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Análise

Jornada da Renda Fixa: como escolher títulos

Dicas de como escolher seus títulos de renda fixa

aposentadoria

Em meio a tantas siglas diferentes, qual dos produtos da renda fixa escolher? Qual critério deve ser seguido nessa escolha? Como saber se a opção foi certa? Essas dúvidas são comuns entre os investidores.

 A essa altura, você já deve saber os instrumentos que vão te levar até o seu objetivo, assim como as possibilidades de remuneração e seus riscos. Mas de pouco adianta saber todos esses detalhes se a gente não souber colocar em prática e fazer uma análise mais profunda.

Esta edição da coluna Jornada da Renda Fixa aborda alguns critérios para escolha de um título de renda fixa e comenta ainda aquela que talvez seja uma das maiores dificuldades dos investidores iniciantes é: quando é o melhor momento para começar?

Por onde começar?

Vamos começar supondo que você não tenha nenhuma dívida atrasada. Caso contrário, não há motivos para começar a investir por enquanto. Na dúvida, sempre escolha quitar uma dívida a fazer algum investimento.

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC), cerca de 67,5% da população brasileira apresentou endividamento em abril de 2021. Por isso, é necessário eliminar qualquer pensamento do tipo “provavelmente não vai acontecer comigo”. É impossível alguém se arrepender de ter feito sua reserva, especialmente no momento em que vivemos.

Agora sim, sem dívidas, vamos lá. Uma das razões para investir em renda fixa é a incerteza sobre o futuro. Então, um dos primeiros objetivos que aconselhamos ter em mente é a fazer a sua reserva de emergência. A função dela é te trazer mais conforto em momentos inesperados como perda de emprego, um acidente que te obriga a visitar o dentista, uma peça do seu carro que quebrou, enfim, a lista é basicamente infinita.

Conseguimos encontrar profissionais do mercado financeiro que aconselham que a reserva consiga custear seu estilo de vida atual por 6 meses, pelo menos. No caso de pessoas mais conservadoras, esse tempo pode ser maior, já que não há um prazo fixo perfeito.

A reserva precisa ter boa liquidez, pouco ou nenhum risco de crédito e, de preferência, pouca oscilação em seu preço. Então temos opções como Tesouro Selic, que apesar de sofrer com a marcação a mercado é um bom exemplo de uma aplicação com ótima liquidez e risco mínimo de crédito. Outra opção são os CDBs com liquidez diária de bancos, lembrando do limite de R$ 250 mil por CPF e por instituição do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em caso de ressarcimento.

Mas lembre-se: mesmo que o foco da reserva não seja ter altas rentabilidades, não faz muito sentido aplicar em um CDB com liquidez que te pague menos de 100% do CDI, caso contrário, o Tesouro Selic oferece uma melhor relação entre risco e retorno.

Se você faz outros tipos de investimento como em renda variável, é bem interessante pensar em fazer também a sua reserva de oportunidade, ou seja, um valor guardado para momentos em que o mercado oferece boas oportunidades de compra em ações, por exemplo, depois de grandes baixas.

Traçando planos para o futuro

Agora você tem mais liberdade para pensar em prazos maiores e podemos pensar em quais são seus planos. Se eles forem construir patrimônio com o tempo, você pode pensar em títulos mais longos que ofereçam taxas mais atrativas, desde que seja respeitado seu apetite para o risco.

O investidor não deve olhar da mesma forma para o risco de uma aplicação em um CDB de 5 anos e a aplicação em uma debênture de 15 anos, por serem emissores, prazos, e relação de risco e retorno muito distintos.

Se você se identifica mais como conservador quando o assunto é investimento, provavelmente vai sentir mais confortável em títulos pós fixados de prazos menores e de liquidez diária. Já se seu perfil for propenso ao risco, títulos mais longos ou com riscos maiores podem te agradar, como os indexados à inflação e até mesmo prefixados – lembrando que a marcação a mercado pode fazer o preço da sua carteira oscilar bem antes do seu vencimento e, no caso dos prefixados, existe o risco da inflação ou a taxa Selic ficar acima da taxa acordada.

O lado bom do Tesouro Direto é que ele te permite fazer vários aportes nesses 3 tipos de títulos mencionados com valores relativamente baixos, com possibilidade de trabalhar com objetivos diferentes.

Já pensando em títulos privados de renda fixa emitidos por instituições financeiras, chegamos a um ponto importante: se mais taxa significa mais risco, como podemos avaliar se uma instituição é uma boa emissora?

Você pode pesquisar na área de Relações com Investidores (RI) no site dessas instituições para acessar a demonstrações contábeis disponíveis ao público. Se você tiver algum tipo de familiaridade com contabilidade, o entendimento pode ser mais simples. Caso contrário, eu indico que você vá atrás de conceitos básicos para que você mesmo possa ter uma visão independente de analistas ou instituições.

Rating dos emissores

O risco de quem emite os títulos de renda fixa privada é importante, e não é raro se deparar com a nota de Rating de um emissor. Essas notas são atribuídas por agências de classificação de risco contratadas e especializadas em analisar a saúde financeira de um emissor. Mas vale mencionar que essa nota não impede que bons emissores eventualmente tenham dificuldades de pagar dívidas e deem o calote em investidores, como vimos na crise dos subprime em 2008 nos EUA.

A ideia que queremos te passar é que você use o rating como um dos indicadores da sua análise, e não um fator isolado e decisivo. Afinal, se taxas melhores representam riscos maiores, é natural, por exemplo, que bancos que ofereçam crédito para pessoas endividadas tenham um risco maior na sua operação. Mas, se ela for feita de uma maneira diligente, não significa que o banco terá dificuldades para honrar o pagamento.

 A importância do FGC

É recorrente a discussão da capacidade de cobertura do FGC sobre todo o sistema financeiro brasileiro, e é um assunto válido no momento da sua avaliação. Mas também temos que ter em mente que o FGC foi criado em 1995 para impedir um efeito dominó entre os bancos caso uma instituição pequena entre em falência e, como consequência, afete todo o sistema.

Os maiores bancos no Brasil oferecem riscos mínimos, o que é refletido em parte nas taxas dos produtos de renda fixa que eles oferecem – um fato compreensível. Então, a missão do FGC acaba sendo de focar muito mais em trazer segurança aos investidores de instituições de pequeno e médio porte, mitigando o que chamados de risco de crédito.

Títulos sem cobertura

Aqui podemos pensar nos CRIs, CRAs e Debêntures, que, como vimos nas edições anteriores, não são cobertos pelo FGC por serem emitidos por instituições não financeiras.

Investidores mais criteriosos, além de levarem em conta o prazo e liquidez dos títulos, podem ler o prospecto de debêntures para saberem qual o destino do valor arrecadado. Essa captação vai ser destinada a algum projeto? Ou se trata de uma rolagem de dívida (quando um empresa capta recursos hoje para pagar uma dívida antiga)? Do ponto de vista de taxas de juros para a empresa, isso é um bom sinal?

Já o caso de CRIs e CRAs podem envolver uma análise dos títulos. Alguns podem ser empréstimos para agricultores ou então financiamentos habitacionais, e podem oferecer o risco do não pagamento total do valor aplicado.

Cenários econômicos

Agora o assunto pode parecer mais complicado, mas na verdade não é. A taxa Selic influencia diretamente a curva de juros no curto prazo, que vamos tratar abaixo:

  • Em momentos de alta de juros: os títulos pós fixados se beneficiam na medida em que a taxa vai sendo elevada. Já os títulos híbridos e pré, por terem o componente prefixado em ambos, podem apresentar uma rentabilidade negativa pela marcação a mercado se a curva de juros para seus vencimentos subirem.
  • Em momentos de queda da taxa de juros: os prefixados e híbridos tendem a apresentar um melhor desempenho na marcação a mercado por conta do componente prefixado, que faz a taxa negociada diminuir e o valor da aplicação subir. Em casos como esse, o investidor tem a opção de continuar com seu título até o vencimento e receber a rentabilidade acordada ou fazer o resgate antecipado e receber a rentabilidade diferente da acordada, podendo ser uma operação muito mais proveitosa. Apesar de teoricamente ser possível tirar proveito desses momentos com títulos tanto públicos ou privados, contanto que tenham liquidez para que o resgate seja feito, os títulos privados dependem muito dessa liquidez no mercado secundário, no qual você consegue fazer a venda do seu título para outro investidor interessado. Dessa forma, o caminho mais utilizado são os títulos do Tesouro Direto, por oferecem liquidez e sempre taxas atualizadas pelo próprio Tesouro.
    Já os títulos pós fixados, por serem remunerados com a variação da taxa Selic, acabam tendo um uma rentabilidade menor, acompanhando a taxa Selic.
  •  Em momentos de estabilidade da taxa de juros: o investidor pode encontrar oportunidades interessantes tanto em títulos pós fixados como em prefixados e híbridos.

Porém é preciso saber que todos os países vivem ciclos econômicos em que a economia aquecida faz a inflação crescer e o banco central elevar a taxa de juros para que os preços fiquem controlados. Após um certo tempo, a economia começa a desacelerar e, para fazer com que ela se movimente novamente, a taxa de juros é cortada. Esses dois ciclos econômicos, de alta e baixa, podem se intercalar entre momentos de estabilidade, nos quais teoricamente teríamos uma taxa “ideal” que não permite com que a economia aqueça ou esfrie demais.

Curiosidades da curva de juros

Como mencionamos, a curva de juros tende a seguir as alterações da taxa Selic no curto prazo. Mas podem acontecer casos em que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleva a Selic mas a taxa do seu investimento prefixado de longo prazo cai… Por que isso acontece?

Nas primeiras edições da Jornada da Renda Fixa, explicamos que os juros futuros refletem o risco de investir no Brasil. Quando o mercado entende que o Copom sobe a Selic para segurar a inflação, a imagem percebida é que o governo está controlando bem a economia, fazendo com que o risco de se investir no país no longo prazo diminua e, como consequência, os juros futuros de longo prazo caem.

O contrário também é válido. Se o mercado entende que o Copom não está agindo de forma devida com a Selic no curto prazo, o risco de se investir no país aumenta e os juros futuros de longo prazo sobem junto.

Mas nem sempre é fácil entender em qual momento estamos. Então, o investidor tem a opção tem aplicar em Fundos de Investimentos que invistam em renda fixa. É extremamente necessário pesquisar o tipo de fundo, em quais tipos de ativos ele pode aplicar, qual a duração média dos títulos em carteira e também o histórico de valorização da sua cota para saber sobre o desempenho passado do gestor do fundo. Isso é importante para que seus objetivos e perfil como investidor possam se alinhar com os objetivos do fundo.

Por fim, se você passou por todas as edições da Jornada da Renda Fixa até aqui, eu espero que tenha conseguido te ajudar a entender mais sobre essa modalidade de investimentos que muitas vezes tem temas abordados de forma superficial. Vale a pena reforçar que não focamos em exemplos matemáticos complexos justamente para facilitar o entendimento e podermos observar de maneira geral o que deve impactar suas decisões como investidor.

Veja também:
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Mercado de opções: como defender a sua carteira?
• Com Selic em alta, o que muda na renda fixa?

*Eduardo Perez é analista de investimentos da Easynvest

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