Com investidores de olho nas medidas que devem ser tomadas no governo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e expectativas de cortes de juros o Banco Central, quais devem ser as melhores ações para investir em 2023?
Especialistas ouvidos pelo InvestNews apontam que a bolsa brasileira, a B3, apresenta boas oportunidades para investimentos a longo prazo, com boa perspectiva para áreas de educação, construção civil e de consumo de empresas focadas no segmento de baixa renda.
“A expectativa para curto prazo é que a volatilidade continue elevada e que a bolsa repercuta o noticiário político e os acenos quanto as políticas econômica e fiscal”, pondera Bruna Sene, analista de investimentos da Nova Futura.
Estrategistas de ações da Santander Corretora, Ricardo Peretti e Alice Corrêa afirmam que, apesar dos ruídos políticos, o ano de 2023 tende a ser melhor para o mercado de capitais. “A expectativa de um corte de juros pelo Banco Central, o menor patamar de inflação e o fato de não ser um ano eleitoral são fatores que devem contribuir para uma maior confiança do investidor. Não esperamos um ano ‘fácil’, dado que as definições do próximo governo ainda não são claras e podem gerar atritos com os agentes de mercado, mas a assimetria da bolsa é boa.”
Também há uma expectativa de melhora no setor de construção civil, especialmente de construtoras focadas em imóveis direcionados ao segmento de baixa renda. “Apesar de uma possível pressão nas taxas de juros em caso de estresse no ambiente fiscal, Brasil está bem posicionado, com a Selic já em patamares elevados e com inflação arrefecendo”, aponta relatório da Toro Investimentos sobre a melhor estratégia de alocação para 2023.
Os analistas da Toro Lucas Carvalho, João Freitas, Paloma Brum e Lucas Serra afirmam que a expectativa de que a taxa de juros se acomode a médio prazo e eventualmente caia pode implicar em um catalisador para o aumento da demanda por financiamentos imobiliários. “Além do upside do lado da demanda, a desaceleração da inflação possibilita recuperar as margens por parte das construtoras, com o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) desacelerando.”
Quais são as ações mais promissoras para 2023?
Relatório da Toro Investimentos aponta que o Brasil está em situação privilegiada se comparado ao resto do mundo, quando se avalia o ambiente macroeconômico. “Há um descompasso entre os preços dos ativos brasileiros e seu real valor. Uma recessão global e uma possível piora no cenário fiscal por aqui são, no geral, prejudiciais para a renda variável, pois podem atrasar o que seria uma possível redução nas taxas de juros.”
Os analistas afirmam ainda que o cenário macroeconômico global deve apresentar desaceleração na atividade nos próximos meses/anos e que a boa posição do Brasil não blinda completamente de uma possível recessão.
“Algumas companhias domésticas possuem grande potencial para boa performance daqui para a frente. As empresas de consumo não-discricionário, pouco sensíveis ao cenário externo, devem performar melhor que a média do mercado nos próximos anos.” Entre elas estão: Pague Menos (PGMN3), Grupo Mateus (GMAT3) e Assaí Atacadista (ASAI3).
Especialistas também apontam que a expectativa da maior disponibilidade de renda entre as classes sociais mais baixas deve impactar positivamente outras empresas do varejo, como Magazine Luiza (MGLU3), Lojas Renner (LREN3) e Americanas (AMER3), além de empresas de shopping centers, como Aliansce Sonae (ALSO3).Analistas da Toro consideram uma agenda forte por parte do governo eleito quanto aos programas de incentivo ao setor de construção civil para estimular famílias de baixa renda a adquirirem imóvel. Esse movimento, explicam os analistas, se dará pelo programa Casa Verde e Amarela (CVA), que pode ganhar mais relevância, ou pela volta do Minha Casa Minha Vida (MCMV). “Estimamos um cenário positivo para as incorporadoras de imóveis que atendam critérios dos programas governamentais, como Cury (CURY3), MRV (MRVE3) e Direcional (DIRR3).”
Eles ainda destacam o setor da educação com ações promissoras. No governo Jair Bolsonaro, eles recordam que os programas educacionais, como o Fies e o ProUni, perderam força, impactando o segmento de educação privada no país. “Novos programas ou reformulações no Fies, que hoje é significativamente menor que outrora, podem significar impulso importante para as empresas do setor.”
Nesse cenário, Yduqs (YDUQ3) e Ser Educacional (SEER3) podem se beneficiar, pois possuem receitas mais concentradas nos cursos presenciais. “Por outro lado, é possível que esses tipos de programas do governo sejam ampliados também para o EaD, o que poderia ser bastante benéfico para a Cogna (COGN3).”
Já Bruna Sene, da Nova Futura, explica que 2023 é um ano que ainda se figura com muitas incertezas. “A indicação é investir em ações já consolidadas em seus setores e em setores mais resilientes da economia. Essas ações podem ser um filtro para os investidores iniciantes que precisam de um direcionamento sobre por onde iniciar no mercado de ações, e até mesmo um ponto de partida para a análise de investidores mais experientes.”
Na escolha por ativos cíclicos, prossegue a analista, o investidor pode buscar, inicialmente, ações com melhores fundamentos, como Telefônica Brasil (VIVT3), Ambev (ABEV3), Isa Cteep (TRPL4), Itaú (ITUB4), Copasa (CSMG3), Vale (VALE3), Rumo Logística (RAIL3), Klabin (KLBN11), Weg (WEGE3) e Lojas Renner (LREN3).
Ricardo Peretti e Alice Corrêa, da Santander Corretora, avaliam como promissoras as ações: Assaí (ASAI3), Rumo (RAIL3), Totvs (TOTS3), Multiplan (MULT3), Itaú Unibanco (ITUB4), BTG Pactual (BPAC11), Eletrobras (ELET3), Petrobras (PETR3), Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3).
Por que vale a pena investir em ações em 2023?
Ricardo Peretti e Alice Corrêa, da Santander Corretora, apontam que o índice Preço/Lucro do Ibovespa, principal índice de ações brasileiro, hoje está em aproximadamente 7 vezes para os próximos 12 meses, bem abaixo da média histórica de 11,5x. “Uma assimetria que nos soa bem interessante. Isso não quer dizer que todas as ações que compõem o índice estão baratas ou em um bom momento operacional. Stock picking (seleção de ações) segue sendo fundamental.”
Nesse cenário, eles afirmam que vale, sim, investir em ações em 2023, justamente pela assimetria do P/L da bolsa e pelo momento atual como um bom ponto de entrada. “Se nossas perspectivas se provarem corretas e tivermos um ano de 2023 com inflação mais comportada, início de corte de juros e ambiente político mais estável, provavelmente a menor percepção de risco dos ativos brasileiros se refletirá em preços de ações mais elevados.”
Para Bruna Sene, analista da Nova Futura, sempre vale investir em ações dentro dos objetivos e perfil de cada investidor. A analista ressalta que, mesmo com todas as turbulências que o Brasil atravessou nos últimos anos, muitas empresas sobreviveram e até prosperaram –passaram por períodos de hiperinflação, trocas de moedas, impeachment, mudanças na política, crises financeiras, entre outras.
“A grande questão é montar um portfólio que seja coerente com seus objetivos e prazos, além de destinar ao mercado de renda variável uma parte do patrimônio que não seja parte do seu orçamento básico mensal ou que não pretenda utilizar para objetivos de curto prazo. Mesmo em épocas de incertezas e volatilidade, vale investir em ações, fazendo uma análise coerente e escolhendo boas empresas para longo prazo, ou tendo estratégias técnicas para as especulações de curto prazo.”
O que avaliar para montar a carteira de ações?
Especialistas ouvidos pelo InvestNews afirmam que o interessado deve, primeiro, definir qual seu perfil de investidor: conservador, moderado, balanceado, arrojado ou agressivo. Também precisa identificar sua tolerância ao risco, estipular valores de investimento, objetivos e prazos –isto é, se o objetivo da aplicação é de curto, médio ou longo prazo.
“No momento de escolher ações, é importante estudar o mercado e fazer escolhas coerentes com esses objetivos, avaliando cenário econômico, setores, fundamentos das empresas, e o timing de entrada. Uma ótima alternativa é buscar orientação com analistas profissionais e certificados que trabalham no mercado financeiro”, diz Bruna Sene, da Nova Futura.
Ricardo Peretti e Alice Corrêa, da Santander Corretora, recomendam ao investidor avaliar o cenário macroeconômico do país e como esse “momento influencia o setor no qual a empresa está inserida, além dos aspectos (micro)intrínsecos à própria empresa”. “É importante prezar pela diversificação dos ativos em carteira, combinando ações de diferentes setores da economia, a fim de reduzir o risco diversificável [quando são específicos para uma empresa, setor, mercado, economia ou país].”
Qual é o melhor prazo para investir em ações?
A escolha do prazo é importante para montar uma carteira de ações adequada para cumprir todos os objetivos e para determinar a rentabilidade. “Quanto maior o prazo de investimento, mais esses juros sobre juros (juros compostos) poderão trabalhar para o investidor. Quanto antes começar a investir e quanto mais tempo tiver para esse investimento, melhor será”, afirma Bruna Sene, da Nova Futura.
A analista de investimentos explica ser importante o investidor analisar a saúde financeira das empresas e monitorar os investimentos no mercado de ações, de tempos em tempos, caso o objetivo seja de longuíssimo prazo. “Da mesma forma que uma empresa pode trazer retornos exuberantes em longos anos, empresas também podem perder a competitividade e falir em longos anos. É importante fazer escolhas estratégicas e monitorar os investimentos de longo prazo.”
“Há excelentes oportunidades para quem busca rentabilizar seu capital no curto prazo. Estratégias essas que exigirão maior tempo de estudo e apetite por risco por parte dos investidores. Deste modo, investir no curto prazo também tem suas vantagens, mas exige maior dedicação por parte do investidor”, acrescenta.
O que são investimentos de curto, médio e longo prazo?
Não há um prazo ideal para se investir no mercado financeiro. Especialistas ouvidos pelo InvestNews classificam que o investidor pode aplicar em ações de curto, médio ou longo prazo. Contudo, essa classificação não tem definição totalmente objetiva.
“Podemos estimar que, no mercado de ações, investimentos de curto prazo são aqueles com duração entre algumas semanas, até alguns meses. De 2 a 3 anos seriam de médio prazo. E acima de 5 anos, de longo prazo”, diz Bruna Sene, da Nova Futura. Para a analista, o prazo é determinante para que o investidor faça escolhas mais assertivas de acordo com seus objetivos e perfil. “Por exemplo, não deve arriscar no mercado de renda variável um capital que precisará para cumprir seus objetivos de curto prazo.”
Já os estrategistas da Santander Corretora, consideram investimento de curto prazo de até 3 meses, de médio de 3 a 12 meses, e de longo acima de 12 meses. Ricardo Peretti e Alice Corrêa afirmam que o prazo é importante, sobretudo, para alinhar as expectativas dos investidores. “Contudo, a assertividade dos investimentos em ações tende a aumentar no longo prazo, em que os ativos naturalmente convergem para seus fundamentos em algum momento. No curto prazo, muitas vezes ocorrem oscilações indesejadas, o que torno os retornos subótimos.”
Dividendos ou valorização: qual a melhor estratégia para investir em ações?
Ambas são válidas. “Não há uma estratégia melhor ou pior, e sim aquela que mais se adéqua ao perfil e objetivos de cada investidor. Nada impede que um mesmo investidor tenha portfólio composto por ações com foco em dividendos e ações com foco em crescimento e valorização dos preços”, diz Bruna Sene, da Nova Futura.
A analista ressalta que os investidores com perfil mais agressivo podem buscar maiores retornos com a estratégia de valorização, enquanto investidores mais conservadores podem se identificar melhor com a estratégia de dividendos.
Ricardo Peretti e Alice Corrêa, da Santander Corretora, também concordam que a melhor estratégia é aquela mais bem alinhada com perfil e objetivos do investidor. “Mesmo na estratégia de dividendos, os fundamentos da companhia precisam ser considerados, visto que o dividend yield está intimamente ligado com o quanto a empresa é capaz de gerar lucro.”
O que é uma estratégia de valorização das ações?
É uma estratégia focada em ações com potencial de alta razoavelmente elevado, explicam Ricardo Peretti e Alice Corrêa, da Santander Corretora. “Seja porque essas ações estão ‘baratas’, quando negociam abaixo do valor presente líquido (VPL) dos seus fluxos de caixa futuros sugerem, seja porque são empresas com fortes perspectivas de crescimento, podendo dobrar, triplicar, multiplicar algumas vezes de tamanho, por estarem num nicho de atuação em expansão.”
Já Bruna Sene, da Nova Futura, considera a estratégia destinada a investidores que buscam obter retornos através da valorização dos preços das ações. “É mais arrojada se comparada a estratégia de dividendos, visto que as empresas que estão em fase de crescimento mais exponencial são empresas em que a oscilação do preço é mais elevada —a volatilidade é maior e são companhias mais sensíveis aos ciclos econômicos e noticiário político. A estratégia adotada pela equipe econômica pode afetar o crescimento do país e o crescimento dessas empresas.”
O que é uma estratégia focada em dividendos?
Na avaliação de Bruna Sene, da Nova Futura, é uma estratégia para investidores com objetivos de longo prazo e buscam obter renda passiva através dos proventos distribuídos pelas empresas, “com política elevada de distribuição de dividendos que costumam já ser consolidadas em seus setores, fazem parte de setores menos cíclicos e mais resistentes, possuem estabilidade nos lucros e baixo endividamento.”
Ricardo Peretti e Alice Corrêa, da Santander Corretora, consideram a estratégia focada em ações de empresas pouco voláteis, com baixo endividamento, e que oferecem dividendos como remuneração ao acionista. “Ações boas pagadoras de dividendos são bons investimentos, porque normalmente são empresas mais maduras e com alta previsibilidade na geração de caixa, ou porque são ações que costumam ter oscilação menor em bolsa”, afirmam os estrategistas, que ressaltam a estratégia de dividendos como ideal para momentos mais “incertos” como os atuais.
Os estrategistas afirmam que os setores consolidados, como energia, saneamento, telecomunicações e consumo básico, tendem a ser considerados mais seguros. Ricardo Peretti e Alice Corrêa acreditam que o foco em empresas boas pagadoras de dividendos continuará a ter uma rentabilidade interessante para o investidor. “Se a taxa de juros alta no Brasil reduz a ‘necessidade’ do investidor de buscar ações pagadoras de dividendos, por outro lado, essas ações acabam ganhando um ‘rótulo’ de mais seguras, porque, de fato, estão retornando um valor acionista, diferente de outras empresas que se tornaram apenas promessas de longo prazo.”
Quais as principais ações para se investir no final de 2022?
Em um cenário de muitas incertezas marcado pelo momento de transição de governo e de ausência de informações a respeito da condução do Ministério da Economia para 2023, Bruna Sene, da Nova Futura, recomendada cautela para o investidor que busca ganhar com a valorização das ações nesse final de 2022.
“Há muitas ações em tendência de baixa, principalmente ações mais sensíveis ao cenário, como as ações do setor de consumo cíclico, de modo geral. Ações que ainda podem ser alternativas, no final de 2022, são algumas ações mais defensivas, já consolidadas em seus setores e em setores mais resilientes da economia, como o setor de saneamento, energia e comunicação”, diz Sene.
“Além de algumas exportadoras, como Klabin e Suzano, que se beneficiam em um cenário altista para o dólar, e de ações do setor de siderurgia e mineração como Vale e CSN, que podem ter retorno positivo em um momento de melhora nas perspectivas de afrouxamento para a política de ‘Covid-zero’ na China”, acrescenta.
Para os estrategistas de ações da Santander Corretora, o investidor deve focar em setores mais resilientes, como energia elétrica –ações da Eletrobras (ELET6)–, consumo básico –Assaí (ASAI3)–, e saúde –Hypera (HYPE3) nesse momento de maior incerteza. Ricardo Peretti e Alice Corrêa afirmam ainda que o setor de bancos deverá se beneficiar neste fim de ano dos juros em patamar elevado. “A sugestão de investimento vai para Itaú, que mostrou nesse terceiro trimestre crescimento de 19% a.a. do lucro líquido, além de inadimplência sob controle.”
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