Os economistas Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan publicaram nesta quinta-feira (17) uma carta aberta ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na Folha de S.Paulo, em que alertam para o risco de se subestimar reações adversas dos mercados financeiros a medidas que vão contra a responsabilidade fiscal.
A carta dos economistas, que anunciaram voto em Lula no segundo turno da eleição presidencial contra o atual presidente Jair Bolsonaro, veio depois que o petista voltou a criticar nesta quinta-feira a regra do teto de gastos e desdenhou das reações do mercado financeiro a suas falas.
“Ah, mas se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Paciência. Porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia”, disse Lula mais cedo em discurso no Egito, onde está participando da COP27.
Em resposta às declarações do presidente eleito, Fraga, Bacha e Malan disseram que “a alta do dólar e a queda da bolsa não são produto da ação de um grupo de especuladores mal-intencionados” e que “a responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social”.
“É preciso que se entenda que os juros, o dólar e a bolsa são o produto das ações de todos na economia, dentro e fora do Brasil, sobretudo do próprio governo”, continuaram os economistas na carta, afirmando que “dólar alto significa certo arrocho salarial”, causado pela inflação que vem a reboque, e que a bolsa é importante fonte de investimentos, mas um canal que “anda entupido”.
“São todos sintomas da perda de confiança na moeda nacional, cuja manifestação mais extrema é a escalada da inflação. Quando o governo perde o seu crédito, a economia se arrebenta. Quando isso acontece, quem perde mais? Os pobres!”.
A carta dos economistas trouxe críticas à PEC da Transição almejada pelo governo eleito, cuja minuta apresentou proposta de excepcionalizar do teto de gastos R$ 175 bilhões para o pagamento do Bolsa Família a partir de 2023, sem um prazo determinado. Eles destacaram que a PEC, os discursos de Lula e suas nomeações recentes sugerem que seu histórico de disciplina fiscal “não basta”.
“O teto, hoje a caminho de passar de furado a buraco aberto, foi uma tentativa de forçar uma organização de prioridades. Por que isso? Porque não dá para fazer tudo ao mesmo tempo sem pressionar os preços e os juros… Hora de tomar providências, sob pena de o povo outra vez tomar na cabeça”, disseram eles na carta.
Bacha e Malan foram responsáveis pela formulação e implementação do Plano Real e comandaram, respectivamente, o BNDES e Ministério da Fazenda durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Armínio foi presidente do Banco Central entre 1999 e 2003, no segundo mandato de Fernando Henrique.
O dólar chegou a saltar para acima de R$ 5,50 mais cedo nesta quinta-feira, enquanto o Ibovespa tombava, reagindo à proposta de gastos extra-teto da PEC e às alfinetadas de Lula contra os mercados. Os juros futuros, por sua vez, dispararam.
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