Para o especialista em tecnologia Paulo Silva e o designer de produtos Rodrigo Chiesa, o mais impactante do projeto Adote um CV é a chance de “fazer o bem sem olhar a quem”. Pelo menos é o que relata um dos fundadores da iniciativa. “Uma das experiências mais bonitas que tive no Adote um CV é ver uma gerente de tecnologia da IBM em São Paulo, compartilhar e divulgar o currículo de um técnico de manutenção em Goiás. Duas pessoas que não contexto fora da pandemia dificilmente se conheceriam”, conta Paulo.
Com o aumento do número de desempregados no Brasil, que são 12,9 milhões de pessoas segundo dados do IBGE, o projeto Adote um CV ganhou força, especialmente no Linkedin, permitindo que pessoas conheçam, se conectem e apoiem profissionais que muitas vezes não são da mesma rede de contatos. “As pessoas ajudam profissionais além do próprio networking, e só o fato de uma pessoa desempregada se sentir amparada gera um efeito multiplicador”, afirma Paulo.
A iniciativa
O Adote um CV nasceu como uma grande base de dados, com nomes de profissionais que ficaram desempregados na pandemia. O projeto foi inspirando quando Paulo e Rodrigo viram diversas pessoas e gestores no Linkedin, divulgarem listas com nomes de profissionais desligados, na tentativa de auxiliar estes na recolocação. “Muitas vezes a empresa precisava cortar gastos na pandemia, um processo muito difícil para todos, então algum gestor divulgava a lista indicando os profissionais que estavam saindo da empresa e as áreas de atuação deles. Nós decidimos aproveitar estas listas”, explica ele.
Paulo e Rodrigo se conheciam há anos. Eles tinham trabalhado juntos em 2018, e preservando a amizade e o networking sempre permaneceram em contato. Na madrugada do 15 de abril, em meio a toda essa febre de compartilhamento de listas, surgiu a ideia de criar uma iniciativa que ajudasse os profissionais que perderam emprego durante a crise da Covid-19.
No dia 16 de abril esta ideia se concretizou. Experiente em projetos de tecnologia Paulo criou um site e migrou todas as listas de funcionários desempregados, divulgadas pelas empresas e gestores no Linkedin. Rodrigo, que é design de produtos, criou a identidade, logo e aparência visual do Adote um CV, assim como as redes sociais. “Avisamos as pessoas das listas que estavam cadastradas na nossa plataforma, e nos próximos dias novas pessoas enviaram solicitação para ser cadastradas também”, conta Paulo.
Após os primeiros cadastros, os fundadores da iniciativa afirmam que o projeto viralizou. Atualmente o Adote um CV tem o site https://adoteumcv.org/pt-br/ , onde é possível encontrar a foto, resumo profissional da pessoa e endereço no Linkedin.
O Adote um CV também está presente nas redes sociais Linkedin, Facebook, Instagram e Twitter. A iniciativa já reúne 10 mil profissionais cadastrados no banco de dados, o Adote um CV recebe em média 250 cadastros por dia, a nível nacional.
Só no Linkedin o projeto possui 4 mil seguidores, e já teve mais de 11 mil compartilhamentos de perfis de profissionais. “Quando a pessoa entra no site, tem a chance de olhar os CVs e escolher um para adotar e compartilhar nas redes. Só no Linkedin temos 11 mil compartilhamentos”, explica Paulo.
No Twitter a tag #adoteumcv também possui grande popularidade entre os usuários. “As pessoas estão interessadas em ajudar, a receptividade foi ótima”, explica o fundador.
Empresas também adotam
Além da proatividade das pessoas em adotar um currículo, o projeto também conta com o apoio de algumas empresas parceiras, que usufruem da base de dados divulgada na plataforma para processos seletivos, ou na ausência de vagas, auxiliam na divulgação destes perfis nas próprias redes.
O Adote um CV possui atualmente 10 empresas parceiras: Beel Films, Elumini, Trampos, People Pro, Klassel, Ktech, Knowledg21, Mazzatech, Altbank e One Choice. A maioria são do setor de tecnologia, mas após dois meses da iniciativa, o projeto começa a comemorar novas conquistas. É o caso da Suzano, gigante do papel e celulose, que anunciou nesta quinta-feira (4) que agora faz parte do time de parceiros, e deve usar no time de Atração de Talentos da companhia, os perfis cadastrados no banco de dados da plataforma.
Para se tornar parceiras as empresas não tem nenhum custo, a única contrapartida é ajudar na divulgação do projeto e dos currículos. Paulo explica que o fluxo dos parceiros está mudando, antes era o Adote um CV que procurava as empresas e hoje são estas que tem se mostrado interessadas em fazer parte. “Apesar da crise vemos muitas vagas na área de tecnologia por exemplo, mas tem pouca mão de obra para este setor. Na plataforma você encontra pessoas muito qualificadas em outras áreas, e que na crise acabaram perdendo o emprego, são profissionais em atendimento ao cliente, economistas, entre outros”.
Outro fator que ficou evidente foi a descentralização do projeto, que nasceu em São Paulo, mas hoje possui profissionais cadastrados também em outros estados. No Acre são cerca de 100 cadastros. “Estamos recebendo mensagens de outros estados, até de outros países como Portugal, enxergamos a necessidade de ampliar as nossas parcerias com empresas de outras regiões”, acrescenta o fundador.
Para uma empresa adotar um CV da plataforma, existem dois caminhos: usar os currículos cadastrados nos processos seletivos da própria empresa ou divulgar nas próprias redes, usufruindo do alcance que muitas vezes é maior.
Impacto
Embora o projeto, que serve como uma ponte entre as pessoas e empresas ainda não consiga mensurar ao certo quantas pessoas ajudou a recolocar no mercado nos últimos dois meses, pelo menos 100 enviaram uma mensagem para o site afirmando que estavam recolocadas.
Uma história que ganhou força recentemente, foi a do jovem Jonathan Sousa que procurava um estágio em jornalismo, mas enquanto a oportunidade não surgia trabalhava como atendente de supermercado no meio da pandemia. Apesar de Jonathan não ser cadastrado inicialmente no Adote um CV, foi graças ao compartilhamento do projeto que o InvestNews soube da história.
O jovem Jonathan conquistou o coração do Linkedin e uma semana depois conseguiu realizar o sonho de se tornar estagiário na empresa de marketing SupremeAg. Histórias como a do jovem tem sido possíveis com a iniciativa, que pretende continuar mesmo quando a pandemia acabar. “O desemprego é um assunto que já existia muito antes do coronavírus, o Brasil tinha milhões de desempregados, entre nossos projetos está nos tornar uma ONG para ajudar as pessoas no desafio da recolocação”, conclui Paulo.
Além do olhar atento de internautas e algumas empresas, o Adote um CV também recebeu mensagens de profissionais nas áreas de RH e redes sociais dispostos a auxiliar na tradução de currículos para o inglês, melhorar a construção do CV e portfólio e até tornar o perfil dos candidatos mais atrativo às buscas no Linkedin.
Se você ainda não adotou um CV, não perca a chance de fazer isso hoje https://adoteumcv.org/pt-br/ Afinal, todos nós precisamos de muita união para nos reerguer após esta pandemia. Que a solidariedade seja nossa maior conquista.