LCI e LCA são duas opções de investimento que ganharam espaço no mercado financeiro brasileiro por terem uma grande vantagem: ambas são isentas de Imposto de Renda, o que as tornam ainda mais atrativas para quem busca diversificar a carteira com ativos de renda fixa.
Saiba o que são, como funcionam, as vantagens, os riscos e como você pode incluir as letras de crédito em seu portfólio de investimentos.
O que são LCI e LCA?
As Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) são produtos de renda fixa emitidos por instituições financeiras com o objetivo de captar recursos para financiar os setores imobiliário e do agronegócio, respectivamente.
Quando você investe em uma LCI, seu dinheiro vai ajudar a financiar empreendimentos imobiliários. A letra de crédito pode remunerar o investidor com juros prefixados ou pós-fixados. No caso de juros prefixados, a taxa é informada no momento da aplicação, sendo possível calcular a remuneração que será obtida no vencimento do papel. Já nos juros pós-fixados, a rentabilidade está atrelada a um índice, como o CDI, o que significa que o valor final se dará de acordo com o desempenho desse índice ao longo do tempo.
A LCA é utilizada para captar recursos destinados aos participantes da cadeia do agronegócio, como produtores rurais, agroindústrias e cooperativas.
Assim como a LCI, a LCA também é emitida por instituições financeiras e oferece isenção do Imposto de Renda para pessoas físicas.
As duas letras de crédito são protegidas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira. Isso significa que, caso o banco emissor “quebre”, o investidor terá o seu dinheiro de volta dentro desse limite.
Diferença da LCI para LCA
A principal diferença entre LCI e LCA está relacionada ao setor em que os recursos captados são aplicados. A LCI é direcionada ao setor imobiliário. Já a LCA é voltada ao agrícola.
Liquidez
A liquidez é a capacidade de um ativo (como um investimento) ser convertido em dinheiro. Em outras palavras, é o prazo que você precisa para transformar o investimento em dinheiro.
Alguns títulos oferecem liquidez diária após o prazo de carência — falaremos dele mais adiante —, permitindo o saque a partir desse momento. No entanto, há LCIs e LCAs que só podem ser resgatadas na data de vencimento, que pode variar entre 9 meses e três anos.
Caso o investidor precise do dinheiro antes do prazo final, uma solução é vender os títulos no mercado secundário, ou seja, para outro investidor que esteja interessado em comprar o papel de você. Essa operação exige cautela. Nem todos os títulos são negociados com frequência no mercado secundário, o que pode dificultar a venda ou levar você a conceder um desconto para atrair compradores.
Além disso, no mercado secundário, os preços dos títulos estão sujeitos à marcação a mercado, ou seja, são ajustados conforme a demanda e o comportamento do juro naquele momento, o que pode resultar em variações no valor de venda. Dependendo da conjuntura, o investidor pode vender os papéis por um valor superior ou inferior ao investido inicialmente, o que pode gerar lucros ou prejuízos.
Prazo de carência
Outra característica a ser considerada é o prazo de carência, que é o período mínimo durante o qual o investidor deve manter o dinheiro aplicado. Esse prazo é determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pode variar de acordo com o tipo de remuneração oferecida pelo título. Durante o período de carência, o emissor (geralmente, um banco) não recompra o papel de você. Se quiser vender a letra de crédito, terá de recorrer ao mercado secundário, como já explicado acima.
De acordo com novas regras aprovadas em 2024, as LCIs e LCAs com prazo de vencimento de 90 dias não serão mais emitidas. As novas emissões desses títulos devem ter prazo mínimo de vencimento de 9 meses.
Tributação
Uma das principais vantagens de LCIs e LCAs é a isenção de IR sobre os rendimentos. Isso significa que a rentabilidade obtida já é líquida, sem a necessidade de descontar mais nada. Além disso, esses investimentos geralmente não têm taxa de administração, embora possam estar sujeitos a taxas de corretagem ou custódia em algumas corretoras.
Qual é a rentabilidade e quais são os seus tipos?
As LCIs LCAs oferecem diferentes tipos de remuneração: prefixada, pós-fixada ou atrelada à inflação. Cada tipo de rentabilidade tem as suas características e é importante que o investidor analise qual é a mais adequada para os seus objetivos de investimento.
Prefixados
Na rentabilidade prefixada, a taxa de juros é determinada no momento da aplicação e permanece fixa ao longo de todo o período de investimento. Isso significa que o investidor sabe exatamente quanto receberá de rendimentos no vencimento do título, independentemente das variações do mercado.
Por exemplo: se um investidor aplica R$ 10 mil em uma LCI com rentabilidade prefixada de 11% ao ano, ele receberá exatamente R$ 1.100 em rendimentos sobre o valor investido ao final do período de aplicação, mesmo que a taxa Selic ou outros indicadores de mercado variem durante esse período.
Se durante o período de aplicação, a taxa Selic ou o CDI subirem, novos títulos podem ser emitidos com rentabilidades mais altas. Por exemplo: se a taxa Selic subir para 12% ao ano, novas LCIs e LCAs podem ser ofertadas com rentabilidade de 12% ao ano ou até mais. Nesse caso, o investidor que aplicou com 11% ao ano perde a oportunidade de aproveitar essa rentabilidade maior. Este é o chamado risco de oportunidade.
Por outro lado, se a Selic baixar para 10% ao ano, o investidor que aplicou com taxa prefixada de 11% terá garantidos esses 11% – é o que o mercado chama de travar o juro.
Pós-fixados
Já no caso da rentabilidade pós-fixada, a remuneração do investimento está atrelada a um indicador de mercado, como o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Nesse caso, a taxa de juros é determinada ao final do período de investimento, com base na variação do indicador escolhido.
Dessa forma, se um investidor aplica em uma LCA com rentabilidade pós-fixada de 100% do CDI, receberá como rendimento o valor equivalente a 100% da variação do CDI ao longo do período de investimento. Assim, se o CDI aumentar, o rendimento da LCA também aumenta. E vice-versa.
Por exemplo: se, ao final de um ano, o CDI foi de 11% e se uma LCI ou LCA promete 95% do CDI, o rendimento nesse caso será de 10,45% (95% de 11%).
Atreladas à inflação
Por fim, a rentabilidade atrelada à inflação é uma forma de proteger o investimento da desvalorização causada pelo aumento geral dos preços e pela redução no poder de compra da moeda.
Nesse caso, a remuneração do investimento é composta por uma taxa fixa de juro mais a variação de um índice de inflação, como o IPCA. Assim, o investidor recebe uma remuneração real, ou seja, acima da inflação.
Por exemplo: se um investidor aplica em uma LCI com rentabilidade atrelada ao IPCA mais 5% ao ano, ele receberá, como rendimento, o valor equivalente à variação do IPCA mais 5%. Isso significa que, além de proteger o seu investimento da inflação, ele ainda terá um retorno real de 5%.
Suponha que um investidor aplique R$ 10.000 em uma LCI com rentabilidade de IPCA + 5% ao ano por um prazo de 1 ano e que o IPCA nesse período foi de 4% ao ano. Primeiro, calcula-se a correção pela inflação: R$ 10.000,00 × 4% = R$ 400,00. Em seguida é calculado o rendimento real: R$ 10.000,00 × 5% = R$ 500,00. O rendimento ao final de um ano será de R$ 900,00 (400,00 + 500,00).
É importante destacar que a escolha pelo tipo de rentabilidade deve considerar o perfil do investidor e as expectativas em relação ao mercado.
Vantagens
As LCIs e LCAs oferecem uma série de vantagens que as tornam atrativas para os investidores:
- isenção de Imposto de Renda: uma das principais vantagens é a isenção de IR sobre os rendimentos, o que aumenta a rentabilidade líquida desses investimentos;
- segurança: elas são garantidas pelo FGC em até R$ 250 mil por CPF/banco, o que proporciona segurança ao investidor em caso de problemas da instituição emissora;
- rentabilidade: a isenção de IR para pessoas físicas permite retorno líquido mais competitivo em comparação a outros investimentos de renda fixa, como CDBs, mesmo com taxas similares;
- diversificação de carteira: as LCIs e LCAs são uma forma interessante de diversificar a carteira de investimentos, reduzindo a exposição a outros ativos mais voláteis;
- liquidez e prazos variados: embora tenham uma liquidez menor no mercado secundário do que outros investimentos de renda fixa, as LCIs e as LCAs oferecem prazos variados de vencimento, a partir de um prazo mínimo de 9 meses.
Desvantagens e riscos
Apesar das vantagens, as LCIs e LCAs também apresentam algumas desvantagens e riscos que devem ser considerados:
- baixa liquidez: as LCIs e LCAs geralmente têm uma liquidez menor do que outros ativos de renda fixa, o que significa que resgatar o investimento antes do vencimento pode ser mais difícil e sujeito a perdas financeiras;
- prazo de carência: as LCIs e LCAs precisam obedecer a um período mínimo de investimento de 9 meses determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o que pode limitar a disponibilidade dos recursos para o investidor;
- variação de mercado: investimentos pós-fixados e atrelados à inflação acompanham a variação de indicadores de mercado, como o CDI e o IPCA, sendo opções mais conservadoras; no caso de investimentos prefixados, a alta do juro leva a uma perda do custo de oportunidade (deixar de aplicar em outro investimento com rentabilidade maior) e a alta da inflação pode reduzir o ganho ganho real da aplicação;
- risco de crédito: embora as LCIs e LCAs sejam garantidas pelo FGC, a instituição emissora dos papeis pode ter problemas de crédito; em caso de instituições de maior risco, a orientação dos especialistas é a de investir até o limite da garantia do FGC.
Como investir em LCI e LCA?
Com alguns passos simples, você entenderá como investir nas LCIs e LCAs. Veja abaixo:
- escolha uma instituição financeira autorizada: o primeiro passo é escolher um banco ou uma corretora de investimentos autorizada a operar com LCIs e LCAs. Verifique no site do Banco Central as instituições regulamentadas;
- pesquise o tipo de título: existem diferentes tipos de letras de crédito dos setores imobiliário e agro, com prazos e rentabilidades variadas. Escolha a que melhor se adequa ao seu perfil entre as disponíveis no site ou aplicativo do banco ou corretora;
- avalie o valor mínimo de investimento: cada instituição financeira pode estabelecer um valor mínimo de investimento para as LCIs e LCAs. Verifique qual é o valor mínimo exigido e se ele está de acordo com o seu orçamento;
- considere as taxas e as condições: verifique se a instituição cobra taxa de corretagem ou custódia para investir em LCIs e LCAs. Avalie também as condições de resgate antecipado e eventuais penalidades;
- fique atento aos prazos: as letras de crédito têm prazos de vencimento determinados, que podem variar de acordo com o tipo de título. Certifique-se de que o prazo de vencimento está alinhado com os seus objetivos financeiros.
Outras alternativas de investimento
Além das LCIs e LCAs, existem diversas outras opções de investimento disponíveis no mercado financeiro. Vamos destacar algumas alternativas que podem ser interessantes para quem busca diversificar a carteira.
Para facilitar a visualização de quanto o seu dinheiro pode render, use o simulador de investimentos para ver se os retornos que cada título pode oferecer estão dentro das suas expectativas financeiras.
Certificado de Depósito Bancário (CDB)
Assim como as LCIs e LCAs, o CDB é um título de renda fixa emitido por bancos para captar recursos. Ao investir em CDB, o investidor empresta dinheiro para o banco, que promete devolver o valor investido com juros em um prazo determinado.
Diferentemente das LCIs e LCAs, os recursos captados com o CDB não são carimbados para uso específico nos setores imobiliário ou do agronegócio, mas sim para financiar as atividades do próprio banco, como a concessão de linhas de crédito. Além disso, o CDB não oferece isenção de Imposto de Renda, e o investidor deve pagar IR sobre os rendimentos, conforme a tabela regressiva de alíquotas. Veja:
Alíquota | Prazo |
22,5% | até 180 dias |
20% | de 180 a 360 dias |
17,5% | de 361 a 720 dias |
15% | acima de 720 dias |
Poupança
Apesar de não ser considerada a melhor opção de investimento em termos de rentabilidade, a poupança é uma alternativa para quem busca uma aplicação de baixo risco.
Tesouro Direto
O Tesouro Direto é um programa do Tesouro Nacional que permite a compra de títulos públicos pela internet. Além do Tesouro Selic, existem outros títulos disponíveis, como o Tesouro IPCA+, Tesouro Educa+ e o Tesouro prefixado, que podem ser interessantes para diversificar a carteira de investimentos.
- Tesouro prefixado: O Tesouro prefixado paga uma taxa de juros fixa previamente definida no momento da compra. Esse tipo de título permite ao investidor saber exatamente quanto receberá no vencimento, independentemente das flutuações econômicas;
- Tesouro Selic: O Tesouro Selic é um título público emitido pelo Tesouro Nacional, atrelado à taxa Selic (pós-fixado). Ele é considerado um investimento de baixo risco e pode ser uma alternativa para quem busca liquidez e segurança;
- Tesouro IPCA+: O Tesouro IPCA+ paga uma taxa de juros fixa acrescida da variação da inflação medida pelo IPCA. É uma opção de investimento de renda fixa que protege o poder de compra do investidor ao longo do tempo;
- Tesouro Educa+:
- O Tesouro Educa+ é corrigido pela variação do IPCA e tem como principal objetivo facilitar o planejamento financeiro da educação dos filhos. A proposta é que os pais possam adquirir esses títulos com vencimentos que vão de 3 a 18 anos. Após o vencimento, o Tesouro Educa+ oferece ao investidor a possibilidade de receber o valor acumulado em parcelas mensais durante 60 meses (5 anos). Esse formato é pensado para cobrir gastos recorrentes, como a mensalidade de uma faculdade ou outras despesas educacionais de longo prazo.
Essas são apenas algumas das alternativas de investimento disponíveis no mercado. É importante avaliar o seu perfil de investidor, os seus objetivos financeiros e o prazo de investimento antes de escolher a melhor opção para aplicar o seu dinheiro.
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