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Finanças

‘Virada’ de empresas ligadas ao consumo ainda é expectativa, dizem analistas

Ações de varejo, tecnologia, turismo e construção subiram após sinalização do Copom sobre a Selic.

Consumidores fazem compras em rua comercial de São Paulo
Consumidores fazem compras em rua comercial de São Paulo 21/12/2020 REUTERS/Amanda Perobelli

As ações de companhias ligadas a setores que atendem o mercado interno, como varejo, tecnologia, turismo e construção, reagiram positivamente à sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de que o ciclo de elevação das taxas de juros no país pode estar perto do fim.

Na última quarta-feira, o BC decidiu elevar Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,75% ao ano – o que já era esperado pelo mercado – e indicou que o ciclo de alta de juros pode ser encerrado na próxima reunião, em setembro, com uma nova alta de 0,25 ponto, se houver necessidade.

No pregão seguinte ao anúncio, as ações da empresa de cupons de desconto e de cashback Méliuz (CASH3) dispararam 15,04%, enquanto a varejista Magazine Luiza (MGLU3) fechou com ganhos de 13,99%.

No acumulado da semana, os papéis também ficaram entre os melhores desempenhos do Ibovespa, assim como a Via (VIIA3), dona da casas Bahia. Entretanto, na opinião de analistas, ainda é cedo para cravar um cenário positivo para essas empresas e, até o momento, a visão otimista está no campo das expectativas.

As ações que tiveram o melhor desempenho na semana:

Ação Variação semanal em %
LWSA331,76
MRVE324,34
CASH323,81
MGLU322,48
GOLL419,38
VIIA319,17
IRBR3  18,85
PETZ318,08
CYRE316,55
QUAL314,82

O fato é que as ações dessas companhias já estão com os preços bastante descontados. No acumulado do ano, Méliuz, Magazine Luiza e Americanas encabeçam a lista das principais perdas do Ibovespa:

As ações com o pior desempenho do Ibovespa no ano:

AçãoVariação no acumulado do ano em %
CASH3-59,88
MGLU3-56,23
AMER3-55,01
ALPA4-47,53
EMBR3-46,17
VIIA3-45,52
AZUL4-44,99
IRBR3-43,53
CVCB3-42,25
GOLL4-41,4

Mas o que levou a essa animação do mercado nos últimos dias? Tales Barros, especialista de renda variável da Acqua Vero Investimentos, explica que, com a sinalização do Banco Central de que a subida de juros está perto fim, o mercado passou a entender que a inflação está perdendo tração. Significa que, se os preços estão caindo, há uma expectativa de mais dinheiro no bolso, e, portanto, a retomada do poder de compra da população e da busca por crédito.

Além disso, sem a necessidade de subir juros para conter a inflação, o custo do endividamento dessas companhias – chamadas de empresas de “alto crescimento” e que dependem da tomada de empréstimos para se expandir – tende a ficar menor no médio e longo prazos.

O especialista da Acqua Vero acrescenta que não à toa a curva de juros – que é uma representação das taxas de juros exigidas ou esperadas pelo mercado para o futuro – tem dado trégua desde os primeiros sinais de recuo da inflação, com dados mais dinâmicos do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), que teve alta de 0,21% em julho, depois de ter subido 0,59% no mês anterior, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Como o mercado de renda variável é de expectativas, é natural que a gente veja empresas do setor de varejo, construção, tecnologia e turismo se beneficiarem desse movimento de queda nos juros. Um mínimo sinal de arrefecimento da inflação já implica em uma expectativa para longo prazo de como a economia vai se comportar “, diz Barros.

Nesse sentido Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, lembra que não necessariamente é preciso esperar os juros caírem para que o mercado reaja. “Só dos juros se estabilizarem já é uma notícia boa para essas empresas”.

Galindo lembra que a queda do dólar e das commodities como o petróleo também corroboram para a visão otimista do investidor. “São dois itens que estão muito ligadas com dados de inflação e que também sinalizam para o mercado que essa inflação pode estar arrefecendo e começando a cair”.

Em contrapartida, o cenário positivo ainda está no campo das possibilidades, o que acende um sinal de alertar para o investidor. Galindo alerta para o risco de uma deterioração fiscal e eleitoral que podem “atrapalhar” esse percurso mais confiante para as companhias dos setores atrelados ao consumo interno.

Vale a pena investir?

Para Tales Barros, é cedo para cravar se a janela de oportunidade para investir nesses ativos já passou, já que a Selic ainda não foi, de fato, estabilizada. “Mas parto do pressuposto que sempre é tempo para investir em renda variável, sobretudo considerando aportes recorrentes. Mas o mercado de ações é feito de expectativas”, disse o especialista, ao reiterar que estima redução da Selic somente em meados do ano que vem.

Na mesma linha, Galindo acrescenta que ainda cedo para falar em tendências. “Caso a inflação volte a subir e o Banco Central tenha que fazer uma nova alta ou até mesmo os Estados Unidos precisem elevar os juros além do que o mercado está esperando, isso pode ser prejudicial para o Brasil por uma questão de fluxo”. Isso porque a alta de juros em países desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, tende a atrair investidores que conseguem agregar a segurança destas economias com retornos maiores, o que pode ocasionar uma fuga de capital do Brasil.

Foi a última alta da Selic?

Ainda não dá para saber qual será de fato a decisão do Copom na próxima reunião do Copom em setembro. A elevação – ou não – dos juros vai depender de como os preços vão continuar se comportando.

“O patamar da Selic atual já é suficientemente contracionista para justificar um fim de ciclo, mas se ele irá parar por aqui de fato dependerá de como o cenário econômico até a próxima reunião, em especial como irão evoluir as expectativas de inflação para 2023 e 2024 e como vai mudar a percepção sobre a atividade econômica global e local – isto é, se ela irá desacelerar mais que o consenso atual”, esclareceu a Guide em relatório. Para a casa, a Selic deve estacionar o ano em 13,75%.

Na mesma linha, o Banco Inter avaliou que, apesar da possibilidade de uma nova alta de 0,25 ponto percentuais em setembro ficar no radar, considerando o cenário atual de desaceleração da economia global e queda das commodities, a expectativa é de que não será necessário um novo ajuste, fazendo com que os juros se mantenham em 13,75% até o fim do ano.

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