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Ei, influencer: vamos parar de baixaria?

Briga por audiência tem incentivado cada vez mais promessas de dinheiro fácil, assim quem perde é o público investidor.

Imagem ilustrativa | Unsplash

Talvez não seja tão evidente para o público em geral, mas criação de conteúdo – seja sobre investimentos, seja sobre qualquer outro tema – é um negócio. Com exceção de seus amigos e familiares, toda aquela turma que você segue no Instagram está lá (semi)profissionalmente, engajada em construir autoridade sobre determinado assunto para, de alguma forma, monetizar uma bem-nutrida audiência.

O que estou falando vale para Instagram, vale para YouTube, vale para Tiktok… vale para qualquer lugar. Existe uma batalha por audiência, engajamento, click, inscrição. Não é de graça que nenhum vídeo começa sem aquela mendigada básica por joinha, inscrição, sininho… não é de graça que toda postagem do insta pede para curtir, mandar para amigo, salvar. Estas são todas estratégias que visam, em última instância, influenciar os algoritmos por trás de cada serviço de forma a fazê-lo entender que aquele conteúdo é relevante e deve ser mostrado para mais pessoas – que, por sua vez, também vão curtir, se inscrever, etc… aumentando (ainda mais) a audiência do criador de conteúdo.

O grande problema é que, com a enorme profusão de criadores, a concorrência nesses meios fica cada vez maior. E, para contornar o fato, as opções são produzir com mais qualidade, ou produzir com mais apelo.

Qualidade é difícil. Dá trabalho. Já o apelativo… 

A tática é velha. Todos os programas mais popularescos de TV estão aí para demonstrar que funciona. Atire a primeira pedra quem não lembra do para para para – depois dos comerciais… do João Kléber, logo antes da revelação do desfecho do infame “teste de fidelidade”.

O problema são os resultados: uma coisa é misturar educação financeira com banheira do Gugu preservando o conteúdo; outra é fazer a coisa parecer mais fácil ou mais simples do que efetivamente é, deformando por completo as expectativas do público em relação ao investimento.

Isso não é educação financeira. É deseducação. Em troca de likes, inscritos, monetização de vídeos, etc. Isso é baixo; rasteiro; indigno.

Somos um país gigantesco, com enormes desigualdades socioeconômicas. Uma enorme parcela da população brasileira está longe de poder investir. No afã de atingir objetivos mesquinhos de audiência, criadores de conteúdo estão levando pessoas em situação vulnerável a acreditar que resolverão seus problemas financeiros investindo dinheiro que não têm para obter retornos imaginários em prazos exíguos.

Mesmo entre o estrato privilegiado que conta com poupança, a tradição brasileira de investimentos é ruim: décadas de economia claudicante e planos econômicos desastrosos resultaram em forte preferência por investimentos de baixíssima rentabilidade e a visão de que qualquer coisa extra-muros é jogatina, cassino, coisa de malandro. A produção de conteúdo rasteiro só serve para reforçar esse estereótipo injusto.

Por fim, a perversão dos incentivos ainda pode empurrar investidores mais audaciosos a verdadeiras ciladas decorrentes da total falta de compromisso do criador para com os resultados do que prescreve a boca pequena. Todo mundo sabe muito bem o que a audiência faz com aquelas postagens que falam de boas ações para estudo e terminam com não é recomendação de compra. É um deboche sem fim. É o vale-tudo pelo like.

Tenho para mim que é questão de tempo até que se fale em regular isso tudo – o que, ao meu ver, é uma não-solução, porquanto inevitavelmente ineficaz. 

Todos perdem.

Então, faço um apelo às vossas consciências, influenciadores: o seu conteúdo está a serviço do seu público ou do seu próprio bolso? Vamos parar com a baixaria?

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. 
Twitter:@_rschweitzerInstagram:@ricardoschweitzer

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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