Taxa Referencial: o que é e como impacta seus investimentos?

TR é indicador que orienta algumas aplicações financeiras e operações de crédito

Imagem abstrata com mão realista apontando para gráfico de barras coloridas sobre fundo branco texturizado.
Ilustração: Getty Images/ Anton Vierietin

Quem viveu os solavancos da economia brasileira antes da vigência do Plano Real já ouviu falar na TR (Taxa Referencial). Ela foi criada em 1991, em pleno governo Collor, período de intensos descontroles inflacionários, para ser uma taxa de juros de referência. 

Com a chegada do Plano Real, esse papel foi ocupado pela Taxa Selic. Nesta mudança, a TR passou a funcionar como um indicador para algumas aplicações financeiras e operações de crédito, como a poupança e os contratos de financiamento imobiliário.

Mesmo relevante, muitos investidores, empreendedores e consumidores ainda encontram dificuldades para compreender o que essa taxa representa e o papel que ela desempenha no mercado financeiro.

Por isso, convidamos você a mergulhar neste guia completo sobre a Taxa Referencial para compreender como ela é calculada e por que é tão importante ter um entendimento sobre seu funcionamento. Vamos lá? 

O que é TR e como funciona?

A Taxa Referencial (TR) surgiu como uma ferramenta crucial na política econômica brasileira na década de 1990, como parte de um conjunto de medidas destinadas a estabilizar a economia e controlar a inflação, conhecido como Plano Collor II, em 1991.

Seu principal objetivo era servir como uma taxa de referência para os juros praticados na economia, visando proteger o poder de compra da população e auxiliar no controle da alta inflação que assolava o país naquele momento. 

A TR  tinha como objetivos a estabilização econômica e o apoio à transição para um ambiente de inflação mais controlada.

Com a implementação do Plano Real, em 1994, e com o consequente controle da hiperinflação, a TR começou a perder parte da sua função inicial. Na nova configuração econômica, a taxa Selic assumiu o papel de taxa de juros oficial, responsável por regular a política monetária e influenciar diretamente a economia. 

Dessa forma, a TR foi gradualmente deslocada do centro das decisões econômicas diretas para um papel mais específico. 

Papel da TR hoje

Atualmente, a Taxa Referencial (TR) ainda desempenha um papel relevante em várias áreas do mercado financeiro brasileiro, embora sua importância tenha diminuído em comparação com outras taxas de referência, como a Selic.

A TR ainda é utilizada como um indicador financeiro para a atualização monetária de ativos e operações de crédito, como financiamentos imobiliários e títulos de capitalização. O índice indica o juro a ser pago para quem concedeu o crédito ou para o investidor. 

Em relação à poupança, a TR é fundamental no cálculo dos rendimentos. Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, a poupança paga 0,5% ao mês, mais a variação da TR. Já quando a Selic está abaixo ou igual a 8,5%, a poupança rende 70% da Selic, mais a TR.

Não é aconselhado que a TR seja utilizada como índice de atualização monetária em contratos de longo prazo. Embora ainda sirva de parâmetro em alguns contratos e produtos financeiros, a TR não protege credores e devedores contra flutuações econômicas como períodos de inflação alta ou ciclos de taxa de juro (Selic) elevada. 

TR diária e TR mensal

A Taxa Referencial (TR) é calculada tanto de forma diária quanto mensal. Por essa razão, entender a diferença entre essas duas formas de cálculo é importante para compreender como a TR é aplicada em diferentes contextos financeiros.

A TR diária é calculada pelo Banco Central (Bacen) a fim de refletir as flutuações mais imediatas do mercado financeiro. Ela é determinada a partir dos rendimentos das Letras do Tesouro Nacional (LTN) e das Letras Financeiras do Tesouro (LFT), sendo influenciada, desse modo, pelas condições diárias de mercado. 

A TR mensal é o resultado acumulado das TRs diárias ao longo de um mês. Esse índice influencia diretamente a rentabilidade de produtos financeiros que o utilizam como referência para reajuste de valores, sendo aplicado especialmente em contratos como financiamentos imobiliários e poupança.

Como é feito o cálculo da TR?

O cálculo da Taxa Referencial (TR) é um processo detalhado e técnico, realizado pelo Banco Central do Brasil. A base para este cálculo é a Taxa Básica Financeira (TBF), um indexador que reflete a média das taxas de juros praticadas no mercado e é divulgado diariamente pelo BC.

A TBF é calculada com base nas taxas de juros das Letras do Tesouro Nacional (LTN) negociadas no mercado secundário, garantindo uma maior atualidade e relevância estatística para o cálculo.

Com base na TBF, o primeiro passo para calcular a TR é encontrar o redutor por meio da seguinte equação:

R = a+b x TBF

Sendo que:

  • a = 1,005 (valor fixo definido pelo BC para impedir que a TR seja negativa);
  • b = valor vinculado à TBF e também divulgado pelo BC.

Em seguida, utiliza-se o valor encontrado para o redutor na equação, a seguir, para chegar ao resultado da Taxa Referencial:

TR = 100 x [ ((1 + TBF)/R) – 1]

Para facilitar a vida dos investidores e dos analistas do mercado financeiro, o BC tem a Calculadora do Cidadão, uma ferramenta online que permite simular os rendimentos (correção de valores) de aplicações que utilizam a Taxa Referencial como indicador de referência.

Variação da TR anual

Confira a variação da TR,em porcentagem mensal, de 2021 até 2024:

AnoJanFevMarAbrMaiJunJulAgoSetOutNovDez
20210,000,000,000,000,000,000,000,000,000,000,000,04
20220,060,000,090,050,160,140,160,240,180,140,150,20
20230,200,080,230,080,210,170,150,210,110,100,070,06
20240,080,000,030,100,080,030,070,070,07
Fonte: Bacen

Por que a TR fica zerada?

É comum nos depararmos com a Taxa Referencial zerada ao analisar as tabelas. Isso acontece pela forma como ela é calculada e também por conta do cenário econômico predominante, especialmente em relação às taxas de juros básicas, como a Selic. 

Assim, a frequente ocorrência de uma TR zerada é reflexo das políticas monetárias e das condições econômicas do país naquele momento. Por exemplo, em períodos de política monetária expansionista, quando o governo quer estimular a economia, o Banco Central pode reduzir a taxa básica de juros (Selic) a níveis mais baixos. Quando a Selic está próxima ou abaixo de 8,5% ao ano, a fórmula de cálculo da TR resulta em valores muito pequenos, podendo levar a TR a ser arredondada para zero. Foi o que aconteceu, por exemplo, ao longo de todos os meses de 2018, 2019 e 2020 e em quase todo o ano de 2021.

Impacto da TR  em produtos e operações financeiras

A TR, embora tenha perdido parte de sua relevância ao longo dos anos, ainda exerce influência em alguns produtos e operações financeiras. Veja:

FGTS

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) serve como uma reserva financeira para os trabalhadores com carteira assinada. Os depósitos mensais ao fundo são feitos pelo empregador e correspondem a 8% do salário do trabalhador. O rendimento do FGTS é composto por uma taxa fixa de 3% ao ano mais a variação da TR.

Poupança

A poupança, um dos investimentos mais populares no Brasil, tem a sua rentabilidade diretamente afetada pela TR, especialmente em períodos em que a taxa Selic está acima de 8,5% ao ano. Nesses casos, a poupança rende 0,5% ao mês mais a TR.

Em cenários de Selic abaixo desse valor, a poupança rende 70% da Selic mais a TR. Isso torna importante acompanhar a TR para avaliar a rentabilidade deste investimento.

Financiamento imobiliário

Nos financiamentos imobiliários, a TR é frequentemente usada como indexador nos contratos de empréstimo para compra de imóveis. Isso significa que as variações na TR ao longo do tempo afetam diretamente o saldo devedor e as prestações mensais pagas pelos contratantes.

Ou seja, a TR influencia o montante final que será pago pelo imóvel, podendo alterar significativamente o custo total do financiamento em períodos de variação da TR. 

Embora não seja o único índice usado para o  reajuste de financiamentos — usa-se também o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e o IGP-M, por exemplo —, a TR é a taxa utilizada nos chamados contratos do Sistema Financeiro da Habitação, em que parte dos recursos da poupança são obrigatoriamente utilizados pelos bancos para conceder financiamentos imobiliários.

Títulos de capitalização

Os títulos de capitalização, produtos financeiros que combinam elementos de poupança e sorteio, também utilizam a TR como referência — neste caso, para o rendimento dos valores depositados até o vencimento.

Títulos públicos

Os títulos públicos, como o Tesouro Direto, funcionam como empréstimos ao Governo Federal. Ao comprar um título, você empresta dinheiro ao governo e, na data de vencimento, você recebe o valor investido acrescido de juros.

Antigamente, certos títulos como o NTN-H e o NTN-P possuíam parte dos seus rendimentos atrelados à Taxa Referencial. Eles não estão mais disponíveis para compra, mas ainda há investidores que ainda os têm em suas carteiras.

Atualmente, outros títulos públicos oferecem grande potencial de rentabilidade, como: Tesouro Prefixado (LTN), Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (NTN-F), Tesouro IPCA (NTN-B Principal), Tesouro IPCA com Juros Semestrais (NTN-B) e Tesouro Selic (LFT). 

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