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Economia

‘Governo achou um bode expiatório, que é a taxa de juros’, diz Roberto Dumas

Economistas comentam críticas de Lula ao BC por manter a Selic em patamar elevado.

Em evento para discutir o impacto dos 100 dias do governo Lula na economia, os economistas Stephan Kautz (EQI ASSET), Roberto Dumas (CFA), Daniel Weeks (GARDE) e André Duarte (Occam) disseram que as críticas ao Banco Central por manter alta a taxa de juros é um exagero e visa tirar o foco de outras questões.

Em sua fala no Money Week, em São Paulo, Dumas disse que “o governo achou um bode expiatório que o problema maior do Brasil é a taxa de juros”.

“Temos outros problemas no Brasil que parece que não estão sendo atacados, como saneamento básico, capacidade produtiva, o ‘voo de galinha’. A taxa de juros é consequência.”

Roberto Dumas, economista e professor do Insper

O professor e economista ainda citou a audiência com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, no Senado, em que o senador Cid Gomes (PDT-Ceará) usou uma lousa para criticar a taxa de juros no Brasil e comparar com a aplicada nos Estados Unidos versus a inflação. “Ele quer comparar a credibilidade fiscal do Brasil com a dos Estados Unidos? O Brasil deu calote na dívida pública 20 vezes.”

“Política monetária não é Big Brother, não é pra sair no grito. Não é queimando pneu na paulista que se derruba a taxa de juros. Isso só piora a expectativa. Quanto mais se grita, mais assustados ficam os agentes econômicos. Essa gritaria já postergou a meta da queda de juros para o ano que vem”, disse o economista, acrescentando que a inflação é influenciada pelas críticas.

Stephan Kautz (EQI ASSET), André Duarte (Occam), Roberto Dumas (CFA) e Daniel Weeks (GARDE). (Foto: Divulgação)

Para André Duarte, economista e estrategista da Ocean, o Banco Central precisa primeiro de uma baixa na inflação para depois baixar os juros. “Cortar juros agora é muito arriscado”, avalia.

Duarte também falou sobre os comentários do governo para aumentar a meta da inflação no país. “Se subir a meta para baixar os juros não vai dar certo”, disse.  A atual meta para  a inflação está em 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Segundo o economista, com uma piora nas curvas longas de juros, o momento ainda pede cautela. “E apesar de tudo, o BC está tendo uma postura exemplar [em manter a Selic no atual patamar]”, opina.

Cenário global

Para o economista-chefe da Gard Asset, Daniel Weeks, o pior da inflação entre os países ficou em 2022, mas que ainda há um trabalho árduo para este ano, com os bancos centrais ainda pressionado as taxas de juros, apesar de alguns estarem no fim do ciclo.

Ele falou sobre a expectativa para os próximos passos do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, e do Banco Central Europeu (BCE).

“Acredito que o Federal Reserve esteja no fim do ciclo de aperto monetário, apesar de a Europa ainda estar atrasada no processo. Na Europa, devem demorar um pouco mais para cortes de juros. Apesar de vermos um mundo que ainda desacelera, isso não sinaliza para uma recessão [nos EUA e Europa]”.

economista-chefe da Gard Asset, Daniel Weeks

O economista analisa que as taxas de juros devem ficar altas por um tempo mais prolongado, sem espaço para cortar juros, a depender se terá no horizonte uma recessão.

Dólar versus yuan

Com os Estados Unidos desacelerando seu crescimento econômico em relação a outros países, Weeks pontua que há sinais de enfraquecimento do dólar. No entanto, o economista acredita que a moeda norte-americana continuará dominando entre as demais no mundo, pelo menos na próxima década.

Roberto Dumas complementou dizendo que existe uma crença de que o yuan, moeda da China, vai substituir o dólar – o que, em sua visão, não vai acontecer.

“O yuan não vai substituir o dólar – pelo menos nos próximos dez anos”.

Roberto Dumas, economista e professor do insper

Para justificar sua fala, o economista apontou que conta capital da China é fechada, além da dificuldade em se utilizar a moeda em outras transações. Logo, o dólar continua tendo maior influência nas negociações.

“Estamos voltando para uma ‘guerra fria’, com uma diferença: estando de um lado China, e do outro, os Estados Unidos. A diferença em relação à Guerra Fria é que, agora, a China é muito mais forte economicamente que a União Soviética”, complementou André Duarte.

O estrategista explica que a União Soviética não era um grande parceiro comercial do mundo, enquanto hoje a China é um parceiro comercial maior que os EUA para 85% dos países. E, segundo ele, a integração da migração do yuan anda em um ritmo forte, “não ao ponto de substituir o dólar, mas de ser uma alternativa”.

notas de yuan
créditos: Pixabay

Um exemplo dado foi como a libra esterlina perdeu o posto para o dólar após a segunda Guerra Mundial.

“A ascensão do yuan está mais clara para países que se aproximam das negociações com a China, como Rússia, Arábia Saudita, Irã, além de países que já têm operação com o yuan. Além disso, a China já desenvolveu um sistema internacional de pagamentos próprio. Logo, se os EUA se envolverem em importantes crises, a China pode avançar”, disse Duarte.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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