Em um ano negativo para o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, e mesmo diante de muitas incertezas sobre a recuperação da economia, as ações de empresas varejistas vêm se destacando entre os ganhos. Segundo relatório da casa de análise Eleven Financial, as perspectivas para o setor em 2020 são positivas, especialmente para as empresas de comércio eletrônico.
“Ao que tudo indica, a despeito da pandemia, o ano de 2020 deverá ter recorde de vendas no e-commerce brasileiro com a inclusão digital de milhares de novos consumidores. Outro fator que poderá favorecer as vendas do varejo neste final de ano é o efeito da demanda reprimida no consumo no primeiro semestre, com o início da pandemia.”
Para o investidor interessado em comprar ações do Varejo, existem diversas opções na bolsa – e de diferentes segmentos, desde varejo alimentar até vestuário. Para ajudar nessa escolha, o InvestNews preparou um comparativo entre algumas das principais varejistas listadas na B3: Magazine Luiza (MGLU3), B2W (BTOW3) e Via Varejo (VVAR3). Para selecionar as ações, o levantamento considerou os maiores volumes de negociação, de acordo com informações da provedora de dados financeiros Economatica.
Esta matéria faz parte da série Comparativo InvestNews, que confronta os papéis de companhias do mesmo setor na bolsa. Veja abaixo as próximas matérias previstas:
- 4/11 – Varejo
- 11/11 – Telecomunicações
- 18/11 – Bancos
- 25/11 – Educação
Veja abaixo as considerações sobre as três empresas feitas por Gustavo Akamine, analista da Constância Investimentos, e Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Ideias de Investimentos.
Magazine Luiza
MGLU3 | Ibovespa | |
Variação em 2020* | 113% | -16% |
Variação desde a estreia da empresa na bolsa (2011) | 5.396% | 46% |
(Fonte: Economatica. *Dados até 29/10)
A ação da varejista vem se destacando – e muito – nos últimos meses. Em 2020, o valor mais que dobrou, em um avanço puxado pela aposta do mercado de que a consolidação da empresa no e-commerce deve continuar dando bons resultados mesmo durante a pandemia do novo coronavírus.
“Se você colocar numa janela maior de tempo, a empresa se preparou para isso. Se posicionou para ser um player relevante em e-commerce e investiu muito nisso”, aponta Akamine, mencionando que a Magalu “provavelmente vai dobrar o volume de vendas neste ano”.
A valorização fez com que a ação da Magalu ficasse menos acessível para muitos investidores. Em 2019, o papel chegou a passar de R$ 200, antes de passar por um desdobramento que “fatiou” o preço em várias partes. Recentemente, a empresa anunciou um novo desdobramento dos papéis, com objetivo de tornar o investimento mais facilitado para quem possui menos recursos.
Akamine aponta que o preço elevado da ação deve ser incluído na conta do investidor no momento de decidir se entra ou não no investimento. “Ao entrar agora, o investidor acaba pagando por muitos anos de desenvolvimento”, aponta ele, acrescentando ainda a possibilidade de “especulação” em torno da continuidade do avanço da Magalu. “Por se tratar de uma das ações que estão na moda, tem um efeito manada que se retroalimenta”, acredita.
Sobre a disparada de Magalu nos últimos meses, Guimarães acredita que “não vai ter outro caso de valorização tão expressiva na bolsa. É uma em 1 milhão”.
Os especialistas comentam ainda as expectativas do mercado sobre a capacidade da empresa para seguir apresentando bons resultados. Guimarães afirma que, independentemente da alta da ação, a empresa “no fim vai ter que entregar crescimento de lucro e rentabilidade”.
Akamine afirma que “o que deve ser mais questionado é a avaliação, o preço, porque, em termos de infraestrutura, tem pouca discussão sobre como a empresa é capaz de executar o que é planejado.”
“Magazine Luiza é vista como a melhor do setor, apresenta a melhor execução, tem conseguido crescer rápido. Tem uma exposição gigantesca ao e-commerce e isso tem afetado no curto prazo. Mas também tem uma avaliação muito cara”, resume Akamine.
B2W
BTOW3 | Ibovespa | |
Variação em 2020* | 32% | -16% |
Variação desde a estreia da empresa na bolsa (2007) | 15% | 75% |
(Fonte: Economatica. *Dados até 29/10)
Também beneficiada pelo avanço do e-commerce em ano de pandemia, a empresa se destaca entre os maiores ganhos da bolsa no acumulado deste ano. A B2W é da Lojas Americanas, e tem marcas importantes como Submarino e Americanas.com. No entanto, os analistas ressaltam que o fato de a empresa raramente apresentar lucro deve ser analisado com cautela.
“É realmente a que mais precisa se provar e entregar resultado”, diz Guimarães ao comparar a empresa com as rivais. “Agora falta começar a entregar lucro. A hora da verdade é este ano, se vai fazer uma inflexão na geração de caixa. Porque, se precisar de novo chamar capital, o mercado perde um pouco a paciência”, diz o analista.
Os especialistas comentam ainda os aportes que a empresa já precisou receber das Lojas Americanas. Akamine afirma que existe “um questionamento de rentabilidade a respeito do investimento em B2W”, mas ressalva que “é provável que esteja cada vez mais perto de não precisar de injeções” de recursos de sua dona.
Outra questão levantada pelos analistas é que, assim como a Magazine Luiza, o preço da ação da B2W também deve ser considerado na decisão de investir ou não. Akamine menciona os custos de investimento em tecnologia para se consolidar no mercado de e-commerce.
“Nesse sentido, certamente Magazine Luiza e Mercado Livre estão mais preparados, e B2W logo atrás. A questão é o preço que você paga por isso. Em quase todas as empresas, você já paga por um futuro promissor, principalmente essas com exposição ao e-commerce.”
Outro ponto em comum entre a avaliação de Magazine Luiza e B2W é a relação entre a expectativa dos investidores e as possibilidades. “Num primeiro momento, de mais euforia, (o investidor) pode ficar vários anos sem crescimento de valor expressivo na ação porque ela já implica hoje em uma visão muito otimista do futuro. E, caso o e-commerce não continue nessa mesma velocidade avassaladora que está ocorrendo recentemente, os investidores podem acabar se desapontando”, aponta Akamine.
Via Varejo
VVAR3 | Ibovespa | |
Variação em 2020* | 63% | -16% |
Variação desde a estreia da empresa na bolsa (1996) | 1.089% | 1.398% |
(Fonte: Economatica. *Dados até 29/10)
Para os analistas ouvidos pelo InvestNews, na comparação com Magazine Luiza e B2W, a Via Varejo ficou para trás na corrida pela consolidação no comércio online. No entanto, eles apontam que o tamanho da empresa e a presença no varejo nacional não devem ser colocados de lado – pelo contrário.
“A Via Varejo tem uma presença nacional muito forte. Dentro do varejo offline, tem uma presença enorme. O que tem tentado fazer é tirar o atraso no e-commerce”, diz Akamine sobre a empresa, donas de marcas como Casas Bahia e Pontofrio.
Guimarães também afirma que a varejista “ficou para trás” das demais no quesito da tecnologia. Mas ele complementa que, além da presença forte no varejo de lojas físicas, a Via Varejo tem ainda o diferencial da consolidação entre os consumidores com menos recursos.
“Existem mais de 50 milhões de brasileiros não bancarizados. A Casas Bahia tem esse conhecimento de vender por carnê, crediário. Tem esse conhecimento de que brasileiro de classe mais baixa compra parcelado”, diz Guimarães.
Além das características do negócio, os analistas também destacam o momento que a Via Varejo está vivendo, com um processo de reestruturação interna e novos gestores. “Eles trouxeram um time dos sonhos, com métricas fantásticas de entrega. Agora vai ser a hora da verdade”, aponta Guimarães.
A expectativa do mercado agora é saber se as mudanças internas vão ajudar a alavancar o segmento de comércio online da empresa. No entanto, apesar da força apontada como menor nas vendas digitais que as rivais, a Via Varejo também soube usar seus recursos para obter um bom desempenho na pandemia. Com isso, acumula alta de mais de 60% na ação neste ano.
“Uma coisa que aconteceu com o varejo em geral foi que, com a pandemia, houve a queda das cadeias de suprimento. Quem está se apropriando mais dos ganhos é justamente quem consegue ter estoque próprio, comprar direto com o fornecedor. Com as vendas próprias, a Via Varejo está conseguindo ganhar mais dinheiro”, diz Akamine.
O especialista resume que a Via Varejo “já tem um espaço enorme no offline, (o processo de mudanças) ajuda a alavancar o e-commerce e é uma avaliação que não é tão cara quanto as outras duas (Magazine Luiza e B2W)”.
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