Finanças
11 ações baratas da bolsa: vale investir ou é ‘furada’?
Analistas apontam oportunidades para estratégias de valorização e dividendos.
Investir em ações e se tornar sócio de boas empresas é um exercício constante que requer conhecimento e planejamento financeiro. Segundo o analista Murilo Breder, da Easynvest by Nubank, ter uma carteira diversificada de ações é o melhor investimento para o longo prazo.
Mas ele ressalta que, para constituir esta carteira, é preciso constância na hora de investir. Seguindo esta lógica, sempre é um bom momento para comprar ações. Contudo, a questão não é apenas comprar boas empresas e sim acertar o melhor momento de montar posição nelas.
Muito além de acertar o topo ou o fundo do poço das ações, Breder destaca a importância de identificar companhias com bons fundamentos e que podem ser consideradas as ações mais baratas.
Para seguir esta estratégia de seleção, ele esclarece que nem sempre a pontuação do Ibovespa nos apresenta a realidade do mercado de ações. Isso porque o principal índice da B3 é 50% composto por bancos e commodities. “A pontuação do Ibovespa só faz sentido para quem investe em ETF ou tem grandes bancos e commodities na carteira”, esclarece.
Para quem possui outro tipo de ativos, ele destaca dois tipos de abordagem para fazer uma análise fundamentalista das companhias:
- Top-down: ou também conhecida como análise de cima para baixo, é aquela que considera fatores da macroeconomia global, para logo escolher países com melhor performance, setores e por último companhias interessantes. Esta abordagem é muito comum em empresas blue-chips (ações de grande porte na bolsa brasileira).
- Bottom-up: ou de baixo para cima, é a análise que prioriza a história e realidade das empresas para depois enxergar os indicadores macroeconômicos, como cotação do dólar, entre outros. Esta análise faz mais sentido para companhias menores, como as small caps (com valor de mercado de até R$ 5 milhões), empresas que fizeram IPO recentemente ou passaram por um processo de reestruturação.
Breder destaca que, de acordo com esta abordagem, nem sempre o Ibovespa em alta significa que todos os papéis estão caros, ou o índice em queda é sinônimo de ações baratas. “É importante o investidor olhar a carteira no detalhe para fazer uma boa gestão”, reforça.
Ele também esclarece outro mito comum entre os investidores, de que se precisa de muito dinheiro para comprar ações. Segundo o analista, não é necessário ter grandes quantias para começar a investir na bolsa. “Na B3, há muitas ações baratas, a maioria das empresas custam menos de R$ 50, e também é possível encontrar ativos abaixo de R$10 ou R$ 5”, defende.
Diferença entre preço e valor
No entanto, ele alerta que o preço da ação não é sinônimo de uma companhia estar barata ou cara, Breder afirma que para ter uma noção real disso é necessário dividir o patrimônio de uma companhia pelo número de ações que ela possui.
Enquanto o preço é definido pela cotação do ativo, aquele que aparece quando olhamos a ação no home broker, o valor de uma ação é o que a companhia pode oferecer de retorno ao investidor, tais como potencial de valorização, dividendos, crescimento da empresa, expectativa de retorno ao acionista, entre outros. Seguindo esta lógica, uma companhia como a Vale (VALE3), negociada em média a R$ 113 pode ser considerada uma ação barata, se observado o que ainda pode entregar de retorno aos seus investidores.
Segundo ele, um portfólio diversificado está composto por pelo menos 5 ações, embora um número ideal seja 10 ou mais ativos. “A partir de R$ 250 é possível diversificar em 10 ações, importante também que a taxa de corretagem não seja superior a 1% das suas transações”, aponta.
Para quem ainda não possui esse valor, Breder aconselha começar a comprar ações mesmo com pouco dinheiro. Isso porque o aprendizado será essencial quando investidor decidir investir quantias maiores no futuro.
Para quem quer dar os primeiros passos na bolsa ou está à procura de ações baratas com bons fundamentos, o InvestNews preparou um guia com recomendações de analistas. Veja a seguir:
Vale a pena investir em ações em 2021?
Apesar da bolsa de valores estar negociando no patamar dos 129 mil pontos e já ter andado bastante desde que atingiu seu fundo do poço na pandemia (61.690 pontos em março de 2020), Felipe Fernandes, chefe de análise da Flip Investimentos, acredita que ainda existem boas oportunidades de compra, considerando que muitas empresas apresentaram resultados acima do esperado, o que criou potencial para dar continuidade a altas já vistas pelo investidor.
Ele também destaca que a taxa de juros no patamar de 4,25%, ainda em níveis inferiores aos que o brasileiro está acostumado, deixa a bolsa de valores convidativa.
Olhando para a bolsa em dólar, Fernandes ainda enxerga oportunidade pela desvalorização do real frente à moeda americana. “Isso abre mais uma janela de oportunidade mostrando que a bolsa tem uma perspectiva de valorização de longo prazo”, afirma.
Já Breder, da Easynvest by Nubank, aponta que é possível encontrar boas companhias com desconto para montar posição agora. Contudo, ele esclarece que o investimento é para uma estratégia de investir a longo prazo, de olho nos dividendos ou a valorização que as companhias podem proporcionar.
Para o analista, uma boa estratégia de ações é aquela que considera mais de 1 ano como horizonte de investimento, sendo que ele considera como ideal permanecer 5 a 10 anos com um ativo.
Qual ação é boa para comprar hoje?
De olho nas melhores ações para comprar hoje, Fernandes tem como favorita a B3 (B3SA3) com preço-alvo de R$ 26. Ele afirma que a companhia sofreu bastante com especulações da criação de uma nova bolsa de valores no Brasil, que embora não se concretizou pressionou os papéis da companhia.
Segundo o analista, caso uma nova bolsa de valores chegue ao mercado, o tempo de entrada demoraria o suficiente para a B3 conseguir acelerar o seu crescimento em um país com grande potencial de investimento como o Brasil. “Considerando a penetração de mercado da B3, existe uma certa barreira de entrada para novos concorrentes”, reforça.
O ativo preferido de Breder no momento é um BDR (recibo de ações), a Coca-Cola (COCA34). Ele cita ser uma companhia resiliente e boa pagadora de dividendos, a Coca-Cola vem aumentando sua distribuição de dividendos nos últimos 60 anos consecutivos.
Com a pandemia, os ativos ficaram muito descontados e devem valorizar com a reabertura dos mercados, principalmente a América Latina que responde por 20% das receitas da companhia. Porém, Breder esclarece que apesar do desconto, investir em ações da Coca-Cola não é para uma estratégia de valorização e sim de dividendos.
O ativo também contribui com a dolarização da carteira do investidor. O analista recomenda a compra das ações da Coca-Cola (COCA34) até o preço de R$ 52.
A companhia paga dividendos trimestralmente e tem um retorno de 3,1% de dividend yield para os próximos 12 meses.
Qual é a ação mais barata da bolsa 2021?
Para Fernandes, a companhia mais barata na bolsa neste momento é a Via (VVAR3). Ele defende que apesar da recuperação da bolsa brasileira muitos setores ainda não voltaram ao patamar do passado e estão desgastados. Um deles é o varejo.
O analista enxerga oportunidade de entrada na companhia pelo potencial de marca da Via, além de margens de negociação superiores a média do mercado. “A companhia não finalizou totalmente seu processo de turnaround, mas tem muito potencial para se valorizar”, defende. A Flip investimentos recomenda a compra da com preço-alvo de R$ 21 para 2021.
Segundo Breder, a companhia mais barata da bolsa seria a Copel (CPLE11). Ele explica que a ação negocia hoje a 0,9 vezes preço/valor patrimonial, enquanto pares como a Eletrobras (ELET6) e Cemig (CMIG4) negociam a 1 vez e 1,2 vezes, respectivamente. “Olhando para os múltiplos, a Copel é a ação mais barata”, diz.
Além do desconto, ele destaca que neste patamar, a companhia deve entregar 12,6% de retorno em dividendos (DY) para os próximos 12 meses, o que tornaria a Copel uma das maiores pagadoras de proventos da bolsa.
Contudo, o analista destaca dois pontos de atenção em relação a companhia, o primeiro é a redução da participação do BNDES no capital da Copel, segundo Breder até isso não se concretizar as ações da companhia devem continuar performando de lado.
Outro risco de investimento seria o impacto da crise hídrica, que pega em cheio o estado do Paraná, onde a Copel se encontra. “A companhia tem 84% da sua capacidade instalada dependente de hidroelétricas”, alerta. Segundo Breder, apesar das ações estarem andando de lado, a companhia é oportunidade de compra para os investidores dispostos a ter paciência com o ativo, para uma perspectiva de médio prazo.
Ele recomenda a compra das ações da Copel (CPLE11) até o preço de R$ 40. A companhia paga dividendos em dezembro.
11 ações baratas da bolsa: investimento ou furada?
O InvestNews solicitou aos analistas um levantamento de quais ações baratas eles consideram oportunidade de investimento neste momento. Confira a lista:
- B3 (B3SA3): a companhia é vista como oportunidade de compra por Fernandes e Breder, que não acreditam na criação de uma nova bolsa de valores no curto prazo. A B3 vem aumentando seu lucro líquido em mais de 20% todo ano, por este motivo os analistas enxergam a ação para uma estratégia de valorização. Enquanto Breder também acredita no potencial de pagamento de dividendos, com um dividend yield de 5% para os próximos 12 meses. A Easynvest by Nubank recomenda a compra da B3SA3 até o preço de R$22, já a Flip Investimentos colocou como preço-alvo R$ 26 até o final de 2021.
- Petrobras (PETR4): segundo Fernandes, da Flip Investimentos, o ativo foi penalizado pela interferência do governo federal, mas com melhorias na administração e por estar no radar de grandes investidores a companhia pode ainda destravar valor. Ele também destaca a política de desinvestimento da petroleira, vendendo ativos que fogem do seu core business. Fernandes recomenda a compra do ativo com preço-alvo de R$ 35.
- Multiplan (MULT3): os shoppings já estão se recuperando com o avanço da vacinação, por ser considerados locais de lazer pelos brasileiros Breder enxerga uma boa oportunidade para o investidor, porém ele esclarece que os ativos ainda apresentam forte volatilidade e é preciso ter paciência de olho no longo prazo. A Easynvest by Nubank recomenda a compra das ações com preço-alvo de R$ 28.
- Via (VVAR3): além dos fundamentos citados na reportagem, Fernandes acredita que com uma vacinação mais rápida e a recuperação da capacidade de compra dos brasileiros, além de uma política expansionista, companhias como a Via tem tudo para suprir as demandas de consumo. Fernandes recomenda a compra do ativo com preço-alvo de R$ 21.
- Vale (VALE3): a mineradora tem um retorno em dividendos de 10,6% para os próximos 12 meses. Segundo Breder, apesar da oscilação do dólar, a companhia deve se beneficiar com o minério de ferro, que segundo projeções da Moody’s deve ser negociado no patamar de US$ 160 a tonelada neste ano. Breder recomenda a compra das ações da Vale até o preço de R$ 130.
- Sanepar (SAPR4): apesar da companhia ser penalizada pela crise hídrica, Fernandes vê nela uma boa alternativa para uma carteira de dividendos, a ação tem um dividend yield de 5,5% para os próximos 12 meses. Ele defende que a companhia deve continuar com uma boa geração de caixa. Fernandes recomenda a compra do ativo com preço alvo de R$32.
- Copel (CPLE11): a companhia está bastante descontada, negociando a 0,9 vezes preço/valor patrimonial, e deve ter um retorno em dividendos de 12,6% nos próximos 12 meses. Breder recomenda a compra da ação até o preço de R$ 40.
- SulAmérica (SULA11): Fernandes aponta que a empresa vem sofrendo na pandemia, mas com a venda da sua carteira de automóvel, concentrou suas operações na área de saúde. “Vejo espaço para novas aquisições e aumento de receita reduzindo o prejuízo da sinistralidade do setor”, defende. Fernandes recomenda a compra da ação com preço-alvo de R$ 40.
- Aura Minerals (AURA33): para o investidor que gosta de ouro e valorização, o BDR é uma ótima alternativa porque a companhia deve dobrar de tamanho até 2024. Além de ter um caixa sólido, que lhe permite fazer aquisições e pagar dividendos ao mesmo tempo. Por ser uma mineradora de ouro, o investidor também fica protegido frente a períodos de crise, porque o ouro tem uma correlação negativa com a economia global. A companhia tem um retorno em dividendos de 5,5% para os próximos 12 meses. Breder recomenda a compra do BDR com preço-alvo de R$ 82.
- Itaúsa (ITSA4): apesar de ser conhecida pelos dividendos, Fernandes enxerga na holding uma oportunidade do investidor buscar valorização e diversificar, considerando que Itaúsa investe em Itaú (ITUB4), Alpargatas (ALPA4), Duratex (DTEX3), NTS e Copagaz. “A cisão do Itaú e XP comprovou que as ações do banco não estavam bem precificadas, isso traz oportunidade para o investidor”, aponta. Fernandes recomenda a compra da ação com preço-alvo de R$ 25.
- Coca-Cola (COCA34): com um retorno em dividendos de 3,1% para os próximos 12 meses, Breder enxerga a companhia como uma das melhores pagadoras nos Estados Unidos. Descontada, ele explica que a receita da Coca-Cola deve se beneficiar pela reabertura da América Latina, mercado que concentra 20% da sua receita. Breder recomenda a compra do BDR até o preço de R$ 52.
Furadas da bolsa
Apesar de ter muitas ações baratas na bolsa, nem todos têm bons fundamentos ou são oportunidades de compra. Fernandes, da Flip Investimentos, cita algumas companhias que estão baratas, mas são uma verdadeira “furada” e é melhor passar longe, em sua visão.
É o caso do setor de educação. A pandemia mudou o formato de estudar de muita gente e segundo o analista há mais procura pela educação informal, tais como cursos rápidos, que não é o foco destas companhias, diz Fernandes.
Ele recomenda ficar de fora de empresas do setor como Cogna (COGN3), Ser Educacional (SEER3), e Yduqs (YDUQ3).
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