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Tesouro IPCA+: como funciona o título que paga juros acima da inflação

Papel do Tesouro Direto é a porta de entrada para rentabilidades maiores que a poupança; por isso, é importante entender como funciona.

Tesouro Direto

Para quem investe, o objetivo quase sempre é obter retornos acima da inflação – fazer o seu dinheiro render de verdade. E, por isso, todo investidor precisa conhecer as formas de investimento que garantem segurança, diversificação e rentabilidade.

Uma delas é um papel do Tesouro Direto antes chamado de NTN-B e que mais recentemente ganhou a nomenclatura de Tesouro IPCA+.

Mais popular nos últimos anos entre investidores iniciantes, é a porta de entrada de muitas pessoas em rentabilidades maiores que a poupança – por isso, é importante entender como funciona este papel. 

O que é NTN-B ou Tesouro IPCA+?

A Nota do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B) é um título público indexado à inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Seu objetivo é entregar uma rentabilidade superior à inflação em determinado período de tempo. Também conhecido como Tesouro IPCA+, esse título pode ser adquirido por qualquer investidor pessoa física no Brasil e é um investimento considerado renda fixa.

Por que o governo emite esse tipo de título?

As Notas do Tesouro Nacional são emitidas para que o governo gere caixa e possa pagar suas contas em dia. Toda vez que um título desses é emitido, o governo está pegando dinheiro emprestado com o investidor e o prometendo de volta, em uma janela de tempo, com juros.

Assim, o governo tem o dinheiro que precisa no momento em que precisa, enquanto o investidor consegue um empréstimo com um ente com pouca chance de calote: o Estado.

Lei reguladora

Até 2022, a lei reguladora da NTN-B era o decreto 9.239/2018, editado no governo Michel Temer. Nele, é possível conferir as regras para as diferentes categorias de investimento em títulos públicos.

As normas da NTN-B são as seguintes:

  • Prazo: definido pelo ministro de estado da Fazenda, quando da emissão do título;
  • Taxa de juros: definida pelo ministro de Estado da Fazenda, quando da emissão, em porcentagem ao ano, calculada sobre o valor nominal atualizado;
  • Modalidade: nominativa;
  • Valor nominal na data-base: múltiplo de R$ 1.000,00 (mil reais);
  • Atualização do valor nominal: pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA do mês anterior, divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, desde a data-base do título;
  • Pagamento de juros: semestralmente, com ajuste do prazo no primeiro período de fluência, quando couber, e o primeiro cupom de juros a ser pago contemplará a taxa integral definida para seis meses, independentemente da data de emissão do título; e
  • Resgate do principal: em parcela única, na data do seu vencimento

[Inserir o seguinte arquivo PDF na página (não link externo): D9292 (planalto.gov.br)]

Como funciona a NTN-B?

Entendendo a lei, a NTN-B funciona como um título público. O investidor o compra e receberá o valor corrigido pela inflação mais uma taxa de juros decidida pelo Tesouro. Assim, o investidor consegue garantir uma rentabilidade real de seu investimento.

Para escolher um título do Tesouro IPCA+, é necessário ficar atento à rentabilidade anual e ao investimento realizado.

Rentabilidade anual

A rentabilidade de um título do Tesouro IPCA+ soma a inflação do período com a rentabilidade anunciada na compra. Um título do Tesouro IPCA+ com taxa de 5,5% ao ano significa que, no intervalo de um ano, o dinheiro irá render a variação do IPCA mais 5,5%.

Se, por exemplo, o IPCA no ano for de 7%, a rentabilidade anual do título será de 12,5%. Já se a rentabilidade for 5%, a rentabilidade anual será de 10,5%.

Investimento mínimo x preço unitário

Existe também uma diferença entre o investimento mínimo e o preço unitário de um título NTN-B. O Tesouro IPCA+ possui um preço da unidade do título e um valor mínimo para investimento.

O preço unitário, que você pode conferir na tabela do site do Tesouro Direto, corresponde ao preço do título. Ser dono de um título ou de uma fração dele não interfere na sua rentabilidade, mas pode interferir no preço de compra e venda deste título.

Já o investimento mínimo é o menor valor que o investidor precisa para conseguir o título. Ele significa uma parcela do título, mas receberá a mesma rentabilidade que o preço unitário.

NTN-B ou NTN-B Principal?

Na hora de escolher um título, você pode ficar na dúvida entre a NTN-B ou a NTN-B Principal. A principal diferença entre ambos é quando ocorre o recebimento do valor.

Enquanto a NTN-B normal aplica juros semestrais, a NTN-B Principal devolve valores apenas no final do prazo. Por isso, os juros do NTN-B Principal costumam ser maiores que os demais, apesar de reter o valor por mais tempo.

Juros semestrais

O recebimento de juros semestrais do Tesouro IPCA+ ocorrerá de seis em seis meses a partir da data de emissão do título. Assim, um título emitido em janeiro pagará em julho e janeiro. Um emitido em março, pagará em março e setembro.

Esse pagamento será o valor investido multiplicado pelo IPCA do período e mais a taxa de juros do título específico. Para isso, é importante fazer o equivalente da taxa anual para a taxa semestral.

Vantagens e desvantagens do Tesouro IPCA+

Como todo investimento, a NTN-B possui vantagens e desvantagens que precisam dialogar com os objetivos do investidor e sua carteira. No caso, os principais aspectos que devem ser analisados são: a segurança, a volatilidade, a rentabilidade e os juros do Tesouro IPCA+.

Segurança

O Tesouro IPCA+, assim como outros títulos públicos, é considerado o ativo mais seguro do Brasil, mesmo não tendo a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), como em outros investimentos de renda fixa (CDBs e poupança). 

O papel é considerado seguro por ter a garantia do próprio Tesouro Nacional, o credor da dívida, uma vez que considera-se que as chances de o governo dar um calote em sua dívida são extremamente baixas. Desde a sua formalização em lei, o Tesouro nunca sofreu um calote. Por isso, a segurança do Tesouro é considerada acima da média: ele só seria abalado se todo o cenário nacional fosse também.

Volatilidade

Além disso, a NTN-B é também um ativo de baixa volatilidade. Usado para regular o mercado ao oferecer um prêmio de risco baixo, a única volatilidade que encontra é a dos títulos antigos em novos cenários.

Conforme os juros básicos (Selic) aumentam, índices mais antigos, feitos a taxas menores, tornam-se menos valiosos, e seu valor diminui consideravelmente. O movimento oposto também ocorre: em meio a queda dos juros, títulos com altos valores pré e pós fixados tendem a ser vendidos mais caros.

Rentabilidade

A rentabilidade da NTN-B ocorre de duas formas: ou no seu vencimento ou através de juros semestrais. É necessário que o investidor verifique qual o mais importante para seu investimento – o retorno futuro ou o retorno em até 6 meses – para optar por um título.

Esses valores podem ser reinvestidos ou investidos em ativos mais interessantes no intervalo de seis meses, garantindo alguma diversificação na carteira.

Juros

Uma vez que é considerado um dos investimentos mais seguros do Brasil, o Tesouro IPCA acaba sendo usado como parâmetro de juros para os demais investimentos. Em seu livro “FIIs: Aspectos gerais e princípios de análise”, Roni Antônio Mendes indica que as taxas de fundos imobiliários de tijolos e papéis são diretamente influenciadas por esse ativo.

Em época de alta da Selic, diz o professor, a tendência é que o NTN-B aumente as taxas pré-fixadas e o acréscimo das pós-fixadas. Isso leva a um spread cada vez menor em vendas a mercado até que a inflação esteja controlada.

Outras NTNs

A NTN-B, entretanto, não é a única Nota do Tesouro Nacional emitida pelo governo. As Notas são divididas ainda, devido a sua finalidade, em outras 4 letras: As NTN-C, NTN-D, NTN-F e NTN-I.

NTN-C

A NTN-C é o Tesouro IGPM, que usa esse índice para auferir os ganhos e os juros. Calculado pela FGV, o IGPM tende a ser parecido com o IPCA – mas como leva outros produtos em consideração, pode oscilar para cima ou para baixo. É comprado da mesma forma que o Tesouro IPCA.

NTN-D

Já a NTN-D usa o dólar como comparativo, pagando juros de acordo com a variação da taxa cambial no intervalo de tempo do investimento. Funciona quase como um híbrido de renda fixa com renda variável, e é um jeito de se ter exposição ao dólar em títulos públicos garantidos pelo FGC.

NTN-F

Similar ao Tesouro IPCA, a sua maior diferença é que não possui nenhum índice atrelado a ela: a NTN-F tem seu “F” de fixa, isto é, tem uma remuneração pré-estabelecida na hora do contrato. Isso fará com que o investidor saiba exatamente quanto receberá – e se conseguir antever o movimento da economia, pode ter rentabilidades maiores do que ela.

Tesouro IPCA x Tesouro Selic

O analista de investimentos Bruno Issa, assessor de investimentos e ANCORD, comenta as relações entre o Tesouro IPCA+ e o Tesouro Selic, outra modalidade de investimento em renda fixa. Ambos os títulos possuem rendimentos atrelados a índices, e sua maior diferença é qual o índice de referência: o primeiro é atrelado à inflação e, além disso, paga uma taxa de juros adicional e ela; o segundo acompanha a variação da taxa básica de juros, a Selic.

Em comum, ambos os títulos são pós-fixados, ou seja, a rentabilidade só será conhecida no momento do vencimento do papel.

Issa destaca que ambos os índices possuem uma correlação histórica: “A taxa Selic nada mais é que um instrumento utilizado para controlar a inflação. Quando você aumenta, toda a cadeia produtiva fica mais cara. A ideia é frear o consumo, e aumentando a oferta no mercado, diminui-se o preço”, esclarece.

Relação entre IPCA e Selic

Essa correlação faz com que o ápice de um possa significar a queda do outro. “Hoje temos um IPCA de 12%, e a Selic, de 13,25%. Teve momentos em que o IPCA estava a 11% e a SELIC a 9%”, afirma.

Uma vez que a Selic é usada para controlar a inflação, a tendência é que quando esta aumenta, a Selic acompanhe querendo controlá-la. Isso, no entanto, tem seu preço: “O BC não pode aumentá-la constantemente”, diz ele “precisa ir diminuindo o consumo no mínimo possível até controlar a inflação. Hoje temos uma Selic mais alta do que a inflação, mas nada impede que o cenário global piore ainda mais e a inflação aumente ainda mais e a Selic aumente ainda mais”, diz Issa.

Qual o melhor momento para comprar Tesouro IPCA+?

Segundo Issa, o melhor momento para inevstir em Tesouro IPCA é quando o país passa por momentos de aumento da inflação. Já em cenário de Selic alta, o indicado é a compra de títulos atrelados à Selic.

“Se a economia tende a um aumento da inflação, então o foco deve ser os títulos do Tesouro IPCA, de modo a rentabilizar no cenário inflacionário. Se, entretanto, temos um controle da inflação por meio do aumento da taxa Selic, o ideal é utilizar títulos pós-fixados atrelados à taxa para rentabilizar, já que a taxa Selic costuma ser mantida alta para gerar um choque na inflação por mais tempo, enquanto a inflação arrefece”, afirma.

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