O mercado reagiu de forma negativa aos resultados do banco Bradesco divulgados na véspera referentes ao quarto trimestre de 2022, com redução significativa do lucro, impactada pelo colapso da Americanas (AMER3) e seu guidance para 2023 com projeções consideradas abaixo do esperado.
A ação preferencial BBDC4 encerrou o pregão desta sexta-feira (10) com queda de 8,19%, a R$ 12,67. A ordinária BBDC3, por sua vez, recuou 6,08%, a R$ 11,59.
O lucro líquido contábil do Bradesco recuou mais de 70% no 4º trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 1,4 bilhão. O resultado veio bem abaixo do esperado – a projeção média de analistas consultados pela Refinitiv era de R$ de 4,4 bilhões.
O banco seguiu os passos do Itaú Unibanco (ITUB4) e informou que fez uma provisão extraordinária de R$ 4,9 bilhões para cobrir 100% de sua exposição total à dívida da Americanas, que entrou em recuperação judicial no mês passado após revelar um rombo contábil bilionário.
O presidente do Bradesco, Octávio de Lazari, afirmou nesta sexta que o banco deveria ter limitado mais a política de concessão de empréstimos no quarto trimestre, em meio ao impacto do caso Americanas. Durante conferência com analistas, ele estimou que a provisão para perdas com inadimplência seguirá elevada no primeiro semestre.
Lucro e guidance para 2023 decepcionam
Apesar do resultado impactado pelas provisões contra a dívida da Americanas, analistas da Genial Investimentos avaliaram em relatório, nesta manhã, que já esperavam um desempenho fraco do Bradesco, com “aumento substancial de provisões para crédito e resultado de tesouraria ainda negativo machucando o desempenho das receitas do banco”.
Outro ponto que decepcionou os analistas da Genial foi o guidance do banco para 2023, que, segundo eles, enfraquece qualquer esperança de uma recuperação rápida no curto prazo. O documento prevê lucro de R$ 20 bilhões para o ano fechado, considerado baixo.
“Acreditamos que eventualmente o ROE [retorno sobre patrimônio] volte ao patamar de 18% somente em algum trimestre de 2024. No meio da faixa indicativa do guidance, estimamos um lucro de apenas R$ 20,4 bilhões e ROE ainda anêmico de 12,7% para 2023, praticamente igual a 2022″, destacaram Eduardo Nishio e Wagner Biondo.
Na mesma linha, a Ativa Investimentos, que avaliou que o banco reportou resultados ruins e que continua sofrendo com o avanço da inadimplência em sua carteira, destacou um guidance fraco do Bradesco.
“Embora esperado, nos surpreendeu negativamente no crescimento das despesas operacionais. Quando somamos esses fatores ao provisionamento de 100% da exposição do banco à Americanas, que por sua vez, é o maior entre seus pares, temos novamente um resultado abaixo das expectativas”, destacou a corretora em relatório.
O banco UBS também esperava um lucro projetado maior, de R$ 25 bilhões para 2023. “É importante notar que devido ao lucro muito baixo, o benefício fiscal com o IOF (imposto sobre operações financeiras) deve reduzir significativamente a alíquota efetiva do banco”, escreveram analistas em relatório mais cedo.
Resultado ‘manchado em tinta vermelha’, diz XP
Para os analistas focados em setor financeiro da XP Investimentos, Renan Manda e Matheus Guimarães, o resultado do Bradesco ficou “manchado em tinta vermelha”. Em relatório, eles destacaram que, além do impacto pelas provisões, a inadimplência crescente também pressionou os resultados abaixo do esperado.
“A crescente inadimplência aliada a um evento subsequente também fez com que suas provisões para perdas subissem R$ 7,6 bilhões, para R$ 14,9 bilhões”, destacaram. Segundo eles, o banco deve continuar pressionado nos próximos trimestres devido ao ambiente macro desafiador previsto para 2023.
“Pelo lado positivo, sua exposição à Americanas já está totalmente provisionada, eliminando assim possíveis impactos deste caso em 2023”, observaram os analistas. Eles também destacaram que a margem de lucro de mercado apresentou alguma melhora contra o trimestre anterior, e os resultados do segmento de seguros melhoraram consideravelmente.
‘Nem tudo foi ruim’, destaca o Inter
Matheus Amaral, analista do Inter Research, avaliou em relatório que, apesar do resultado abaixo do esperado, “nem tudo foi ruim”.
“Observamos um bom resultado nas receitas com serviços e tarifas, que vieram em linha com o esperado beneficiadas pelas rendas com cartão de crédito, dado o maior volume transacionado no final do ano. E, mesmo comparando com o quarto trimestre de 2021, também houve forte avanço. Além disso, o ramo de seguros mostrou forte desempenho, pela forte melhora no resultado financeiro”, destacou Amaral.
Alteração de preço-alvo
Amaral apontou que, considerando o guidance divulgado, o ciclo atual do crédito trazendo evolução da deterioração da inadimplência no banco em maior ritmo que os pares, mantém recomendação neutra para a ação do Bradesco, mas com alteração do preço-alvo, de R$ 21, anteriormente, para R$ 15.
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