Finanças
Fundos captam R$ 206 bilhões no 1º semestre; renda fixa e multimercados lideram
Indústria de fundos cresceu 19,5% no último ano com investidores procurando diversificação.
Os fundos de investimento tiveram uma captação líquida de R$ 206 bilhões no primeiro semestre de 2021, puxados principalmente pelas categorias renda fixa e multimercados, responsáveis por R$ 180,3 bilhões, segundo dados apresentados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) nesta quarta-feira (7).
Este foi a maior série histórica de captação dos fundos de investimento para um primeiro semestre, um crescimento de 1723% em comparação ao mesmo período em 2020, quando a captação acumulada somou R$ 11,3 bilhões.
A indústria de fundos também apresentou um crescimento de 19,5% no primeiro semestre deste ano, com um patrimônio líquido de R$ 6,6 trilhões. Segundo Pedro Rudge, diretor da Anbima, este aumento de patrimônio se deu graças a um movimento de diversificação dos investidores, com a renda fixa perdendo espaço, e os fundos imobiliários e multimercados ganhando concentração.
O investimento no exterior também ganhou destaque, com a procura de uma diversificação geográfica e de moeda pelos investidores.
O número de fundos no 1º semestre chegou a 24.169, com 28.295 milhões de contas e 755 gestores.
A melhor captação da indústria para um semestre
A captação líquida dos fundos até junho de 2021 foi a melhor para um primeiro semestre, com R$ 206 bilhões. Segundo Rudge, da Anbima, este resultado exponencial foi fruto de uma base de comparação fraca da indústria de fundos em 2020, fortemente impactada pela pandemia.
O segundo melhor ano da indústria de fundos foi 2019, com uma captação de R$ 147 bilhões para o primeiro semestre e na terceira posição está 2017, com R$ 123,6 bilhões captados.
No primeiro semestre deste ano, a captação foi puxada pelos fundos de renda fixa, responsáveis por R$ 98,9 bilhões, com movimentos concentrados em fundos de baixa duração.
Os fundos multimercados também tiveram uma participação forte, com uma captação de R$ 81,4 bilhões. E na terceira posição estão os Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) com uma captação de R$ 51,7 bilhões, sendo um único fundo concentrou R$ 33 bilhões.
No lado oposto, algumas categorias foram afetadas. É o caso dos fundos de ações com R$ 3,2 bilhões captados, o resultado foi impactado pela amortização de um fundo de pensão no valor de R$ 43,9 bilhões e uma mudança de classe de um fundo com patrimônio de R$ 20 bilhões. “Sem estes movimentos específicos a magnitude da série seria maior”, aponta Rudge.
Distribuição de patrimônio líquido
Do patrimônio líquido total de R$ 6,6 trilhões da indústria de fundos, 35,6% está concentrado na renda fixa, 23,7% em fundos multimercados, 15,3% em previdência e 10,6% em ações.
Segundo Pedro Rudge, a renda fixa vem perdendo espaço para outras classes, em um cenário de juros considerados historicamente baixos, situação que deve continuar no segundo semestre. Enquanto a procura por fundos multimercados e de ações está aumentando, de olho em retornos maiores.
Distribuição de contas
Na distribuição das 28.295.661 milhões de contas também é perceptível este movimento de migração com a renda fixa perdendo relevância, com uma concentração de 35% das contas no 1º semestre de 2021, em comparação a 44% das contas no mesmo período em 2020.
Já os fundos imobiliários ganharam espaço, concentrando 19% das contas no 1º semestre, enquanto em 2020 tinham uma participação de apenas 12% para o mesmo período.
Os fundos multimercados também tiveram um crescimento, com 17% das contas enquanto no primeiro semestre de 2020 tinham apenas 13% destas.
Exterior fica atrativo
O destaque do primeiro semestre foi dos fundos de investimento no exterior, que apresentaram um crescimento de 38,4% em relação a junho do ano anterior. O patrimônio líquido destes fundos chegou a R$ 799,7 bilhões concentrados nas categorias de ações de investimento no exterior e multimercados de investimento no exterior.
A captação líquida dos fundos multimercados com exposição a investimentos no exterior foi de R$ 54 bilhões enquanto os fundos de ações e renda fixa captaram R$ 17,9 bilhões e R$ 1,8 bilhão respectivamente.
O número de contas de multimercados com investimentos no exterior aumentou 15% totalizando 352 mil.
Rentabilidade dos fundos
Em relação a rentabilidade dos ativos desde janeiro de 2020 até junho de 2021, os fundos multimercados e de ações bateram o Ibovespa no período.
Na categoria dos multimercados, os de investimento no exterior tiveram um retorno de 15,6% no período e os multimercados estratégias livre entregaram 11,5%, enquanto o Ibovespa teve um retorno de 9,6% no mesmo período.
Já entre os fundos de ações, todas as categorias superaram o retorno do Ibovespa desde janeiro de 2020: Ações Ativos Livre (15,4%), Ações Investimento no Exterior (13,9%) e Fundos de Ações Small Caps (11%).
O que esperar para o segundo semestre?
Segundo Pedro Rudge, diretor da Anbima, para o segundo semestre de 2021 a tendência para a indústria de fundos segue positiva, com aumento na captação líquida.
Em relação às classes, a renda fixa pode continuar perdendo espaço, considerando que a taxa de juros de 6,5% ao ano até o final de 2021 ainda é considerada historicamente baixa, neste cenário os fundos multimercados e de ações continuam ganhando novos investidores, afirmou ele.
Rudge também apontou que a Anbima está atenta a novos desdobramentos da reforma tributária de olho nos principais impactos nos fundos de investimento. “Nossa ideia é abrir um diálogo com o Executivo para mostrar nossas preocupações sobre os impactos da tributação na indústria de fundos”, afirmou.
Entre os pontos mais sensíveis, ele destacou a tributação dupla que alguns cotistas devem sofrer no pagamento de dividendos e no resgate da cota, que deve aumentar o custo dos fundos. Rudge também destacou a tributação dos fundos fechados, que possuem baixa liquidez e poucos recursos para pagar impostos no momento.
Já entre os pontos positivos, ele citou a alíquota de 15% para a renda fixa, que vai em direção a simplificação.
“A Anbima acredita que a reforma tributária deve caminhar na simplificação e alguns pontos não são coerentes com isso. Mas é importante destacar que a primeira versão não será a final, estamos confiantes de que a proposta seja aperfeiçoada”, apontou o diretor da Anbima.