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Economia

Se arcabouço seguir como anunciado, há chance de corte de juros, diz Mansueto

Para o economista e ex-secretário do Tesouro Nacional, os juros definirão crescimento do país no curto prazo, não a produtividade.

O economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse nesta quarta-feira (12) que se a proposta do arcabouço fiscal for entregue ao Congresso Nacional com as medidas muito próximas das que foram anunciadas recentemente, há espaço para o Banco Central cortar a taxa de juros no Brasil, a Selic.

Por outro lado, Mansueto disse que quando se observa os dados de curto prazo da inflação, não há surpresa negativa, mas quando se olha para a inflação esperada em 2024, 2025 e 2026, ela está crescendo e se afastando da meta, deixando BC em uma encruzilhada. As declarações foram feitas durante o painel “Perspectivas para Investimentos – Um panorama do cenário econômico atual”.

Mansueto Almeida
Foto de arquivo de 28/01/2020 de Mansueto Almeida. Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,71% em março, depois de ter avançado 0,84% em fevereiro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira (11). Com isso, o índice passou a acumular nos 12 meses até março taxa de 4,65%, contra 5,6% antes, a mais baixa e a primeira vez abaixo de 5% desde janeiro de 2021.

Nesse cenário e citando as preocupações sobre as contas públicas, Mansueto comentou o efeito esperado da queda da taxa de juros sobre a atividade da economia.

“Nosso problema hoje é a questão fiscal. Se der o mínimo de sinalização que vai controlar o gasto e que não vai ser irresponsável, de mexer com expectativas, abre espaço para os juros caírem. E no curto prazo, em 2024, o que vai definir o crescimento do Brasil é a taxa de juros e não a produtividade. Tem um cenário bom que o governo pode entregar se ele se comunicar corretamente e encaminhar ações positivas de reformas estruturais, de responsabilidade fiscal, de tentar reduzir subsídios tributários. Tem conserto”, disse Mansueto.

Dívida do Brasil

Durante o evento, o economista destacou que o Brasil encerrou o ano de 2020 com dívida publica em 80% do Produto Interno Bruto (PIB) e, 2021 e 2022, houve um crescimento forte da economia e arrecadação, reduzindo a dívida do país para 73% do PIB, o mesmo que em 2017.

De acordo com Mansueto, o ponto de atenção é que, antes do plano fiscal do governo Lula ser apresentado, o cenário do mercado era de expansão do gasto público e de 4 anos de déficit, levando dívida a crescer de forma rápida, com juros alto e crescimento econômico baixo.

Agora, segundo o economista-chefe do BTG Pactual, o que pode mudar esse cenário é o plano fiscal, caso o governo entregue ao Congresso com medidas próximas das já anunciadas.

“A simulação do governo de que a dívida cresce e se estabilize em  77% do PIB, ninguém consegue chegar nesse cálculo, mas ficando em 81% já é um cenário melhor do que esperado”

De acordo com estimativa do economista, para a dívida do Brasil parar de crescer, o governo teria que fazer um ajuste de R$ 300 bilhões.

“Esses cerca de R$ 150 bilhões do ajuste de R$ 200 bilhões do governo nas palavras do ministro vem de aumento de arrecadação, de recomposição de base tributária. Quando ataca o regime especial de tributação, as empresas vão pagar mais imposto. Não é clara a receptividade desse plano no Congresso. Esse é o desafio e a incerteza. Será que o governo consegue entregar esse ajuste de R$ 200 bilhões?”, questionou.

Ainda de acordo com o economista, o ajuste não vai resolver o problema fiscal e a dívida do país vai continuar crescendo até o próximo governo, que ele terá que dar continuidade ao ajuste fiscal, mas a importância dele, segundo Mansueto, é tirar do horizonte o crescimento muito rápido da dívida.

Ruídos do governo

O economista-chefe do BTG Pactual relembrou que, 5 meses após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aconteceram vários ruídos no governo, o mercado ficou um tempo sem pistas da regra fiscal, ocorreram críticas a reformas, além de haver algumas promessas fortes de gasto que assustaram o mercado.

Porém, Mansueto apontou também que as falas do presidente no discurso de 100 dias governo demonstraram apoio ao ajuste fiscal e que essa sinalização é importante para o mercado, que reagiu positivamente.

“Acho que teve um problema de comunicação muito forte no início do governo. Muito do ruído que escutamos no dia a dia não vai passar de ruído, pois o Congresso vai travar. O ministro da Fazenda, que era político, está dando mensagem correta, está falando de reforma tributária, regime especial. Tem um caminho que pode dar certo, mas, para dar certo, terá que controlar gasto público e ter cuidado com agenda microeconômica”, apontou Mansueto.

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