Economia
Saiba quais setores vão movimentar a temporada de balanços do 2º tri
Setores penalizados pela pandemia sinalizam uma recuperação com a retomada da atividade econômica. Dentre eles estão transportes, infraestrutura e varejo físico.
A temporada de balanços do segundo trimestre de 2021 começou na última terça-feira com resultados animadores reportados por Neoenergia (NEOE3) e Industrias Romi (ROMI3) em meio a melhoria dos dados da covid-19 e a aceleração da vacinação. Mas será que outras companhias acompanharão essa tendência positiva?
Para Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual, o período deve ser mais “apimentado” em relação à temporada do primeiro trimestre, especialmente porque os setores locais, que foram bastante penalizados pela pandemia, sinalizam uma recuperação com a retomada da atividade econômica. Dentre eles estão transportes, infraestrutura e varejo físico.
“Os resultados dos últimos cinco trimestres foram apoiados em e-commerce e commodities. Temos uma visão de que nesse trimestre e nos próximos voltam a ter destaque as empresas que estão consumindo as nossas atividades puras”, explicou.
Segundo a XP Investimentos, o mercado espera crescimento de 30,6% da receita das companhias que integram o Ibovespa, principal índice da B3, e de 255% do lucro por ação em relação ao mesmo período de 2020.
Por outro lado, mesmo diante de expectativas positivas, a base de comparação ano contra ano é fraca e facilita a divulgação da evolução de resultados pelas companhias, o que deve ser um ponto de atenção aos investidores.
Em relatório enviado ao mercado, Guilherme Tiglia, analista da Nord Research, explica que segundo trimestre de 2020 foi um período fortemente impactado pelas medidas restritivas impostas pela pandemia, sendo provavelmente o “pior trimestre” para a operação de boa parte das companhias desde quando a crise sanitária começou. “Assim sendo, será normal observar uma evolução bastante favorável nos resultados considerando o comparativo anual”, explicou.
Zanlorenzi, do BTG, explica que o ideal é olhar para as estimativas dos bancos de investimentos, porque levam em conta as melhorias dos indicadores econômicos no momento de projetar os números financeiros das companhias. “As projeções já foram atualizadas neste trimestre e vão sofrer novas atualizações nos próximos trimestres incorporando a percepção de melhora da pandemia”, explicou.
Veja abaixo os destaques positivos e negativos para a temporada de balaços:
Transporte e Infraestrutura
Dentre os exemplos positivos destacados pelo analista do BTG estão as companhias voltadas ao segmento de transportes e infraestrutura. “Estamos olhando a retomada rápida de dados de tráfego de veículos nas rodovias, como é o caso da CCR (CCRO3), e isso tem animado bastante. Sem contar o setor de infraestrutura, como a Rumo (RAIL3) (empresa ferroviária de logística) que deve ter uma performance de razoável a positiva neste ano, com recorde de safra de exportação de grãos”, explicou.
Varejo
A expectativa do mercado também é positiva para o varejo físico, que sofreu em meio às restrições de funcionamento impostas por governos com o objetivo de minimizar a pandemia. “Este setor, em especial o varejo tradicional mais atrelado ao fluxo físico de pessoas, deve se beneficiar diretamente com a vacinação em massa e o consequente relaxamento das restrições de mobilidade”, afirmou em relatório Guilherme Tiglia da Nord. Colado ao varejo estão as administradoras de shoppings que devem reportar resultados de recuperação após o afrouxamento das restrições às atividades comerciais no início do trimestre.
Alguns destaques do setor apontados pelo BTG são: Grupo Mateus (GMAT3) , Arezzo (ARZZ3) e Lojas Renner (LREN3).
Bancos
O segmento bancário é outro que deve divulgar dados sólidos, especialmente com o maior volume de concessão de crédito (devido a melhora da atividade econômica); a elevação da taxa Selic; as menores provisões e o aumento do otimismo em relação aos endividados. “Havia um grande temor de inadimplência, que se mantém estável ou até caindo, o que está favorecendo o setor bancário como um todo”, alertou o analista do BTG.
Outro ponto a favor das instituições financeiras é o próprio aquecimento do mercado de capitais. “Estamos vendo de quatro a cinco ofertas públicas iniciais de ações (IPOs na siga em inglês) por semana, e isso tem favorecido a linha de ‘investment’ dos bancos de investimentos”, reiterou Zanlorenzi.
Commodites
Quem deve manter o bom ritmo já observado nos trimestres anteriores é o segmento de commodities, em especial as empresas de siderurgia e de minério de ferro, como Vale (VALE3) – que já reportou número de produção e vendas referentes ao segundo trimestre – Gerdau (GOAU4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3). “Apesar de não serem uma grande surpresa, provavelmente não vão decepcionar. Devem continuar tendo bons resultados, com o preço ainda elevado do aço e do minério de ferro”, explicou o analista do BTG.
Em relatório, Fernando Ferreira e Jennie Li, analistas da XP, estimam que o preço do minério de ferro permanecerá em níveis elevados nos próximos períodos, apesar de espaço para correção, com a forte demanda da China e oferta ainda restrita. “No segmento siderúrgico, a recuperação do setor automotivo continua sendo o principal ponto a ser monitorado, permitindo um melhor mix de vendas”.
Saúde
Outro setor que deve apresentar resultados fortes é o de saude, principalmente as redes de hospitais ainda apoiadas pelos casos de covid-19. A Rede D´Or (RDOR3) é o “top pick” – a melhor recomendação do setor – na avaliação do BTG. Quem também deve reportar um avanço no balanço financeiro são os laboratórios, beneficiados pelo avanço de testes para detectar a doença, além da disponibilidade do serviço drive thru em residências e empresas e que ganhou escala “rapidamente”, de acordo com Jerson Zanlorenzi, do BTG.
Elétrico
Um segmento que deve ter um contraste de balanços, de acordo com banco Inter, é o elétrico. “Esperamos que os resultados das empresas de distribuição permaneçam em patamares favoráveis, enquanto a parte de geração, principalmente hídrica, deva desempenhar aquém do potencial”, alertou em relatório o analista Rafael Winalda.
Winaldo lembrou que, enquanto o consumo de energia cresceu cerca de 9% no primeiro semestre de 2021, ante o mesmo período de 2020, impulsionado pela demanda da indústria e das casas, o setor de geração enfrenta uma das maiores crises hídricas das últimas décadas. “Com a escassez de chuvas, o nível dos reservatórios ficou comprometido, o que gerou dúvidas sobre a possibilidade ou não de racionamento que, em nossa opinião, não deve acontecer”, explicou Winalda.
Na visão do analista do Inter, os destaques no trimestre devem ficar com Equatorial Energia (EQTL3) e Energias do Brasil (ENBR3). Já AES Brasil (AESB3) e Engie (EGIE3) devem apresentar resultados abaixo do esperado e de seus potenciais, “em razão da alta dependência de seus fluxos de caixa quanto à geração hídrica”.
Construção civil
A construção civil está na lista de setores que não devem performar tão bem, segundo o analista do BTG, especialmente em função do aumento da taxa Selic, que torna o crédito imobiliário mais caro aos compradores. “O mercado está olhando com menos ânimo, os investidores estão mais seletivos na tese e nos papéis dessas empresas”, explicou.
Por outro lado, a XP estima que as incorporadoras de baixa renda apresentem números operacionais sólidos à medida que continuam ganhando participação de mercado no programa habitacional Casa Verde e Amarela, mas espera uma ligeira compressão nas margens brutas devido aos maiores custos com materiais de construção.
Para as companhias focadas na média e alta renda, na avaliação da XP, as recentes restrições comerciais devem ter um leve impacto nos números operacionais do segundo trimestre. “No entanto, as empresas devem reportar margens relativamente estáveis, visto que vemos elas como capazes de repassar marginalmente os custos mais altos dos materiais de construção nos preços”.
Educação
Embora exista um movimento forte de consolidação com fusões e aquisições no segmento de educação, ainda há uma nuvem nebulosa sobre o setor, especialmente porque há dúvidas sobre como as companhias vão se organizar após pandemia quanto ao ensino à distância e presencial.
“Na educação à distância, por exemplo, é possível ter ganho de escala, mas será que se perde em margem ou e em qualidade? Há pouca visibilidade sobre o que vai ocorrer com o setor”, explicou o analista do BTG.
A XP informou ainda esperar que as margens dessas empresas continuem pressionadas devido ao aumento da provisão para devedores duvidosos e maiores despesas de marketing.
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