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Finanças

Acionista ou credor? Cenário permite mais risco com boas empresas, diz analista

Seja com ações ou títulos de dívida, especialistas recomendam empresas que se aproveitem de otimismo local.

Diante de um cenário macroeconômico desafiador no Brasil e no mundo, vale mais a pena investir em ações ou títulos de dívida privada? Na visão de especialistas, o panorama brasileiro atual está prestes a mudar, e ter mais apetite ao risco neste momento pode ser algo promissor. 

Com a Selic em 13,75% ao ano, mesmo com a expectativa de início de cortes nos próximos meses, Rafael Ragazi, sócio e analista de ações da Nord Research, diz que dobrar o investimento em renda fixa em cinco anos é uma possibilidade, mas é preciso segurar o título até o vencimento estabelecido. “No caso das ações, elas também podem subir 100% – ou além disso – nesse intervalo ou antes”, compara.

Investimentos (foto: Pixabay)
Investimentos (foto: Pixabay)

Ao escolher ser acionista ou credor de uma empresa, o investidor entrega recursos com objetivo de retornos futuros. “O que muda é a questão que envolve os riscos e retornos”, explica Marcelo Silva, analista de ações da Ouro Preto Investimentos. 

E vale a pena encarar esse risco maior? Na visão de Ragazi, “vale a pena tomar mais risco neste momento, principalmente em empresas que apresentam uma maior tendência de crescimento. Mas é preciso escolher com precisão as que de fato possuem boas perspectivas de capacidade de entrega”.

Quando o investidor decide ser acionista de uma empresa, compra uma parte do negócio por meio do aporte em ações, negociadas na bolsa de valores. Nessa perspectiva, participa dos resultados da empresa, mas não sabe ao certo o quanto pode gerar de retorno, uma vez que isso depende de fatores macroeconômicos e específicos da companhia e do mercado. “Uma ação tem um retorno potencial maior, assim como uma volatilidade maior”, pondera Rafael Ragazi.

“Para um investidor com perfil mais arriscado, com uma carteira orientada a crescimento em questão de retorno, o investimento em ações é o mais adequado. Mas as chances de retração também são maiores”, complementa Marcelo Silva. Ou seja, quanto maior a volatilidade dos retornos de um investimento, maior será o seu risco.

Cenário atual: o que considerar?

Segundo especialistas, houve uma inversão de perspectivas em relação ao início do ano. “Vimos a reabertura da China, com crescimento resiliente e demanda por commodities, além de possibilidade de recessão nos Estados Unidos e na Europa, no início de 2023. Há uma possibilidade de inversão deste cenário, com a China enfrentando problemas de crescimento e as commodities afetadas por essa perspectiva”, comenta Silva.

Área de compras em Xangai 10/05/2021. REUTERS/Aly Song

Diante das projeções, o cenário brasileiro é mais otimista agora do que no começo do ano. O boletim Focus, do Banco Central, já mostra um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,68% para 2023, além da perspectiva de corte de juros, com as curvas mostrando quedas até o final do ano.

Assim, segundo especialistas, investimentos em ações ligadas ao setor doméstico podem ser mais atrativos a curto prazo, uma vez que o exterior passa por um cenário contrário, de juros elevados e inflação também em alta.

Um outro ponto apontado como positivo do investimento em ações é o recebimento de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP). Empresas mais sólidas, com fluxos operacionais mais previsíveis, tendem a pagar dividendos constantemente e sem grandes oscilações em seus valores. 

“Os setores de energia, elétricas, concessões, são aqueles que geralmente têm um fluxo operacional já contratado. O pagamento de dividendos deve ser mais constante nesses casos”, aponta Marcelo Silva. 

Do ponto de vista dos títulos de crédito, o risco/retorno também é compensado. “A eficiência é máxima em ambos casos”, diz.

Vale a pena ser credor de uma empresa?

O investidor não precisa, necessariamente, escolher um ou outro. O recomendado, segundo analistas, é equilibrar o portfólio com mais de um produto. No entanto, investir em ações e títulos de crédito de uma mesma empresa pode significar colocar todos os ovos em uma mesma cesta, uma vez que os recursos ficam alocados em um mesmo negócio.

Caso escolha ser um credor, o investidor empresta dinheiro para que a organização pague suas dívidas por meio de títulos de dívida privada.

Títulos de crédito fazem parte do universo da renda fixa. Em termos gerais, já apresentam previamente o retorno que o investidor receberá. No entanto, o credor pode ficar “congelado” nesse investimento por um período maior devido ao prazo de vencimento do título. Além disso, segundo Ragazi, “uma taxa fixa, geralmente um valor nominal, é o teto para o retorno”.

Na renda fixa, há um limite de ganho. Investindo em ações, o “upside” – potencial de alta de um ativo – depende da capacidade operacional da empresa. 

Outro fator que pode agradar os investidores conservadores é que grande parte dos títulos também tem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que o protege no caso de calote da companhia. “É um tipo de investimento mais recomendado ao conservador, que não quer ficar exposto às variações de preço”, avalia Silva. 

Ragazi, da Nord Research, recomenda empresas que se beneficiem mais da queda dos juros com o efeito da redução das taxas de desconto nos valuations para este momento. “Contudo, é necessário escolher aquelas com uma boa linha de resultados e perfil de endividamento saudável”, explica. 

Rio de Janeiro – Trabalhadores da construção civil, operários reformam telhado de imóvel em obras no Centro do Rio. (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Para quem deseja virar credor de uma empresa, ele lista boas oportunidades de risco/retorno na visão da Nord Research: Inter (INBR32), MRV (MRVE3) e Bemobi (BMOB3).

Já do lado mais arriscado, companhias mais endividadas representam investimentos mais arriscados, de maneira que juros muito altos pressionam seus resultados. Algumas delas são Americanas (AMER3), Oi (OIBR3), Marisa (AMAR3) e Azul (AZUL4), segundo o especialista.

Em janeiro de 2023, a Americanas comunicou um rombo de R$ 20 bilhões em lançamentos contábeis. As dívidas da companhia, que entrou em recuperação judicial, já ultrapassam R$ 50 bilhões. No mesmo caminho, a Oi entrou em seu segundo processo de recuperação judicial neste ano, após a primeira operação ter sido finalizada em dezembro do ano passado. A tele tem dívidas de pelo menos R$ 44,3 bilhões.

A Marisa também faz parte das varejistas em crise. A rede anunciou que deve fechar 91 lojas até o final do ano, em esforços para recuperar sua capacidade de geração de caixa.

No caso da aérea, especialistas do mercado financeiro têm rebaixado empresas do setor – como a Azul – após o recente anúncio de programa de reestruturação de dívidas. A companhia também tem enfrentado maior instabilidade no mercado brasileiro devido às altas taxas de juros e pressão doméstica para reduzir os valores de passagens aéreas.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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