A não ser que você seja um parlamentar que vota o próprio aumento, o caminho mais usado para ganhar uma melhora no fim do mês passa por negociar com a chefia. Mas, salário à parte, existem outras maneiras de conseguir um incremento de renda sem precisar passar por momentos tensos.

Investir é uma delas. Isso se chama fazer o dinheiro trabalhar para você. E, em 2025, com os juros nos maiores patamares em 10 anos, esse trabalho financeiro vai ser ainda mais rentável.

Há vários tipos de investimentos que pagam rendimentos regularmente. É o caso dos fundos imobiliários (FII), fundos da cadeia do agronegócio (Fiagro), ações que distribuem dividendos e títulos tanto do Tesouro Nacional, quanto os emitidos por companhias. É possível montar uma carteira de renda por meio de uma combinação desses produtos.

Tem uma questão crucial nessa estratégia: o montante que você pode resgatar mensalmente sem dilapidar o patrimônio ao longo do tempo deve ser apenas o ganho acima da inflação obtido na carteira. Essa é a ideia do chamado juro real, na prática, todo o rendimento que sobra após descontar a variação da inflação no período.

O sócio fundador e diretor da Septem Capital, Leandro Lopes, acrescenta que é importante em uma carteira de renda o olhar no longo prazo. Isso significa, além de ter a perspectiva de manter o dinheiro aplicado por vários anos e até décadas, tentar esquecer a volatilidade. “O foco é a renda, no longo prazo, que possa ser um complemento e até no futuro substituir a renda principal e proporcionar a independência financeira.”

O chefe de alocação na W1, Victor Pinheiro, explica que uma carteira de renda, na verdade, precisa incluir tanto aplicações em de renda fixa (CDB, LCI, CRI, Tesouro Direto ou fundos de investimento de renda fixa) quanto de variável (ações e fundos imobiliários, por exemplo). Isso para reduzir a vulnerabilidade aos ciclos econômicos e manter uma melhor relação entre o risco assumido e o retorno obtido.

A sua segunda renda, portanto, precisa ser composta pelos proventos distribuídos por diversos tipos de aplicações, como os cupons da renda fixa, os aluguéis mensais dos fundos e a distribuição de dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP) pelas empresas aos acionistas. Veja a seguir diferentes estratégias de acordo com os tipos de investimentos.

Carteira de papéis isentos de IR

Na renda fixa, uma das estratégias mais simples e eficazes busca combinar diferentes vencimentos de títulos de crédito privado isentos de IR, mas que pagam cupons semestrais. Essa alternância de prazos permite que o investidor receba todo mês uma parcela de juros.

Funciona assim: você pode escolher os papéis de crédito privado isentos que pagam cupons em meses alternados. Um bom jeito de organizar essa carteira seria escolher seis títulos diferentes, cada um pagando a parcela de juros em um mês diferente. Se você tiver R$ 200 mil, é só colocar R$ 33,3 mil em cada título. Dessa forma, dá pra contar com um rendimento todos os meses (além de proteger a carteira da variação da inflação). E, considerando as taxas que o mercado está pagando neste momento, acima de 7%, dá pra garantir um bom retorno (veja simulação abaixo).

Nesse caso, nas condições atuais de mercado, você conseguiria ter uma renda extra média mensal de R$ 1,2 mil, já sem IR e protegendo o valor aplicado da inflação (veja tabela abaixo). Para blindar o capital principal, a ideia é que você use como remuneração extra apenas o retorno obtido com o spread, que é o rendimento acima do IPCA.

No mercado atualmente, você encontra produtos como debêntures incentivadas, CRIs e CRAs emitidas por empresas de excelente perfil de crédito e que pagam a variação do IPCA mais um spread, uma taxa fixa que representa um prêmio pedido pelo mercado. Os spreads estão entre 7% e 7,95% ao ano. São todos títulos nos quais o investidor não precisa recolher o IR sobre o rendimento.

Renda com Tesouro IPCA+

É possível usar uma estratégia parecida usando títulos do Tesouro. O sócio fundador e diretor-executivo da Septem Capital, Leandro Lopes, explica que, no caso dos papéis públicos, as opções disponíveis na plataforma Tesouro Direto vão permitir montar uma carteira com periodicidade de recebimentos trimestral.

Essa estratégia usa o Tesouro IPCA+ com cupom semestral que também distribui metade do retorno duas vezes ao ano, sempre acrescido da inflação no período. Por exemplo, um Tesouro IPCA+ com juro de 7,82% a ano e vencimento em 2035 paga a cada seis meses 3,8364% mais a variação do índice.

Por que 3,83% e não 3,91% (a divisão simples de 7,82% por dois)? É o efeito do juro composto. Como a taxa no fim do ano incide sobre o montante acrescido da rentabilidade do meio do ano, o juro sobre juro de 3,83% equivale ao retorno anual contratado de 7,82%.

Então no caso do Tesouro IPCA+ com cupom e juro real de 7,82%, o rendimento bruto no semestre, se o IPCA acumulado em 12 meses for de 5%, seria de 6,41%. Um investimento de R$ 100 mil nesses títulos teria um retorno nominal de R$ 6,41 mil a cada seis meses.

Vale lembrar que sobre esse montante incide o imposto de renda, de acordo com a tabela da renda fixa, porque o Tesouro Direto não tem isenção. Isso significa que os valores resgatados antes de 180 dias (seis meses) vão pagar 22,5% de IR. O rendimento nominal líquido, portanto, seria de aproximadamente R$ 4,97 mil.

Para receber cupons trimestralmente, você pode aplicar em versões do Tesouro IPCA+ com vencimentos alternados. No Tesouro Direto, há disponíveis para investimento papéis com cupons com prazos de maio de 2035 e agosto de 2040, com juros de 7,82% e 7,51%, respectivamente. O primeiro papel distribui cupons em maio e novembro. Já o segundo, em fevereiro e agosto. Se tiver R$ 200 mil para aportar, pode distribuir metade dos recursos em cada vencimento.

Desse modo, vai receber em um trimestre R$ 2,97 mil líquidos de IR referente ao título de 10 anos. Nos três meses seguintes, teria outros R$ 2,85 mil também com IR descontado do papel de 15 anos. Os cupons equivaleriam a uma renda mensal líquida de IR e sem considerar o IPCA de quase R$ 1 mil. A vantagem nessa estratégia é aproveitar o cenário de juros que se aproximam da máxima em 10 anos e travar a taxa por um longo período o que vai garantir sua renda mensal por até uma década e meia.

Carteira de fundos imobiliários

A W1 fez ainda simulações de uma carteira de renda com FIIs que também contam com isenção de IR nos ganhos. No portfólio sugerido dos fundos imobiliários, um dos pilares é a diversificação. Tanto de tipos, quanto de setores.

Os fundos que investem de ativos imobiliários, basicamente são de três gêneros. Existem aqueles que compram propriedades físicas, como edifícios comerciais, shoppings, galpões logísticos e outros. Esse grupo é conhecido como FII de tijolo.

Um segundo grande tipo reúne as carteiras que investem em CRIs. No cenário de 2025, com juro em elevação e com potencial de superar os 15% ao ano, vão, provavelmente, oferecer os maiores retornos nominais. Esse tipo é chamado de FII de papel.

Um terceiro produto combina as duas formas. Podem ser tanto um fundo de fundos, que compra cotas de outros portfólios, quanto os multimercados imobiliários, com mandato para aplicar em qualquer classe de produtos do setor, sejam imóveis físicos, CRIs ou até ações.

Em termos de setores, os FIIs podem se especializar em lajes corporativas, propriedades voltadas para a logística, shoppings ou projetos de infraestrutura. É importante diversificar, porque cada mercado tem sensibilidade a riscos específicos e, desse modo, você pode tornar seu portfólio menos vulnerável em cenários de estresse.

O portfólio sugerido pela W1 assegura uma renda média mensal em torno de R$ 2 mil para R$ 200 mil investidos. Isso apenas com o aluguel mensal distribuído pelos FIIs, sem considerar o potencial de valorização da cota. Nesse caso, o retorno sobe para quase R$ 3,6 mil.

Carteira de ações de dividendos

As ações de empresas que costumam distribuir dividendos regularmente é outra maneira de compor a carteira de renda. Os proventos pagos pelos papéis também têm isenção de IR.

No caso das ações de empresas pagadoras de dividendos, o portfólio montado pela W1 compreende papéis vistos como defensivos, ou seja, de companhias com maior previsibilidade de caixa, sem grande vulnerabilidade aos ciclos econômicos, com endividamento equilibrado e que distribuem o lucro regularmente. São grupos como Petrobras, Banco do Brasil, Klabin e outras gigantes.

Nessa carteira com 10 empresas (veja tabela), o dividend yield médio, ou seja, a remuneração dos dividendos em relação ao valor investido, alcança 8,81% ao ano. Nesse caso, assim como a renda fixa isenta, o investidor não precisa recolher IR sobre os valores recebidos como dividendos. Uma aplicação de R$ 200 mil renderia cerca de R$ 18 mil no ano ou R$ 1,5 mil por mês líquidos de IR.

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