A Ethereum, segunda maior blockchain do mundo, passará por uma grande atualização nos próximos dias. Chamada The Merge, a mudança está prevista o dia 15 de setembro. Especialistas consultados pelo InvestNews apostam que a atualização será bem-sucedida e avaliam que ela deve proporcionar valorização da criptomoeda nativa da rede, a ether (ETH).
O The Merge promoverá uma mudança na validação da rede, passando da atual Proof of Work (prova de trabalho, em português) para a Proof of Stake (prova de participação, em português).
Rony Szuster, analista de research do Mercado Bitcoin, explica que essa atualização já era esperada há muitos anos, desenvolvida há muito tempo e que se encaixa muito bem no “guia” da Ethereum. “É importante fazer essa mudança, pois eles querem se beneficiar de todos aspectos que o Proof of Stake tem e o Proof of Work não”, avalia Szuster.
De acordo com o CEO da Brasil Bitcoin, Marco Castellari, como a Ethereum passará a suportar essa prova de participação oficialmente, o esperado é que a rede passe a ter menos moedas em circulação e, assim, o valor da criptomoeda tende a subir, por causa do princípio de oferta e demanda.
O que é o The Merge da Ethereum
O The Merge (fusão, em tradução livre) é uma modificação que acontecerá na validação da rede da Ethereum, passando do atual mecanismo de consenso, o Proof of Work (PoW), para o Proof of Stake (PoS).
Para acontecer de forma bem-sucedida, pesquisadores e desenvolvedores do Ethereum dividiram esse processo em duas etapas. A primeira aconteceu em dezembro de 2020. Naquele mês, foi criada pelos desenvolvedores a blockchain “Beacon Chain”, já utilizando a prova de participação. O objetivo era trabalhar de maneira paralela à rede principal da Ethereum, evitando problemas na continuidade de dados.
Agora, a segunda fase será o momento em que a rede Ethereum fará a mudança de forma definitiva. A fusão será uma junção da rede atual com a nova, concluindo a mudança para a prova de participação.
Para que serve a atualização The Merge?
Alguns dos objetivos da atualização são promover eficiência da rede, escalabilidade e melhora da segurança.
Com essa alteração, a validação da rede deixará de ser por meio de gasto computacional e energético e ocorrerá por meio de valor travado na blockchain. A expectativa é que o consumo energético da rede seja reduzido em 99,5%.
Até então, as transações são mineradas por meio de uma rede descentralizada de computadores para a resolução de problemas matemáticos. Com isso, mineradores competem entre si para serem os primeiros a resolver o algoritmo criptográfico. Quem conseguir primeiro ganha a recompensa com criptomoedas adicionais. Assim, o “vencedor” é determinado por quem possui os computadores mais potentes.
Com o The Merge, a mineração não será mais o meio de produzir blocos válidos. Em vez disso, os validadores de prova de participação assumem essa função e serão responsáveis por processar a validade de todas as transações por blocos.
No Proof of Stake, a criação do próximo bloco para validação é baseada no quanto se é colocado de criptmoeoda na blockchain que se busca minerar. Ou seja, o usuário precisa ter criptomoedas da rede que devem ser colocadas dentro de uma carteira específica, onde ficam “congeladas”. Para isso, é necessário uma quantidade mínima para conseguir ser um validador das transações.
O “vencedor”, no entanto, é escolhido de forma aleatória pelo sistema, sempre com base na quantidade de criptomoeda que o usuário colocou de reserva para fazer a validação das transações. Quanto mais criptoativos “congelados” o usuário tem na rede, aumentam as chances de ele se tornar um validador, mas não é uma garantia.
Na rede Ethereum será preciso ter pelo menos 32 unidades de ether, que permitem o credenciamento do computador para trabalhar na confirmação de transações. Como recompensa, o validador recebe uma porcentagem das unidades de criptomoedas investidas.
Confira as principais alterações que a Ethereum passará com o The Merge:
O que esperar após o The Merge?
Para Rony Szuster, analista de research do Mercado Bitcoin, são esperadas duas mudanças: a ambiental, com redução de gasto energético; e a econômica, no token da ethereum.
Szuster explica que a atualização da rede promoverá redução do gasto energético, que vai acabar com o modelo mais competitivo (prova de trabalho) e colocará um modelo mais colaborativo (prova de participação).
O segundo ponto, de acordo com Szuster, é o impacto econômico no ether. Segundo ele, esse novo modelo de validação da rede vai acabar com a mineração e com a recompensa que os mineradores recebem quando mineram os blocos como forma de incentivo para eles continuarem protegendo a rede.
“Vai ter uma redução muito acentuada na emissão de ether. Ao invés de pagar o minerador, a rede vai aguardar as recompensas de stake para quem validar o bloco, que deve ser muito menor do que é emitido de ether hoje. A tendência é que, depois do The Merge, haja mais blocos deflacionários da rede ethereum do que inflacionários, ou seja, mais ether sendo tirado de circulação do que colocado como recompensa do Proof of Stake”, destaca Szuster.
Para o CEO da Brasil Bitcoin, Marco Castellari, a partir dessa mudança, o ether (ETH) tende a crescer muito em longo prazo, não só em valor como também em confiabilidade.
Paulo Aragão, cofundador do CriptoFácil, destaca que, com o The Merge, pode-se esperar que a rede Ethereum tenha uma escalabilidade ainda maior, ou seja, processe ainda mais transações por minuto e, consequentemente, isso pode acabar atraindo ainda mais soluções para “rodarem” na blockchian.
“Hoje, por exemplo, já temos algumas soluções de camada 2, que visam diminuir as taxas de transação da rede. Acredito que cada vez mais essas soluções ganhem tração, pois uma das formas de ganhar escalabilidade com taxa baixa são essas camadas 2”, considera Aragão.
The Merge pode afetar o preço do ether?
Por volta das 17h de 29 de agosto de 2022, o ether, segunda maior criptmoeda do mundo em valor de mercado (US$ 186 bilhões), era negociado a US$ 1.531,61, acumulando uma desvalorização de mais de 52% em um ano e recuo de 58% somente em 2022.
Veja o desempenho da criptmoeda desde o seu lançamento, em agosto de 2015, até 17h de 29 de agosto de 2022:
Rony Szuster, analista de research do Mercado Bitcoin, afirma que é esperado que o ether se valorize, já que ocorrerá mais retirada do que entrada da criptomoeda em circulação até que se atinja um equilíbrio ao longo dos anos.
“É como se o Banco Central estivesse retirando reais de circulação do Brasil. Ele se apreciaria frente a outras moedas. O raciocínio é análogo. Reduzindo a emissão, dado que mantenha a ‘queima’ atual da criptomoeda, cada ether estará valendo um pouco mais do que antes. Obviamente, é uma expectativa com dados que temos hoje. Não é garantido, mas é uma tendência”, afirma Szuster.
Paulo Aragão, cofundador do CriptoFácil, avalia que o que vai acontecer com preço do ether é diretamente dependente do sucesso da atualização da rede.
“A atualização é bastante sensível, mas já foi testada há algum tempo pelo time desenvolvedor, chegando a sofrer alguns atrasos, o que é natural e bom, pois significa que está sendo bem feito, testado, antes de ser colocado em prática de fato. Sendo um sucesso, eu, particularmente, acredito que seja, o preço tende a conseguir uma valorização, pelo menos em um período curto, mesmo a gente estando no dito inverno cripto” , considera Aragão.
Medeiros, sócio da Quantzed Criptos, explica que existe muita especulação no preço do ether, que os contratos de derivativos abertos superam os do bitcoin pela primeira vez na história.
“Como esse jogo especulativo ficou muito grande, é impossível prever o movimento de curtíssimo prazo, mas no médio/longo prazo, com certeza, a atualização é positiva para o preço do ether”, diz o analista de criptomoedas.
Impactos para criptomoedas
Szuster, do Mercado Bitcoin, explica que, hoje, o mercado de critomoedas é muito dependente, principalmente, do cenário macroeconômico e do próprio bitcoin (BTC), que, por ter uma filosofia de mais segurança e ser a maior criptomoeda do mundo, influencia o preço de todos os outros criptoativos de modo geral.
Para Szuster, se o ether conseguir ter um impacto grande com essa atualização, a criptomoeda pode se descolar do bitcoin e das demais, podendo até ter potencial de puxar o mercado todo, mesmo que o cenário macroeconômico esteja ruim e o bitcoin não esteja avançando.
“Isso, obviamente, é só uma tese. E, provavelmente, ainda vai demorar um pouco para observamos este movimento”, considera o analista do do Mercado Bitcoin.
O CEO da Brasil Bitcoin, Marco Castellari, acredita que essa fusão na rede Ethereum trará mais competitividade e visibilidade para o mercado de criptmoedas. Segundo ele, com o The Merge, “é questão de tempo para que o ether ultrapasse o valor de mercado do bitcoin”.
Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, avalia que o The Merge tem sido considerada a atualização mais importante da história das criptos. E, segundo ele, um dos motivos é que a atualização pode resgatar a confiança do mercado nas plataformas de contratos inteligentes.
Além disso, Medeiros aponta que a atualização fortalece o discurso ESG (práticas Ambientais, Sociais e de Governança, em português) dentro do mercado de criptoativos, já que, segundo ele, o consumo de energia da mineração tem sido uma ‘pedra no sapato’ do mercado.
De acordo com os especialistas consultados pelo InvestNews, o único ponto negativo do The Merge pode ser o risco de dar errado, apresentar algum problema na implementação e não garantir uma transição bem-sucedida para a prova de participação, embora seja uma chance remota.
“O The Merge é algo grande, sensível, é a mudança do formato de mineração do segundo maior criptoativo do mercado. Tem que ser feito com bastante cautela. O ponto de atenção é dar certo. O time de desenvolvimento da Ethereum está tomando muito cuidado e, dando certo, não tem nenhum ponto negativo”, diz Aragão, da Criptofácil.
Tenho ether; o que fazer no The Merge?
Na página da Ethereum na internet, é avisado que o detentor da criptomoeda ether não precisa fazer nada antes da atualização, pois, na prática, nada mudará, mas é sugerido um alerta contra golpes.
“À medida que se aproxima do The Merge, você deve estar em alerta máximo para golpes que tentam tirar proveito dos usuários durante essa transição. Não envie seu ether para nenhum lugar na tentativa de atualização. Não há token “ETH2” e não há mais nada que você precise fazer para que seus fundos permaneçam seguros”, orienta o site.
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