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Ricardo Schweitzer

Qual é a sedução da próxima ‘grande coisa’?

Em meio às coqueluches em torno de metaverso, NFTs e outros bichos, maiores taxas de juros empurram o smart money… de volta ao tradicional.

Ilustração de pessoas com dinheiro, tema sobre fundos de investimento

Eu corro o sério risco de ser alvo do meme do “velho que grita contra o bitcoin” por escrever esse artigo, mas não tem problema, eu não estou aqui para agradar ninguém.

A velocidade com que a informação é disseminada atualmente é uma verdadeira bênção. No contexto específico dos mercados, entretanto, ela pode criar certa distorção de percepção da realidade à qual estou permanentemente atento: podemos, se desavisados, cair na tentação de achar que as coisas do mundo real acontecem na mesma velocidade que se passam na tela do homebroker – e, definitivamente, não é assim.

Essa velocidade parece ainda maior quando levamos em conta os efeitos das redes sociais na disseminação da informação. Sejamos bastante sinceros: é altamente provável que você nunca tenha ouvido falar em metaverso antes de meados de outubro passado, quando o Facebook (FBOK34) anunciou sua mudança de nome. Da mesma forma, é altamente provável que você só tenha ouvido falar em NFTs depois da febre dos tokens do Bored Ape Yacht Club. Por fim, é altamente provável que você – como eu – ainda carregue a sensação de que o que você já sabe acerca desses fenômenos é um grão de areia em relação ao que ainda há por ser sabido.

Tudo isso potencializa um fenômeno ainda mais antigo, que é a nossa incessante busca pela próxima grande coisa, o famoso “agora é a vez de…”, a partir do qual sonhamos ficarmos todos ricos. Isso permeia o imaginário coletivo quando o assunto é investimentos, imagine: um belo dia encontramos a grande tacada que nos permite a libertação dos grilhões do trabalho e das obrigações mundanas rumo a uma vida perfeitamente instagramável.

Por último, mas não menos importante, nossa visão de investimentos está permeada pela multiplicação, nos últimos anos, de negócios disruptivos, cujo foco primário foi crescimento, sem preocupações imediatas com sua sustentabilidade de longo prazo, com investidores dispostos a pagar por crescimento. E lucro e geração de caixa parecem ter virado coisa do passado.

Esses últimos parágrafos, talvez, sejam um bom resumo do atual paradigma do mundo dos investimentos. E, a depender de há quantos anos você se vê imerso nesse mundo, é bastante provável que seja o único paradigma que você até então conheceu. Este é o seu normal; o seu status quo.

Pois bem, permita-me sugerir que esse status quo nasceu de um contexto específico que, talvez, esteja prestes a mudar – e, com ele, todo o paradigma no qual nos vemos por ora inseridos.

Do que eu estou falando?

Todo esse contexto de investimento em crescimento a perder de vista, inovações disruptivas com perspectivas de retorno incerto, etc, viu grande parte de sua aceleração em um mundo de baixíssimo custo de capital, que se estabeleceu há cerca de uma década e meia atrás, no pós-crise de 2008. 

Os estímulos monetários postos em marcha por bancos centrais mundo afora – com destaque, por óbvio, para o Federal Reserve e o Banco Central Europeu –, em conjunção com a aceleração constante da inovação tecnológica, criaram um ambiente altamente propício para experimentação: quando recursos para financiamento são abundantes, o custo de oportunidade de se testar coisas novas e grandiosas se torna muito baixo. 

Grande parte das inovações nas quais nos vemos imersos hoje surgiu nesse contexto.

Qual é o risco do momento?

Com a aceleração da inflação e a sustentação da atividade econômica, economias centrais (EUA, notadamente) caminham para a retirada de estímulos, que há de resultar na elevação dos custos de capital. Com o dinheiro deixando de ser quase de graça, alternativas de investimento mais conservadoras e recobram atratividade e voltam a disputar recursos com ativos de maior risco.

Em uma visão simplista de mundo, a disputa é entre renda fixa e ações. Em uma versão atualizada e com maior granularidade, temos diferentes subclasses de ações (renda, valor, crescimento, etc), outros ativos (e.g. criptoativos) e a nova fronteira (metaverso, NFTs e tantas outras inovações).

Enquanto somos bombardeados – principalmente via redes sociais – com informações a respeito da próxima grande coisa, o smart money põe na balança os retornos mais atrativos daquilo que já lhe é conhecido vis a vis a incerteza do futuro. Já parece haver, principalmente no mercado americano, uma rotação de portfólios de ações, com redução de participação de growth em favor de value. Negócios “chatos” e estáveis parecem estar voltando à moda.

Enquanto isso, todas as atenções estão voltadas para o próximo famoso que vai comprar um Bored Ape – muito provavelmente porque o retorno do buzz que a compra gera ultrapassa o desembolso da compra e, portanto, é primariamente investimento em marketing.

A minha pergunta para você é: será que seu portfólio está preparado para um mundo de juros mais altos? Ou será que mais parece uma coletânea de modinhas do momento que, talvez, só tenham razão de ser em um mundo no qual dinheiro é quase de graça?

Até a próxima.      

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. 
Twitter:@_rschweitzerInstagram:@ricardoschweitzer

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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