Com a queda dos últimos dias, o dólar chegou abaixo de R$ 4,90 nesta quinta-feira (13), levantando dúvidas sobre a possibilidade de a moeda norte-americana cair ainda mais em relação ao real. Para o economista André Perfeito, “o dólar tem motivos para cair, mas há limite”. Considerando análise gráfica, esse limite poderia ser a casa dos R$ 4,80. Mas, diante do cenário econômico, a perspectiva é que a moeda retorne ao patamar dos R$ 5.
“Simplesmente não há resistência visível para a moeda norte americana até atingir por volta de R$ 4,80, mas é aqui que temos que prestar atenção”, destaca Perfeito. Quando a taxa Selic cair, o economista vê “espaço para o dólar voltar a ganhar alguma força ao longo do segundo semestre, chegando ao fim do ano em R$ 5 mais uma vez”.
Por que o dólar está caindo?
A forte sequência de queda do dólar teve início na terça-feira (11). Apoiado por expectativas em relação ao arcabouço fiscal, o movimento ganhou força na esteira da divulgação de dados mais fracos que o esperado de inflação no Brasil em março e a perspectiva de que o Banco Central possa, assim, antecipar os cortes da Selic.
A resposta do dólar, caindo diante da expectativa de queda dos juros, pode parecer contraditória, já que o patamar alto da Selic tem sido apontado como um dos suportes para que o dólar não dispare
“Por mais contraditório que possa parecer, o real se aprecia na perspectiva de que os juros vão cair por aqui. Se a tendência é de juros em queda, isso fortalece a bolsa via DCF (fluxos de caixa descontados) e assim o ativo referência do país, o real, ganha força“, explica Perfeito.
Com taxas mais altas que outros países, o Brasil fica atraente para investidores, em uma estratégia conhecida como “carry trade”, em que o lucro é resultado do diferencial de juros. Mas, segundo Perfeito, a ideia por trás da queda do dólar nos últimos dias é que o efeito positivo da queda da Selic para o “quadro geral” na bolsa compense as eventuais perdas pelo fator do diferencial de juros.
“O movimento só acontece porque, estando o Ibovespa ‘barato’, o efeito nos ativos locais de uma queda (ou da expectativa de queda) dos juros mais que compensam no quadro geral uma diminuição do diferencial entre os juros domésticos e externos.”
Além dos fatores locais, a queda do dólar também foi puxada por dados de inflação e do mercado de trabalho nos Estados Unidos, que elevaram apostas de que o Federal Reserve (Fed) pode interromper mais cedo o ciclo de alta dos juros.
“Se no início do ano a perspectiva era juros mais altos nos EUA, o que fortaleceria o dólar, agora a crise bancária que aconteceu após a quebra do SVB fez o trabalho sujo, por assim dizer, de uma alta de juros por lá como o próprio Fed argumentou”, comenta Perfeito.
O economista acrescenta que “estes fatores se retroalimentam” – ou seja, os efeitos dos motivos que levaram à queda do dólar são os que mantêm a moeda em baixa.
“Apesar dos ruídos no início do ano entre Planalto e BC, era claro que mesmo assim haveria corte de juros este ano. Uma vez diminuída a tensão entre os dois pela atuação do Ministério da Fazenda e com a apresentação do arcabouço fiscal, isso sem contar um IPCA que foi ‘limpado’ de pressões de médio prazo (me refiro a reoneração em parte da gasolina e da reinserção da tarifas de distribuição e transmissão no ICMS da energia elétrica), a perspectiva de corte de juros se torna mais clara fazendo bolsa subir e dólar cair.”
“Com o dólar em queda, por sua vez, a perspectiva de uma inflação menor se materializa ainda mais, fazendo os juros caírem e a bolsa subir”, comenta.
E por que o dólar deve subir novamente?
Perfeito diz que “uma coisa é a bolsa subir na perspectiva da queda dos juros, outra é quando de fato este juros cair”.
“Mantenho a projeção de corte da Selic se iniciando em junho como argumentei no início do ano e de taxa terminal em 2023 em 12,5%. Quando a taxa começar a de fato cair o dólar já terá se corrigido e assim muitos voltarão a argumentar que a queda dos juros enfraquece a moeda local.”
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