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Economia

‘Minha Casa, Minha Vida’ deve aquecer construção civil, mas setor teme risco fiscal

Volta do Minha Casa Minha Vida anima construtoras focadas em habitação social que sofrem com alta de juros e endividamento das famílias.

O retorno do programa Minha Casa Minha Vida, criado no governo Lula para famílias de baixa renda, deve ajudar a aquecer o mercado imobiliário e o setor da construção civil no próximo ano. No entanto, especialistas ouvidos pelo InvestNews dizem que a responsabilidade fiscal está totalmente atrelada ao bom desempenho do setor em 2023.

A desaceleração econômica provocada pela inflação, alta taxa de juros, pandemia de covid-19 e cenário externo contribuíram para a diminuição da renda e endividamento das famílias, gerando a estagnação da construção civil no país.

Rio de Janeiro – Trabalhadores da construção civil, operários reformam telhado de imóvel em obras no Centro do Rio. (Fernando Frazão/Agência Brasil)

A volta do programa de habitação popular em 2023 foi anunciada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso após vencer as eleições. O programa criado pelo PT foi substituído pelo Casa Verde e Amarela pela gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo foco era o atendimento das famílias de classe média.

O período de transição das equipes do governo e dúvidas sobre as políticas econômicas e fiscais que serão adotadas provocam incerteza sobre o cenário futuro.

“À medida que o governo conseguir tirar um pouco das incertezas e lançar o programa, o Brasil tem empresas para acelerar esse setor. Se Lula sinaliza que consegue ter controle fiscal, não gera um déficit muito grande, a inflação começa a ceder e os juros começam a cair, as coisas podem andar bem.”

João Abdouni, analista CNPI da Inv

O analista lembra que a alta taxa de juros de financiamento dos imóveis dificultou a vida das construtoras e ressaltou a importância da responsabilidade fiscal no próximo governo.

“Como a taxa de juros está elevada, o mercado está desconfiado que vai o governo vai ter problemas com o fiscal, as construtoras assim como as varejistas são empresas que sofrem muito com a taxa de juros elevada, porque as pessoas não conseguem financiar os imóveis”, afirmou.

Trabalhador da construção civil
Trabalhador da construção civil Crédito: Agência Brasil

Outra grande preocupação do mercado é com a PEC da Transição, que eleva o teto de gastos para assegurar o pagamento de R$ 600 do Bolsa Família e um adicional de R$ 150 a famílias com crianças até 6 anos, além de investimentos em infraestrutura. O texto aprovado pelo Senado prevê uma ampliação de R$ 145 bilhões no teto pelo período de dois anos. O texto ainda precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados.

“Se o governo não conseguir entregar um superavit primário nos próximos 2 anos, por conta da PEC, essa taxa de juros tende a não ceder. E mesmo com incentivos e estímulos do governo, o mercado ainda está pessimista com o setor”, declarou Abdouni.

O analista explicou que o aumento de impostos contribui para um superavit primário (quando as receitas go governo são maiores que as despesas, sem contar os juros da dívida pública) e esse cenário pode favorecer as construtoras ao longo de 2023, mas ele ressalta que isso depende do governo. “Já que ele vai querer gastar mais, precisa arrecadar mais”.

Retorno do ‘Minha Casa, Minha Vida’

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre, também afirma que “a questão fiscal se configura como grande desafio” para o setor da construção civil para o próximo ano. Apesar disso, ela acredita que o programa Minha Casa Minha Vida será o principal responsável pelo reaquecimento do mercado de habitação popular.

“A gente vê perspectiva de maior protagonismo da habitação de interesse social, não nos moldes do que foi o programa no governo anterior do PT, mas a habitação social volta a ser destaque em 2023. Na infraestrutura, o  anúncio de novos investimentos sustentando um ciclo de investimento. Sabemos a importância do investimento público nesse contexto, pois o setor privado sozinho não dá conta das necessidades. É um desafio à frente.”

Ana Maria Castelo


Desafio após retração da construção civil

As incertezas sobre como o governo Lula irá fazer para reinvestir no programa de moradia popular assombram as categorias que representam o setor.

“Não tem espaço para subsídio no orçamento federal, mas sempre sobra para alguma regulamentação, inversão de prioridade”, comenta Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do Sinduscon-SP

setor da construção civil no Brasil mostrou ma desaceleração para 2023 e a taxa de crescimento anual deve ser de 2,4%, de acordo com a previsão da Faculdade Getúlio Vargas (FGV). O índice do PIB da construção é inferior ao estimado neste ano de 7% e do medido em 2021, que foi de 10%.

Expectativas das empresas

A Mills (MILS3), uma empresa que costuma atuar em várias as etapas de uma obra, desde o fornecimento de máquinas e preparação de terrenos até o aluguel de plataformas elevatórias para realização de pinturas e colocação de janelas, vê com bom olhos o retorno do programa habitacional social e planeja crescimento.

“A Mills vê de forma bastante positiva a abertura de novos projetos residenciais em 2023, que inclui a retomada do programa Minha Casa Minha Vida, e a execução de demais obras de leilões de infraestrutura já realizados pelo governo federal. Este ano, ultrapassamos o número de 50 filiais e temos perspectivas de continuar ampliando nossa capilaridade no próximo ano”, disse o CEO Sergio Kariya.

Empresas de construção perderam valor na B3

O analista da Inv, João Abdouni, diz que as principais empresas da área da construção civil hoje listadas na B3, a bolsa de valores brasileira, acabaram tendo seus valores depreciados devido à conjuntura econômica do país nos últimos anos.

Ele alerta os investidores para prestarem atenção na dívida líquida das construtoras que são maiores do que o caixa.

“É bom tomar cuidado com as empresas endividadas. Dar preferência àquelas que têm mais caixa do que giro, porque essas empresas provavelmente aguentam mais cenários turbulentos do que as mais endividadas nesse cenário de taxa de juros elevada.”

Entre as principais empresas da construção listadas na B3, estão a MRV (MRVE3), Trisul (TRIS3), Eztec (EZEC3), JHSF (JHSF3), MRV (MRVE3), Direcional (DIRR3), Tenda (TEND3), Even (EVEN3) e Cyrela (CYRE3).

O InvestNews procurou as empresas citadas, mas não havia recebido um posicionamento até a última publicação desta reportagem.

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