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Economia

Compra de ouro por bancos centrais cresce 176% no 1º trimestre

Segundo especialistas, movimento acontece pelo cenário global de instabilidade, juros e inflação elevados e incertezas geopolíticas.

As reservas de ouro feitas por bancos centrais cresceram 176% no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o Conselho Mundial do Ouro. De acordo com especialistas consultados pelo InvestNews, o movimento acontece impulsionado pelo cenário global de instabilidade, juros e inflação elevados e incertezas geopolíticas.

Nos três primeiros meses deste ano, as autoridades monetárias adicionaram 228 toneladas de ouro às reservas globais. No mesmo período do ano passado, foram 82,7 toneladas.

Já em 2022, os bancos centrais adicionaram a maior quantidade de ouro às suas reservas desde 1950, totalizando 1.136 toneladas.

Motivos

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, os últimos meses foram de instabilidade, inflação e juros altos, cenário de guerra, incertezas geopolíticas, riscos de saúde, empresas e cidadãos alavancados e que tudo isso, de alguma forma, tira o poder de compra e de referência do dinheiro e dos ativos lastreados em dívida.

De acordo com Alves, esse movimento dá “poder” para os ativos reais, como o ouro, imóveis, negócios, e tudo que seja tangível – pois, se o dinheiro vale menos, esses bens valem mais.

“Nessa linha, o ouro é usado como referência e proteção há séculos – se tudo der errado, temos o ouro. Por isso, as reservas aumentaram muito por parte das autoridades monetárias. É como se estivessem guardando um tesouro que se valoriza em cenários de estresse como o atual, o que deve se manter enquanto os caminhos da economia não ficarem mais claros”.

Idean Alves, da Ação Brasil Investimentos.

Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, relembra que, nas últimas duas décadas, foi observada a alocação crescente em ouro por parte dos bancos centrais na busca pela redução da volatilidade através da estabilidade dos preços da commodity

Em 2022, de acordo com o analista da Toro, a alocação no metal também seguiu essa premissa, com bancos centrais buscando o fortalecimento das suas reservas de valor através da alocação no metal. 

“Vimos em 2022 o bloqueio imposto pelo G7 aos bancos russos para a utilização do sistema de comunicação bancária internacional Swift e o congelamento de reservas cambiais. O fato ligou o alerta dos demais bancos centrais, que correram para o ouro na tentativa de formar reservas mais resilientes às sanções externas”, destaca Costa.

Vantagens das reservas em ouro

O Conselho Mundial do Ouro avalia que o metal está “em voga” com os bancos centrais desde que eles se tornaram compradores líquidos anualmente em 2010. 

Ainda de acordo com o Conselho, são dois os principais impulsionadores das decisões dos bancos centrais de manter o ouro: 

  • Desempenho em tempos de crise;
  • Papel como uma reserva de valor de longo prazo. 
Barras de ouro
Barras de ouro. Crédito: Stevebidmead/Pixabay

Miguel Rodrigues, especialista em investimentos e sócio da Matriz Capital, aponta que o ouro é um um ativo que não possui correlação com produtos de investimento ou moedas estrangeiras, tratando-se de um investimento visto como “seguro”, já que seu preço está diretamente ligado ao mineral e a demanda do ativo no mercado.

Costa destaca que o aumento das reservas tem o potencial de preservar a maior resiliência das reservas. Como exemplo, o analista da Toro Investimentos destaca o aumento de mais de 200% das reservas em ouro na Rússia, iniciada em 2007 e acelerado após a anexação da Crimeia em 2014, colocando o país como um dos principais compradores e detentores do metal na última década. 

“A guerra entre Rússia e Ucrânia no início de 2022 trouxe novamente à tona a importância das reservas em ouro do país. Como a oferta de ouro é escassa no mundo, as maiores compras por parte dos bancos centrais pressionam o preço da commodity para cima, possibilitando ganho de capital para os investidores”, diz Costa.

Veículo destruído na cidade de Shebekino, na região russa de Belgorod 31/05/2023 Governador de Belgorod, Vyacheslav Gladkov, via Telegram/Divulgação via REUTERS

Alves aponta que entre as vantagens dos bancos centrais fazerem aumento de reservas em ouro está a proteção de balanço. De acordo com o economista, de modo geral, cada Banco Central detém uma realidade diferente, mas, via de regra, todos buscam proteger as suas economias e deixá-las o mais estáveis possível, e o ouro ajuda a fortalecer essa âncora em momentos mais turbulentos. 

De acordo com o sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, essa manobra dá lastro para as economias e aumenta a credibilidade frente a credores e investidores externos.

Tendência?

Rodrigues aponta que fatos como a crise financeira de 2008, a crise do petróleo em 1973 e a grande depressão em 1929 mostraram para o mundo que, com a globalização, a saúde econômica de uma nação impacta direta e indiretamente no mercado como um todo. Assim, segundo especialista em investimentos e sócio da Matriz Capital, as autoridades monetárias têm implementado cada vez mais medidas para mitigar riscos de uma nova crise econômica global.

Na mesma linha, Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas, avalia que esse movimento pode, sim, ganhar força, pois as expectativas com os fatores relacionados não estão com a tendência de solução rápida, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura mais de um ano e sem a perspectivas de acordo de paz.

Por outro lado, Idean Alves, avalia o movimento como algo mais conjuntural, de momento, pelo fato de isso, historicamente, ter sempre acontecido.

“O que chama a atenção agora é o excesso de liquidez nos mercados, o que torna a migração do capital muito fácil e em excesso. Então, se no passado se comprava um percentual muito menor por causa da falta de dinheiro disponível, hoje, se consegue fazer reservas robustas, o que ajuda também a aumentar o valor das reservas, gera uma inflação em cascata sobre o ativo e valoriza a oferta pelo excesso de demanda”.

idean alves, da ação brasil investimentos.

Vantagens e riscos de investir em ouro

Investimento em ouro
Investimento em ouro. Crédito: hamiltonleen/Pixabay

Rodrigues afirma que diversos investidores utilizam o ouro em suas estratégias por ser um produto descorrelacionado, um recurso mineral raro e de preço elevado e que não tem relação direta com produtos de investimento, sendo “uma excelente oportunidade tanto para investidores com perfil mais conservador, quanto para aqueles mais arrojados com certa exposição em renda variável e que tem o objetivo de proteger seu patrimônio de oscilações provocadas pelo mercado, utilizando o ouro como sua reserva de valor”.

Para Costa, a alocação em ouro é ideal para investidores arrojados que buscam equilibrar o risco da carteira, pois o investimento em ouro é utilizado tanto para mitigar flutuações adversas na carteira em condições normais de mercado, o hedge, quanto para posições defensivas em momentos de estresse de mercado, o chamado de safe haven

“Devido ao seu histórico e à sua limitada disponibilidade, em períodos de aversão global, a demanda pelo metal tende a aumentar, resultando em um aumento nos preços e mantendo o valor real da commodity equilibrado. No entanto, é importante ressaltar que esse comportamento não é observado em todos os momentos. E o principal risco incorrido é o de mercado, à medida que os preços podem se comportar de maneira negativa a depender do cenário”.

gabriel costa, da toro investimentos.

Cavalcanti diz que o ouro apresenta boa recuperação em momento de instabilidade econômica pelo mundo e acaba oscilando positivamente. O diretor de câmbio da Ourominas destaca como vantagens em investir em ouro:

  • Segurança: ouro é uma alternativa de investimento em casos de instabilidade econômica;
  • Demanda: avança em períodos de dúvidas, pois o seu preço é impactado positivamente nesse cenário;
  • Proteção: possui uma baixa relação com taxas e juros e, assim, a compra de metal oferece maior segurança e rentabilidade;
  • Aceitação: não existe dificuldade para se desfazer de um investimento em ouro, por ser usado como reserva financeira em diversos países;
  • Valorização: é possível que o ouro se torne cada vez mais escasso, mostrando potencial de valorização e rentabilidade com o tempo.

Mas Alves alerta que, assim como para os bancos centrais, o ouro é um ativo de segurança e proteção contra inflação, mas que não se trata de recomendação, pois é válido um trabalho personalizado na carteira do investidor, principalmente observando o seu apetite a risco, mas que, em geral, o ouro tem se provado ao longo do tempo um equilíbrio contra a inflação

O especialista lembra ainda que entre os riscos de investir em ouro está o fato de não fazer muito além da proteção contra a inflação, o que, segundo ele, para cenários incertos, ajuda, mas também não adiciona um prêmio relevante pela tomada de risco, e em cenários de calmaria tende a não performar tão bem.

Na mesma linha, a Toro Investimentos alerta em relatório que o investimento em ouro não envolve um ativo produtivo, o que significa que ele não gera fluxos de caixa ou distribuição de proventos. Assim, os ganhos com o investimento em ouro ficam limitados à variação do preço do metal, além de não haver remuneração com juros, como ocorre em investimentos em títulos do Tesouro Direto ou outros ativos de renda fixa.

“Na hora de compor um portfólio de investimentos, é importante buscar por ativos que apresentem baixa correlação entre si ou em relação a outras classes de ativos, de modo que não andem sempre na mesma direção. Dessa forma, o que se busca, principalmente, é evitar que os ativos da sua carteira caiam todos de uma vez e com forte intensidade diante de cenários de grandes mudanças nos mercados financeiros”, recomenda a Toro.

Rendimento de investimento em ouro

Segundo a Ourominas, nos últimos 12 meses, o ouro rendeu 8,56%, perdendo apenas para o CDI (13,29%) e os títulos públicos (10,83%). Desde janeiro até o início de maio, a alta registrada do ouro é de mais de 4,9%, segundo a instituição.

Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas diz que, com as constantes baixas da bolsa de valores, alguns investidores escolhem o ouro no lugar de fazer a reserva no dólar e que, em razão disso, os preços do metal precioso crescem com o aquecimento da demanda.

“Quem investe em ouro fica longe das flutuações inflacionárias do papel-moeda e das oscilações do mercado de ações. É uma das melhores opções de investimento em contextos de incertezas e turbulências econômicas. Ele é um porto seguro”.

cavalcante, da ourominas.

Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, diz seguir construtivo com a tese de investimentos em ouro, por acreditar que há uma janela de oportunidade aberta que pode beneficiar os investidores alocados no metal. 

“Observamos que o mercado já precifica a virada de política monetária nos Estados Unidos. Sendo assim, acreditamos que o atual momento é ideal para quem busca montar uma posição no ativo e aproveitar a janela de oportunidade. Além disso, para o longo prazo, uma pequena exposição ao metal também é ideal, visto o caráter resiliente da commodity”, destaca Costa.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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