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AMER3 derrete 77% após leilões; ações ‘rivais’ fecham sem direção

Papéis da Americanas ficaram em leilão por quase 4h30, prorrogado três vezes.

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As ações das Americanas (AMER3) derreteram 77% no fechamento desta quinta-feira (12), após a descoberta preliminar de cerca de R$ 20 bilhões em “inconsistências” contábeis no balanço da companhia, que levou à renúncia do presidente-executivo Sérgio Rial.

Os papéis, que ficaram em leilão por quase 4h30, prorrogado três vezes, chegaram a despencar 80% no dia, a R$ 2,40, queda equivalente a uma perda de R$ 8,66 bilhões em valor de mercado. Alguns bancos colocaram recomendação para os papéis sob revisão.

Americanas. Crédito: Adobe Stock

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu dois processos administrativos para investigar a varejista. Um focado na contabilidade da companhia e outro para a apuração do fato que veio a público.

Mais cedo, o agora Ex-CEO da Americanas falou aos acionistas de que o rombo bilionário é apenas uma estimativa e que a varejista pode precisar aumentar seu capital – sem especificar quanto e se será via follow-on.

Impacto nas ações de varejo

Após essa sinalização, as ações de concorrentes do varejo fecharam sem direção definida. Magazine Luiza (MGLU3) fechou em alta de 5,28%, após chegarem a cai cerca de 7% perto da abertura. Já a VIA (VIIA3) fechou em baixa de 5,38%, enquanto os BDRs do Mercado Livre (MELI34) dispararam 9,45%.

O mau-humor em relação ao setor de varejo e do e-commerce, no começo do dia, foi previsto pelos analistas da Genial Investimentos, uma vez que os investidores devem se questionar se outras empresas estariam adotando as mesmas práticas contábeis da Americanas.

“Nossa análise é de que outras empresas do setor também realizam operações de risco sacado, o que evidência um risco (e nesse momento, é apenas um risco) de ocultação de informações relevantes no balanço dessas companhias”.

De acordo com os analistas Iago Souza, Igor Guedes e Vinicius Esteves, o fato de Sérgio Rial ter deixado a posição com 9 dias nop comando aponta para a gravidade da descoberta e impactos na geração de valor da companhia.

“Acreditávamos que a figura do Rial como cabeça no managment trazia uma confiabilidade em relação à capacidade de execução dos projetos de expansão da Americanas para os próximos anos. Com sua saída, vemos esse brilho se apagando”.

Iago Souza, Igor Guedes e Vinicius Esteves, da genial investimentos

AMER3

Segundo levantamento do TradeMap, as ações da varejista fecharam o pregão da véspera cotados a R$12,00, o que representa uma valorização de 63,27% desde sua menor cotação [16 de dezembro de 2022], e queda de 90,24% se considerar sua cotação máxima histórica [03 de agosto de 2020].

Mas quando feito um recorte entre 14 de julho de 2017 e o pico atingido em agosto de 2020, a alta registrada foi de 903,20%.

Leitura do mercado sobre o caso

No entanto, antes da renúncia de Rial vir a público, os papeis acumulavam a maior alta do Ibovespa neste ano. Hoje, diversos bancos e analistas colocaram a recomendação dos papéis AMER3 em revisão e destacaram risco de investimento. Caso da XP, Itaú BBA, Morgan Stanley, Bradesco BBI e Genial Investimentos.

A equipe do Bradesco BBI classificou como uma “inconsistência contábil considerável e sem precedentes” e considerou a notícia “bastante negativa”.

“Nós e o mercado ainda carecemos de detalhes para medir efetivamente como, e por quanto tempo, o balanço e o ‘P&L’ (linha final do balanço) podem ter sido deturpados/impactados. O impacto potencial nos resultados futuros também não está claro”, afirmaram em relatório enviado a clientes.

Na avaliação feita na véspera pelos analistas da Genial Investimentos, como a Americanas passa a dever as instituições financeiras e não a fornecedores, os números fidedignos não estariam sendo refletidos no balanço, uma vez que os analistas creem que os valores negociados nessas operações não tramitaram em sua integralidade pela conta de Empréstimos e Financiamentos.

“Não sabemos, até o momento, o quanto dos R$ 20 bi de fato estão fora do balanço e qual o percentual desse valor estará sujeito a reclassificação de contas”, disseram em relatório.

Neste caso, o grande impacto estaria, além de liquidez e reprecificação de múltiplos da companhia, no efeito de alavancagem financeira da Americanas. Isso porque, ao não declarar em integralidade os saldos das operações, a companhia subestimou em seu balanço o tamanho do endividamento, que tinha um valor declarado de R$ 20,8 bilhões, aponta a casa de análise.

“Hoje, com as informações consolidadas do 3T22, a Americanas mantém uma alavancagem de quase 4,0x, o que é considerado um patamar alto em “condições normais de temperatura e pressão”.

Reprecificação dos balanços?

Uma reprecificação do balanço poderia estourar os covenants, aumentar consideravelmente a alavancagem financeira da companhia, forçando a negociação com os debenturistas, o que possivelmente causaria a rolagem da dívida a taxas maiores e um severo rebaixamento de rating das agências de crédito (Fitch está hoje em BB-). Para não estourar os covenants, o evento poderia abrir espaço para uma chamada de capital de seus principais controladores.

Por isso, os papeis foram rebaixados pelos analistas da Genial de compra para venda, reduzindo o preço alvo de R$ 28,40 para R$ 9,40. No entanto, novas revisões serão feitas com base em mais informações sobre o caso.

Em reunião na manhã desta quinta-feira, Rial disse que a Americanas tem cerca de R$ 9 bilhões em caixa e que poderá gerar um lucro operacional medido pelo Ebitda de R$ 1,5 bilhão a R$ 1,7 bilhão “neste ano”, ante R$ 3,3 bilhões em 2021. A dívida bruta de cerca de R$ 30 bilhões é de longo prazo em sua maior parte, disse o executivo.

“Vai ter um capex (investimento) menor, vai ser capaz de gerar mais capital de giro do que em 2022, não vai ser capaz de pagar despesas financeiras em sua totalidade e portanto vem aqui a necessária infusão de capital”, disse Rial, incluindo entre as opções um “movimento estratégico” que poder abrir “oportunidade para redesenhar algumas coisas no setor”.

Para Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed, o papel da varejista “nunca foi bem quisto, sempre teve volatilidade alta e apanhou bastante nos últimos anos desde a explosão da covid-19.”

Menin também ressaltou que Rial é bem visto pelo mercado, conhecido pela ótima gestão que faz e que a saída dele apontando para uma inconsistência mostra que os investidores podem estar diante de uma possível fraude. “E o mercado não gosta disso. É só vermos o que aconteceu com a IRB”.

“O impacto no balanço é de R$ 20 bilhões, mas o quanto essa dívida de fato vai representar? E quais outros desdobramentos desses R$ 20 bi podem aparecer no balanço?

Outro ponto levantando pelo analista é sobre qual é o banco credor. “Se a Americanas der default você pode gerar um cross default na indústria. Então, é uma bomba. Nessa situação, é sempre recomendado ficar o mais longe possível. O mercado geralmente bate primeiro e depois pensa, ou seja, vende primeiro e depois analisa. Então, com certeza, em um apontamento de fraude que fez um CEO e CFO nomeados há pouquíssimos dias extremamente competentes e com muita credibilidade resignarem dos cargos é algo bastante sério”.

A ação AMER foi formada em 2021 com a união das lojas físicas do grupo com a operação online que estava sob a antiga B2W. Até a véspera, os papéis amargavam queda de 68,7% em 2022, em linha com a desvalorização das ações de empresas de tecnologia, diante de desaceleração das vendas, inflação e juros altos. No terceiro trimestre, a Americanas teve prejuízo de mais de R$ 200 milhões.

Em agosto, as ações da Americanas chegaram a disparar quase 20% em um só dia, após o anúncio de que, em substituição a Miguel Gutierrez, que ocupava o cargo por 20 anos, Rial assumiria o comando da empresa.

Crédito: Adobe Stock

*Matéria em atualização

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