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Emissões de renda fixa crescem 25% no 1º semestre; renda variável cai 75%

Alta da taxa de juros e inflação contribuíram para aumento dos investimentos em renda fixa no Brasil em 2022.

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O mercado de capitais doméstico registrou um aumento de 25% nas emissões de renda fixa no primeiro semestre deste ano, enquanto o volume em renda variável continuou em forte queda, segundo balanço divulgado na tarde desta quinta-feira (7) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

“A gente teve uma pequena retração em termos gerais no volume do mercado de capitais doméstico, com destaque na renda fixa, que teve um aumento de 25% no volume de emissões e acabou superando uma parte da queda que veio da renda variável e dos híbridos. O mercado de renda variável vem sofrendo com os IPOs em um compasso de espera não só no Brasil, mas no mundo todo, nos últimos dois anos, principalmente desde o segundo semestre de 2020”, afirmou José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima

De acordo com ele, o aumento da taxa de juros é um movimento natural para o crescimento em renda fixa, principalmente no Brasil, que é um país conservador nos investimentos. No mês passado, o Banco Central aumentou a Selic, a taxa básica de juros, para 13,25% ao ano.

O volume de renda fixa, entre janeiro e junho de 2022, foi de R$ 202 bilhões. Já as emissões de renda variável somaram R$ 19 bilhões, uma queda de 75,1% em relação ao mesmo período do ano passado, e R$ 12 bilhões de híbridos (menos 56,1%). O volume total de transações foi de R$ 233 bilhões no período, 12,1% menor do que em 2021.

Inflação afeta bolso do consumidor brasileiro

Para Cristiano Cury, vice coordenador da Comissão de Renda Fixa da Anbima, é natural que o custo de capital se mova com a inflação alta.

“Os números refletem muito o que a gente tem visto, uma maior volatilidade de mercado e uma maior aversão ao risco global, não é uma coisa Brasil, é um movimento global de inflação e taxa de juros”, disse.

Segundo Cury, outra atividade que justifica o aumento na renda fixa é a presença de investidor institucional, como seguradoras e fundos de pensão, que passaram longo tempo fora do mercado de capitais e estão retornando devido ao cenário econômico.

Destaque renda fixa

Dentro da renda fixa, o destaque foram as debêntures, com avanço de 35,3% nas captações, para um volume de R$ 133,8 bilhões em 255 emissões. O prazo médio dos papéis foi de 6 anos e o setor de energia elétrica lidera as emissões com R$ 33 bilhões. Ao todo, 49 emissões foram acima de R$ 1 bilhão.

Os debêntures tiveram 83,5% das emissões indexadas por DI+Spread (pós-fixado) e 36,7% dos recursos destinados ao aumento de capital de giro.

Novos produtos de renda fixa

Veja a evolução de novos ativos do mercado de renda fixa:

Fiagros
Os Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais somaram R$ 4,2 bilhões no volume encerrado entre agosto de 2021 e junho de 2022.

Notas comerciais
A Nota Comercial é um título corporativo que representa uma empresa de seu emissor e pode ser de propriedade da sociedade limitada anônimas, promessas ou cooperativas. O volume encerrado entre novembro de 2021 e junho de 2022 foi de R$ 17 bilhões.

Ativos Tokenizados
As debêntures e Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) captaram R$ 82 milhões entre maio de 2022 e junho de 2022. O lançamento aconteceu em junho, por meio da plataforma Vórtx QR, a primeira regulada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

IPOs em baixa

O lançamento de novos IPOs (ofertas iniciais de ações) foi prejudicado devido à dinâmica do mercado, com a B3, principal bolsa de valores brasileira, operando abaixo dos 100 mil pontos, e ocorreu um grande volume de saques desse tipo de papel.

“O desempenho das empresas, principalmente que estrearam no mercado no ano passado, não foi bom. O mercado mesmo caindo se sustentou em cima de ações mais tradicionais como bancos e commodities. Essa sensação de que os IPOs não foram bem sucedidos impediram que novas empresas ascendessem ao mercado de capitais de renda varável nesse primeiro semestre”, segundo o vice-presidente da associação.

A maior parte dos recursos de renda variável foram destinados ao capital de giro das empresas (10,8%) e aquisições e participações acionárias (39,5%) e atividades operacionais (41,7%), com reforço de caixa e crescimento.

Mesmo com menor volume do que em 2021, a maior parte das emissões de renda variável foi primária em 2022 (quando a empresa emite ações e embolsa os recursos). A oferta secundária ocorre quando sócios vendem sua participação na forma de ações. Confira:

IPO (abertura de capital)

  • Emissão primária de ações: 68,1%;
  • Distribuição secundária de ações: 31,9%;
  • Volume: R$ 35,7 bilhões no 1º semestre de 2021, contra R$ 400 milhões em 2022.

Follow-on (emissão de novas ações)

  • Emissão primária de ações: 95,2%;
  • Distribuição secundária de ações: 4,8%;
  • Volume: R$ 40 bilhões no 1º semestre de 2021 e R$ 18,5 bilhões no mesmo período de 2022.

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