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Finanças

Alexandre Silverio, da Tenax: ‘Brasil não vai escapar de subir carga tributária’

Ex-CIO da AZ Quest diz que o aumento de impostos será indispensável, independentemente de quem ganhar as eleições.

O ex-CIO da gestora AZ Quest, Alexandre Silverio, que em fevereiro deste ano fundou, junto a outros sócios vindos do mercado, a Tenax Capital, avaliou em entrevista exclusiva ao Investnews, que independentemente de quem vencer a eleição presidencial deste domingo (30), o aumento de impostos a partir do próximo ano será “indispensável”. “Não vamos escapar de subir carga tributária no Brasil em 2023”.

Silverio afirmou que, mesmo que um ou outro candidato vença o pleito, o auxílio de R$ 600 e o aumento real do salário-mínimo, por exemplo, já são gastos “contratados”, e o aumento da arrecadação deve ser, portanto, uma ferramenta para financiá-los.

“A gente vai ter um aumento de carga que pode ser através do imposto mais progressivo para a pessoa física ou a definição de alguns setores da economia que vão pagar mais”, considerou Silverio.

Alexandre Silverio, CEO e fundador da Tenax. Crédito: Divulgação.

O gestor lembrou, ainda, da possível taxação de dividendos, defendida pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, para bancar os desembolsos com o Auxílio Brasil.

Nesse sentido, o CEO da Tenax mencionou que a gestora tem focado em pontos de interseção, ou seja, cenários que devem se concretizar no próximo ano paralelamente à decisão eleitoral, para decidir os ativos que compõem os fundos geridos pela casa. Na avaliação de Silverio, “os ativos brasileiros estão bem posicionados para esse momento”.

Sobre os problemas econômicos globais, Silverio comentou que a subida de juros por bancos centrais pelo mundo pode estar se “esgotando”. Além disso, nos próximos meses, a discussão poderá ser voltada ao fim da elevação dos juros em alguns países ou até mesmo a redução – cenário previsto para a Selic a partir do segundo semestre do ano que vem.

Ele exemplificou a recente decisão do Canadá de subir os juros abaixo do que a própria autoridade monetária do país tinha sinalizado.

“A gente tenta mapear agora qual a tendência para a inflação. Vai continuar piorando ou vai começar a se acomodar? Não temos resposta. Mas a sensação é que os indicadores antecedentes da inflação mostram que o aperto das condições financeiras no mundo inteiro, inclusive no Brasil, dá sinais de que vai começar a arrefecer”, avaliou.

A gestora Tenax, que tem hoje 10 sócios, atingiu R$ 1 bilhão em ativos sob gestão em oito meses de atuação. Hoje, ela tem três fundos, dois focados em renda variável e outro no cenário macro, distribuídos por meio de 14 plataformas de bancos e corretoras.

Da esquerda para direita, são: Vinicius Fukushiro, Sergio Silva, Alexandre Silverio e Rodrigo Mello. Crédito: Divulgação.

Confira abaixo trechos da entrevista com Alexandre Silverio:

IN$ – Como a gestora tem lidado com as adversidades econômicas mundiais para fazer a gestão dos fundos?

Silverio – Ao longo desses oito meses de vida dos fundos, a gente explorou um tema principal que chamamos de aperto de condições financeiras. Por trás desse tema está o macro tema de 2022 que é a questão da inflação global.

(…) Quando a gente começou com a Tenax, o FED (banco central dos Estados Unidos) esperava uma taxa de juros de 1,5%, hoje tem um terminal de 5%. A gente sempre foi da tese de que teria que apertar para algo próximo de 4,5%.

A previsão do mercado está até acima do que a gente imaginava há algum tempo atrás. Por uma série de razões, como choques de commodities e disrupção de cadeias de oferta de vários produtos.

Nossa sensação é que esse tema hoje está virando. É o que o mercado chama de pivô, uma mudança por parte dos bancos centrais. Nesta semana, houve uma indicação muito importante disso, que foi o banco do Canadá surpreendendo o mercado ao subir os juros em 50 pontos base em vez de 75 pontos base. Ele praticamente tinha afirmado que ia dar os 75, foi uma surpresa dovish, ou seja, deu menos juros que o esperado.

(…) Nos Estados Unidos, começa algum sinal até mesmo em serviços e dados de houses [construção de moradias], um pouco na direção de que a política monetária começa a fazer efeito em algumas das economias mais desenvolvidas.

Talvez o tema de apertar as condições financeiras esteja se esgotando. O que a gente tenta mapear agora é a tendência da inflação. Ela vai continuar piorando ou vai começar a se acomodar?

Não temos a resposta ainda, mas a sensação é que os indicadores antecedentes da inflação mostram que o aperto de condições financeiras, que teve no mundo inteiro, inclusive no Brasil, dá sinais de que vai começar a arrefecer.

No Brasil, a gente viu o pico de inflação acontecendo há alguns meses atrás, e isso vai rotacionando o nosso portfólio, a gente acredita que o Banco Central vai ter condições de cortar os juros a partir de julho do ano que vem.

Tem consequências para a nossa visão de bolsa, setorial e para a própria moeda. O real continua sendo uma moeda de carrego excelente, e, independentemente do que acontecer a partir da semana que vem, os ativos brasileiros estão bem posicionados para esse momento.

E se a gente estiver certo de que nas próximas semanas e meses a discussão vai ser interromper a ascensão de juros nas principais economias, podemos ter um momento positivo.

Mesmo em um cenário que ainda tem desaceleração economia acontecendo e desafios em relação à China, acho que o Brasil está bem posicionado.

A gente tem um cenário macro que surpreendeu positivamente, com crescimento de 1% no ano que vem e inflação que lá em 2024 vai estar convergindo (para o centro da meta). O Banco Central brasileiro fez o trabalho que tinha que ser feito e subiu os juros de 2% para 13,75%.

Mesmo os países emergentes não tiveram essa capacidade de reação tão rápida, por isso o brasil está bem posicionado.

IN$ – É possível saber qual será o cenário econômico pós-eleições?

Silverio – Independente de quem for declarado vencedor no domingo, o desafio vai ser trazer uma reancoragem fiscal. Quem quer que ganhe vai ter todo o incentivo seja econômico, seja politico de não explodir o fiscal em 2023.

É só acompanhar como funciona o ciclo político/fiscal do Brasil ao longo das ultimas décadas. O governo quando entra, seja reeleito ou novo, o primeiro ano é para arrumar a casa e preparar os quatro anos.

Isso denota e traz a necessidade de segurar gasto. Vai manter o auxílio em R$ 600 e ter aumento do salário mínimo real que já estão contratados, seja no governo Lula ou Bolsonaro. Vai ter aumento de gasto publico. É uma demanda da sociedade e fazemos parte dela.

Mas como que se financia isso? É ai que começa a se escapar das intercessões (…) Lógico que tem toda uma narrativa, no final do dia o que vai acontecer é que no ano que vem vamos ter que encontrar maneiras de financiar o gasto público.

Aí é que o bicho pega. São dois modelos muitos diferentes. Dentro da inserção ainda, acho que a gente vai subir carga tributária no brasil, não vamos escapar disso, seja por meio de (taxação) dividendos (…).

A gente vai ter um aumento de carga que pode ser através do imposto mais progressivo do ponto de vista da pessoa física ou direcionar alguns setores da economia para pagar mais impostos.

Agora, um candidato defende um tipo de atuação, com menor participação do Estado e com privatizações, o outro acredita no gasto publico. Um vai demandar mais tributo, o outro talvez vai financiar isso com a venda de estatais, por exemplo.

IN$ – Como ter uma estratégia de investimentos em meio à incertezas?

Silverio – É um cenário binário para alguns ativos. Petrobras é binário, pode subir muito ou cair muito (dependendo do resultado da eleição). Ao olhar para o portfólio dos nosso clientes, o nosso papel é identificar o que pode ir bem e pode ir mal, independentemente de quem ganhar (a eleição). Estamos há meses debruçados nisso. A gente está em busca das assimetrias (…)

Achamos que os juros no Brasil vão cair, pode cair em uma velocidade ou em outra, mas o juro vai cair no ano que vem. A intercessão é essa. Temos um especialista que vai olhar se é melhor estar no juro real, nominal.

O real por exemplo pode ter algum tipo de movimento muito binário forte, muito para cima ou muito para baixo. Se o real cair, porque algum dos candidatos assusta mais, é uma excelente oportunidade. A gente ter que ser pragmático, é nosso dever.

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