Depois da alta de 23% em 2022, o CDS (Credit Default Swap), título que funciona como uma espécie de seguro para operações de crédito no país e mensura o risco-Brasil, se destaca em 2023 como uma das maiores quedas numa lista com outros 20 países. Especialistas apontam que a melhora da percepção do mercado sobre a situação fiscal ao longo do ano ajuda a explicar o resultado, ao lado do cenário econômico.
O CDS do Brasil com vencimento em 5 anos acumula queda de cerca de 40% em 12 meses, atrás apenas dos recuos do indicador de Coreia do Sul e Austrália. O cálculo foi feito pelo consultor independente Einar Rivero com dados do Investing.com até o dia 12 de dezembro.
Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, nota que o movimento do CDS no Brasil acompanhou paralelamente as discussões sobre o arcabouço fiscal em Brasília, desde a proposta enviada pelo governo ao Congresso até a aprovação final –incluindo as incertezas que chegaram a apagar, em março, a baixa acumulada pelo CDS até então.
“Logo após a divulgação do arcabouço fiscal, que era uma das principais incertezas do ano, o CDS Brasil engatou uma tendência de baixa, que foi se acentuando conforme as reformas e pautas importantes para aprovação foram sendo bem encaminhadas na Câmara dos Deputados e no Senado”.
Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.
Embora ainda haja dúvidas sobre a capacidade do governo em obter receitas suficientes para cumprir a regra do novo arcabouço fiscal, a aprovação foi bem vista pelo mercado. Mas o analista Luiz Gustavo Almeida, da Levante Corp, cita outros fatores internos que também melhoraram o humor do mercado local, especialmente macroeconômicos.
“Nos últimos anos, o país implementou uma política monetária eficiente, conseguindo minimizar a inflação com impacto limitado no PIB, especialmente se comparado a outras nações emergentes e desenvolvidas. O Brasil se destacou ao ser um dos primeiros a elevar as taxas de juros, seguido por uma flexibilização precoce da política monetária em 2023.”
Luiz Gustavo Almeida, da Levante Corp.
A dúvida do mercado agora é o que deve acontecer com o CDS em 2024, com especialistas apontando para um cenário bastante indefinido.
Fernandes comenta que a aprovação de novas reformas, como a administrativa, e a aproximação de um déficit primário zerado em 2024 devem permitir que o CDS siga sua tendência de queda. Por outro lado, “uma deterioração do cenário fiscal, muito fora do que o mercado espera, pode provocar alta no CDS Brasil”.
Já Almeida avalia as possibilidades sob a perspectiva da política monetária, e não somente a interna, e nesse sentido acredita que “a situação econômica atual sugere a continuidade da redução do prêmio de risco no Brasil, com o ciclo monetário se tornando mais flexível”.
Isso porque, “na última quarta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou discussões sobre possíveis cortes de juros” nos Estados Unidos, como lembra o especialista, o que abre espaço para que a taxa Selic no Brasil continuem caindo e beneficiando a economia.
“Atualmente, o cenário está favorável, sustentado principalmente pela desaceleração contínua da inflação no país”, comenta o analista da Levante.
Estados Unidos: risco dispara
No ranking do indicador da percepção de risco no último ano, chama a atenção a disparada de 136% do CDS dos Estados Unidos, o que coloca o mercado norte-americano numa posição entre Israel e Egito, dois países envolvidos na mais recente guerra contra o Hamas, no Oriente Médio.
Mas o que assustou os investidores sobre o mercado dos EUA nos últimos meses não foram diretamente os conflitos geopolíticos (embora os gastos externos em guerras também pesem), mas sim a evolução da dívida pública do país, explicam os especialistas.
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“Os EUA estão enfrentando sérios desafios fiscais, negligenciados pela classe política. Tradicionalmente, os republicanos favorecem cortes de impostos, enquanto os democratas tendem a aumentar os gastos públicos, uma dinâmica cada vez mais insustentável. O presidente atual tem elevado os gastos, seguindo tendências populares e visando à reeleição, o que pode intensificar ainda mais os gastos em 2024, um ano eleitoral”, explica Almeida.
Fernandes acrescenta que “a dívida (dos EUA) não para de subir, e já está em um patamar que começa a deixar os investidores em alerta. A China vendendo um volume alto de títulos americanos ajudou a aumentar essa percepção de risco nos EUA”.
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