“Sempre compre papéis com bons fundamentos”. Essa é uma das frases do grande investidor Luiz Barsi. O conselho parece óbvio, mas, na prática, nem sempre ele é considerado pelos investidores na hora de comprar um ativo. Até porque, como saber, afinal, qual é uma boa ação para comprar? E mais: como saber qual é a hora certa para comprar essas ações?
Se ações são um investimento de renda variável, vale mesmo a pena gastar tempo tentando prever como esses ativos vão se comportar? A resposta é sim. Mais do que intuição ou um bom palpite, o sucesso no mercado de ações está relacionado a uma análise aprofundada das oportunidades disponíveis na bolsa de valores – mesmo em ano de eleições.
O ponto principal para analisar uma ação é não olhar apenas para o resultado dela na bolsa de valores. O ideal é levar em consideração os resultados da organização e também as perspectivas para o mercado em que ele atua. Também vale olhar para o histórico da companhia, afinal, se um papel teve um bom desempenho no decorrer de vários anos, significa que é uma empresa estável e que conquistou a confiança dos investidores.
Alexsandro Nishimura, que é economista e sócio da assessoria de investimentos BRA, aconselha que, ao analisar uma ação, o investidor precisa saber o tempo que pretende manter o ativo. Seja qual for o prazo, é bom saber os fundamentos de uma empresa, mesmo quando seu objetivo é de curto prazo e se alinhe mais com uma análise gráfica.
Existem duas principais formas de avaliar uma ação: com a análise técnica ou a fundamentalista. A principal ferramenta da análise técnica são os gráficos, os volumes de negociação e a movimentação dos preços, que mostram o desempenho da ação na bolsa e a tendência de comportamento desse papel no mercado. Esse modelo procura padrões nos gráficos que demonstrem a flutuação do preço de uma ação ao longo do tempo. É uma abordagem muito usada por traders nas operações de Day Trade, de curto ou curtíssimo prazo.
Já a análise fundamentalista observa informações e números da organização como fluxo de caixa, lucro, balanço patrimonial, demonstração de resultados. O objetivo principal da análise fundamentalista é entender como está a saúde financeira da empresa, considerando também o mercado em que ela atua e os fatores macroeconômicos. A partir da análise de todos esses dados e a relação entre eles, o investidor consegue traçar um cenário a longo prazo para os papéis daquela empresa.
Para analisar as opções de longo prazo, o especialista Nishimura considera que o investidor deve olhar com atenção o cenário macroeconômico, passar pelo setor e então se aprofundar na empresa. Ele acredita que esta é a melhor forma do investidor conhecer os riscos e as oportunidades. Para analisar uma ação com uma abordagem fundamentalista, o investidor precisa observar alguns indicadores principais. São eles: lucro por ação, preço sobre lucro, Return on Equity (ROE) e dividend yield. O Lucro por Ação ou LPA é a parcela do lucro líquido correspondente a cada ação. Para chegar nesse número, basta dividir o lucro líquido pela quantidade de ações da empresa.
Esse indicador é importante porque mostra se a empresa está tendo um desempenho rentável. Uma estratégia é priorizar aquelas companhias que tenham um aumento no LPA ao longo dos anos; isso demonstra que a organização está crescendo. Já o Return on Equity, o ROE, representa o retorno sobre o investimento feito pelos acionistas. Este indicador serve para medir a rentabilidade de uma companhia ao revelar o quanto de lucro ela gera com o dinheiro investido pelos acionistas.
O cálculo é feito dividindo o lucro líquido da empresa pelo patrimônio líquido. Esses valores todos são encontrados na divulgação de resultados trimestrais das companhias. As companhias que geram valor para seus investidores são aquelas que têm um ROE maior que a taxa Selic.
Como saber qual o preço justo de uma ação?
O indicador que pode ajudar na busca por essa resposta é o Preço sobre Lucro, o PL. O índice é calculado dividindo o preço atual da ação pelo lucro por ação. A lógica é que com esse cálculo, o investidor entenda se a ação está valendo mais ou menos que o seu preço justo e assim encontre boas oportunidades de compra.
Quem busca por empresas que pagam bons rendimentos, deve escolher as que possuem um dividend yield maior (DY). Mas tem uma questão para observar. Se o preço de uma ação estiver muito desvalorizado, o seu DY pode aparentar ser melhor do que realmente é. Por isso, é essencial utilizar esse indicador para complementar uma análise mais profunda e não considerar esses números apenas de forma isolada.
Analisar uma ação com certeza é um processo complexo. Todos esses indicadores devem ser avaliados em conjunto e de acordo com os seus objetivos, não adianta olhar um indicador isolado que esteja com um bom resultado, mas não considerar outro que pode não garantir tanta segurança sobre a ação.
Mas o esforço vale a pena para traçar uma estratégia de investimentos em busca de retornos recorrentes. Além disso, 2022 é um ano que promete turbulência no mercado financeiro com as eleições e o cenário dos juros e da inflação. É um bom momento para encontrar boas oportunidades com foco no longo prazo.
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