A decisão do governo Lula em reverter a decisão de 2019 do então governo Bolsonaro quanto à extinção da exigência de visto para turistas da Austrália, Canadá e Estados Unidos passaria a valer no próximo dia 10 de janeiro, mas foi adiada para abril, em função da alta temporada no turismo. Nos mais de 4 anos em que a medida inédita foi adotada, não foi registrado crescimento no turismo brasileiro.
O ex-presidente Jair Bolsonaro suspendeu em junho de 2019 a exigência de visto para canadenses, australianos, americanos e japoneses, alegando que facilitaria a entrada de mais turistas no Brasil, desconsiderando o princípio de reciprocidade usado na diplomacia – quando entre ambas as partes há ou não a exigência.
Dados da Polícia Federal divulgados pela Embratur apontam que 2023 registrou 4,8 milhões de turistas internacionais no Brasil, número inferior a 2018 e 2019 (antes do decreto e da pandemia por covid), quando um total de 13 milhões de estrangeiros desembarcaram no país.
Para base de comparação, os anos de 2020, 2021 e 2022 acumularam juntos o volume de turistas registrado em 2019 (6,4 milhões).
Visitantes da América do Sul, em especial, argentinos, foram maioria nos últimos cinco anos, seguidos por americanos e europeus. A presença de asiáticos é mais tímida, mas ainda maior do que a de africanos.
Os Estados Unidos foram o segundo país com mais emissores de turistas para o Brasil; o Canadá foi o 16º e a Austrália, 20º.
A medida que passa a exigir o visto dos três países era para ter entrado em vigor em 1º de outubro do ano passado, mas o prazo acabou sendo prorrogado por duas vezes. O Japão, que também seria afetado, fez um acordo de isenção mútua de visto para estadias de até 90 dias com o governo brasileiro.
Conforme apurado pelo InvestNews, representantes do setor de turismo viam com apreensão a nova medida, apontando que seria um “retrocesso para a indústria de turismo nacional como um todo”.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional), Manoel Linhares, apontou que não era razoável balizar a decisão levando em consideração os dados de entrada de turistas estrangeiros nos anos marcados pela pandemia e que a decisão em liberar a entrada de estrangeiros no país foi a consolidação de um pleito de décadas do setor de turismo.
No entanto, em todo 2023, 4,8 milhões de turistas adentraram no país, ante 6,6 milhões em 2018, e 6,4 milhões em 2019.
As secretarias de Turismo de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul foram procuradas para comentar a decisão, uma vez que são a principal porta de entrada para estrangeiros desde 2018.
O Centro de Inteligência da Economia do Turismo (CIET) de São Paulo estima que em 2023, o estado paulista recebeu 2 milhões de turistas internacionais, um crescimento de 33% em relação a 2022 e a melhor marca desde 2019, quando foram registrados 2,1 milhões. Logo, o CIET aponta que apesar de o turismo doméstico ter superado os níveis pré pandemia, o turismo internacional em SP ainda está próximo aos níveis de 2019.
Para 2024 é esperado um aumento próximo a 10%, apesar de não ser decisivo o impacto quanto a mudança na regra dos vistos.
Já as pastas de turismo do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul não retornaram até a publicação da reportagem.
O Ministério do Turismo informou que a nova regra de vistos levará em consideração o dia da chegada dos turistas dos três países ao Brasil, o que significa que aqueles que entrarem aqui até 9 de janeiro estarão isentos da apresentação do documento.
“É importante ressaltar que o governo brasileiro renova o interesse de negociar, com as três nações, acordos de isenção de vistos baseados nos princípios da reciprocidade e da igualdade entre os Estados”, apontou a pasta.
De acordo com o ministério, também foi necessário fazer ajustes no processo licitatório para a contratação da empresa que vai oferecer o serviço de vistos eletrônicos para os três países. “O novo decreto será publicado tão logo sua tramitação seja finalizada”.
Países que precisam de visto para entrar no Brasil
Segundo o ranking Henley Passport Index 2023, o Brasil está na 18ª posição da lista de restrições de entrada, com acesso a 170 países sem necessidade de visto prévio.
Em contrapartida, 95 países precisavam de visto para que turistas estrangeiros entrassem no Brasil, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores. A partir de abril, este número sobe para 98, com EUA, Canadá e Austrália engrossando a lista (veja abaixo).
A emissão do documento terá um custo de US$ 80,90 e deve ser feita pelo site brazil.vfsevisa.com.
Países com exigência de visto brasileiro:
1 | Afeganistão |
2 | Andorra |
3 | Angola |
4 | Arábia Saudita |
5 | Argelia |
6 | Azerbaijão |
7 | Bahrein |
8 | Bangladesh |
9 | Benin |
10 | Brunei |
11 | Burkina Faso |
12 | Burundi |
13 | Butão |
14 | Cabo Verde |
15 | Camboja |
16 | Cameroum |
17 | China |
18 | Comores |
19 | Congo, República do Congo |
20 | Ilhas Cook |
21 | Coréia do Norte |
22 | Costa do Marfim |
23 | Cuba |
24 | Djibouti |
25 | Egito |
26 | Eritréia |
27 | Etiópia |
28 | Gabão |
29 | Gâmbia |
30 | Gana |
31 | Guiné |
32 | Guiné Bissau |
33 | Guiné Equatorial |
34 | Haiti |
35 | Iêmen |
36 | Índia |
37 | Irã |
38 | Iraque |
39 | Irlanda |
40 | Jordânia |
41 | Kiribati |
42 | Kuwait |
43 | Laos |
44 | Lesoto |
45 | Líbano |
46 | Libéria |
47 | Líbia |
48 | Madagascar |
49 | Malawi |
50 | Maldivas |
51 | Mali |
52 | Ilhas Mariana |
53 | Ilhas Marshal |
54 | Ilhas Maurício |
55 | Mauritânia |
56 | Micronésia |
57 | Moçambique |
58 | Myanmar |
59 | Nauru |
60 | Nepal |
61 | Níger |
62 | Nigeria |
63 | Omã |
64 | Palau |
65 | Palestina |
66 | Papua Nova Guiné |
67 | Paquistão |
68 | Quênia |
69 | Quirguistão |
70 | República Centro-Africana |
71 | Ruanda |
72 | Ilhas Salomão |
73 | Samoa Ocidental |
74 | Santa Lúcia |
75 | São Tomé e Príncipe |
76 | Senegal |
77 | Serra Leoa |
78 | Síria |
79 | Somália |
80 | Siri Lanka |
81 | Suazilândia |
82 | Sudão do Sul |
83 | Tajiquistão |
84 | Tanzânia |
85 | Timor-Leste |
86 | Togo |
87 | Tonga |
88 | Turcomenistão |
89 | Tuvalu |
90 | Uganda |
91 | Uzbequistão Vanuatu |
92 | Vanuatu |
93 | Vietnã |
94 | Zâmbia |
95 | Zimbábue |
96 | Estados Unidos |
97 | Canadá |
98 | Austrália |
Veja também
- Das Olimpíadas à Taylor Swift: viajar para ver esportes e shows está virando uma indústria trilionária
- Turistas estão evitando os hotéis mais caros de Paris à medida que as Olimpíadas se aproximam
- Turismo: dólar afeta decisão de compra até dos mais ricos
- Inflação na Argentina perto de 300% acaba com grandes descontos para turistas
- ‘Milhas valem dinheiro e não são só passagens aéreas’, diz Heron Alonso