que nas crises em si… 

Mas vou além: esses recursos sequer são necessários. Presume-se que o investimento em renda variável seja de longo prazo. Por que, então, gastar tempo, dinheiro e energia tentando domar os movimentos curtos? Um investidor disciplinado não deveria estar preocupado com a volatilidade inerente ao mercado, mas sim com as mudanças estruturais dos fundamentos das empresas nas quais investe.

O problema, é claro, é que a vol é perfeitamente palpável. Em torno dos fundamentos, a discussão é inerentemente esotérica. Difícil não ceder à tentação de acompanhar cotação e cotas dia após dia, não é mesmo?

Mas a capacidade de olhar para além dessas oscilações faz, sim, parte do conjunto de atributos necessários a esse jogo.

Aceite: vai ter vol sim. Se ela lhe é fonte de irremediável desconforto, a solução é ter menos de ativos voláteis. Se metade do seu patrimônio oscilando é muita coisa, exponha-se em 25%. Se um quarto ainda é muito, vá para 10%. Ou simplesmente largue de mão.

Mas entenda que, a partir do momento em que você decide se lançar a investir, a vol faz parte. Sempre fará.

Até a próxima.

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. 
Twitter: @_rschweitzer; Instagram: @ricardoschweitzer

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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