Siga nossas redes

Negócios

Queda da Selic pode reaquecer IPOs, mas expectativa é de cautela no mercado

B3 não tem estreias de empresa desde 2021, quando juros estavam na casa dos 2%.

Com praticamente dois anos sem Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês) na B3, especialistas acreditam que, após o início do ciclo de corte da Selic esperado pelo mercado, as empresas devem voltar gradualmente a abrir capital. A expectativa, no entanto, é que o investidor possa ter um comportamento mais cauteloso na próxima onda de estreias na bolsa de valores, de olho no cenário para as empresas.

Os últimos IPOs na B3 aconteceram em 2021, ano marcado pela manutenção da taxa básica de juros em mínimas históricas, na casa dos 2% ao ano. Desde então, o interesse das companhias por listar suas ações na bolsa de valores diminuiu paralelamente ao movimento do Banco Central (BC) de aumentar a Selic. Agora, a perspectiva é de retorno, embora isso não deva acontecer ainda em 2023.

É o que acredita Ricardo José de Almeida, professor de finanças do Insper. Ele avalia que a Selic em 10% daqui a 3 anos, conforme prevê o mercado, deve destravar IPOs. Por outro lado, ele menciona que um corte da Selic em agosto será somente uma abertura de caminho. “Eu acho que no segundo semestre [deste ano] está muito em cima. Acho que isso deve acontecer no primeiro semestre do ano que vem.”

Do mesmo modo, Sillas Cezar, professor do curso de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), comenta que, à medida que a taxa básica de juros caia ou tenha uma tendência de queda, o número de IPOs naturalmente deve aumentar. Porém, “cravar quando isso deve acontecer é um pouco difícil”, pontua.

Lucas Pena, CEO da Pact, também pensa que o corte da Selic “abrirá a disposição dos investidores a novos papéis no mercado acionário”, mas ele ressalta que os investidores devem estar mais atentos ao cenário.

“A expectativa é de um comportamento cauteloso dos investidores para a próxima onda de IPOs, especialmente para mercados que apresentaram indicadores menos resilientes nos últimos anos com a pandemia da covid-19 e os mercados em recessão.”

Lucas Pena, CEO da Pact.

Nesse sentido, Almeida, do Insper, aponta que juros baixos não são suficientes para tornar um IPO atrativo aos olhos dos investidores, já que é preciso haver também confiança sobre os resultados da empresa. “E eu diria que não vão ser muitos [IPOs] porque o mercado interno está muito fraco ainda”, acrescenta ele.

Últimos IPOs

Os últimos IPOs que ocorreram na B3 foram da Oncoclínicas (ONCO3) e Raízen (RAIZ4), em agosto de 2021. Naquele ano, 30 empresas abriram capital na bolsa de valores, com um volume financeiro unificado de quase R$ 36 bilhões. 

No ano anterior, 2020, o número de empresas que entraram na B3 havia sido um pouco menor, de 25. O volume financeiro dessas companhias representava mais de R$ 26 bilhões. 

Nesses anos sem IPOs, a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) não fez dispensas de pedidos, porém algumas empresas desistiram do processo

A CTG Brasil, uma das maiores geradoras de energia no país, por exemplo, pediu registro em novembro de 2022 com objetivo de usar os recursos levantados para pagar dividendos aos acionistas e investir em projetos de energia renovável. Na semana passada, porém, a CVM anunciou que a empresa havia desistido do processo. 

O que justifica a pausa de IPOs?

Cezar, da FAAP, lembra que quando a Selic está em alta, grande parte dos investidores optam por aplicar em títulos públicos, uma vez que são mais seguros. A questão nesse caso é: por que arriscar em bolsa de valores se é possível ter retornos elevados no Tesouro Direto atrelado à Selic? 

“Quando a taxa de juros cai, e o investidor quer uma remuneração mais encorpada… ele não tem outra alternativa senão correr risco. E isso é bom. Capitalismo é risco.” 

Sillas Cezar, professor do curso de Economia da FAAP.

Pena, da Pact, comenta que um dos maiores obstáculos na abertura de capital para as empresas nos últimos anos foi o cenário econômico, com inflação e taxa de juros em alta. 

“A taxa de juros elevada impacta a liquidez do mercado, uma vez que os investidores permanecem menos atraídos por papéis que apresentam um perfil de risco maior, como as ações listadas em bolsa e novos negócios. Da mesma forma, o encarecimento das dívidas financeiras pressiona os resultados das empresas e das pessoas físicas, contribuindo para desacelerar a economia nacional”, pontua.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

Abra sua conta! É Grátis

Já comecei o meu cadastro e quero continuar.