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Economia

Setor de turismo critica volta da exigência de visto para estrangeiros no país

Presidente Lula pediu a volta do documento para cidadãos dos Estados Unidos, Japão, Austrália e Canadá.

Representantes do setor de turismo veem com apreensão a medida determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o Itamaraty encaminhe às respectivas embaixadas a exigência de vistos para cidadãos americanos, canadenses, australianos e japoneses entrarem no Brasil. A retomada da exigência, que havia sido abolida no final de 2019, passa a valer novamente em 1º de outubro.

O entendimento do petista se baseia no princípio da reciprocidade, modelo abolido desde 2019 na gestão do então presidente Jair Bolsonaro. Estados Unidos, Japão, Austrália e Canadá exigem o documento quando brasileiros atravessam suas fronteiras.

Segundo o governo, desde 2019 não houve aumento considerável no fluxo de turistas. No entanto, foi em 2020 que a pandemia por covid-19 se instalou pelo mundo. Desde então, com fronteiras fechadas por um longo período, houve queda de visitantes no país; as viagens foram retomadas no ano passado.

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Setor hoteleiro critica medida

A decisão de Lula não agradou o presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional), Manoel Linhares. Segundo ele, a volta da exigência de vistos para cidadãos desses países será um passo atrás, “um retrocesso para a indústria de turismo nacional como um todo”.

Linhares afirmou ao InvestNews que não é razoável balizar a decisão levando em consideração os dados de entrada de turistas estrangeiros nos anos marcados pela pandemia. Ele também disse que a decisão em liberar a entrada de estrangeiros no país em 2019 foi a consolidação de um pleito de décadas do setor de turismo.

“Estamos estacionados há anos numa média anual de 5 milhões de turistas estrangeiros visitando nosso país. Medidas como essa só atrapalham a expansão do turismo internacional no país”, critica Linhares.

Ainda segundo ele, é preciso haver uma política nacional para o setor. “Só assim aumentaremos o fluxo de visitantes estrangeiros no país e, finalmente, poderemos nos tornar um dos grandes destinos turísticos do mundo”, acrescenta.

Volta de estrangeiros ao Brasil

Segundo a Embratur, o país superou a marca de 3,1 milhões de turistas estrangeiros recebidos em 2022. O dado supera os últimos dois anos somados: 2020 (2,1 milhões) e 2021 (745,8 mil). O levantamento considera visitantes do exterior que passam pelo menos uma noite no Brasil, conforme metodologia recomendada pela Organização Mundial de Turismo (OMT).

No ano passado, os estrangeiros deixaram no país a cifra de US$ 4,952 bilhões, o que representa um crescimento de 68% em relação ao que haviam gasto em 2021 (US$ 2,947 bilhões). O dado é também 62,6% maior quando comparado ao ano de 2020, segundo dados do Banco Central do Brasil.

Já em janeiro deste ano, o Brasil computou a entrada de 868.587 estrangeiros registrados na Polícia Federal como turistas. O resultado é histórico na série dos últimos quatro anos e ultrapassa o período pré-pandemia. Os estrangeiros deixaram US$ 604 milhões no país, segundo boletim estatístico do Banco Central. O valor representa alta de 3,8% na comparação com janeiro de 2020, antes da pandemia, quando os gastos chegaram a US$ 582 milhões.

Isenção de visto desde 2019

Segundo a ABIH Nacional, em dezembro de 2019, já sob a isenção de visto, 36.615 turistas americanos entraram no país. Foi o segundo maior número da série que começa em 2017 e vai até fevereiro deste ano.

A FecomercioSP faz coro com a ABIH Nacional ao apontar que a medida é prejudicial para o setor privado como um todo, especialmente às empresas de turismo nacional em diversos segmentos, “uma vez que traz burocracia e tira a atratividade do país em um momento de retomada após a crise por covid-19”.

De acordo com dados da federação, o segmento deixou de faturar, entre 2020 e 2021, cerca de R$ 120 bilhões, em comparação aos resultados registrados antes da pandemia.

Quanto à reciprocidade, a avaliação da FecomercioSP é que deve ser avaliada a competitividade com outros países da América do Sul, “uma vez que Chile, Colômbia, Peru e Argentina não exigem visto dos cidadãos norte-americanos, por exemplo. Consequentemente, menos burocracia atrai mais turistas e mais gastos para a cadeia”.

Do lado das companhias aéreas, a Azul (AZUL4) retornou em nota dizendo que não há previsão de impactos na sua operação com a exigência de visto para a entrada no país de cidadãos dos Estados Unidos, uma vez que este é o único destino atendido pela companhia afetado pela determinação. “A maioria dos clientes desta rota são cidadãos brasileiros”, disse.

A Gol (GOLL4) não retornou ao pedido de posicionamento feito pelo InvestNews até a última atualização desta matéria.

Turismo no pós-pandemia

A retomada do turismo no Brasil em 2022 estava significativamente mais lenta do que a média internacional, segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT). O país ficou atrás da média dos países do continente africano (63%) e das Américas (66%), como um dos piores desempenhos globais entre os países que já possuíam fronteiras abertas pós vacinação do coronavírus.

Já Oriente Médio, com 83%, e a Europa, com 80%, são os continentes que tiveram melhor nível de retomada da atividade turística internacional.

No entanto, os Estados Unidos são o segundo país com mais desembarcados no Brasil, em especial por meio aéreo, perdendo apenas para a Argentina. Em 2022, entraram no país 441 mil estadunidenses, 54,2 mil canadenses, 25 mil australianos e 17,6 mil japoneses, os quais respondem por cerca de 15% do total de turistas que ingressam em terras brasileiras. 

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