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Coluna do Samy

Como a testosterona torna as bolsas mais instáveis?

Predomínio de homens jovens desestabiliza os resultados de bolsas de valores, diz estudo.

Está mudando, mas a B3, como qualquer bolsa de valores, ainda é um espaço dominado por homens. Eles são 76,8% dos investidores, segundo levantamento da própria bolsa brasileira. Além disso, dois em cada três homens são investidores na bolsa e, por outro lado, menos da metade das mulheres (48,8%) investe no mercado de ações americano.

A disparidade reflete em grande medida o gap de gênero e a renda maior dos homens no mercado de trabalho. O que é ruim para elas, já que não apenas ganham menos como abrem mão da oportunidade de uma rentabilidade maior, e para a economia, que distribui ganhos de forma desigual, com efeito na produtividade. Mas também para as bolsas, que, devido ao predomínio de homens jovens, são muito mais instáveis.

É a conclusão de um estudo publicado em 2017 no Managment Science Journal. Amos Nadler (Western University), Peiran Jiao (Oxford), Paul Zak e Veronika Alexander (Claremont) e Cameron Johnson (Instituto de Saúde Comportamental de Loma Linda), todos pesquisadores ligados a universidades, são autores de um estudo raro, que relaciona os níveis de testosterona e o comportamento dos investidores.

A testosterona é um hormônio presente em homens e mulheres, mas ligado à virilidade e à potência sexual masculina. Um dos efeitos, comprovado por outros estudos, é tornar a pessoa mais impulsiva ou mesmo agressiva, afetando sensivelmente o comportamento dos jovens, que possuem mais testosterona. Como investidores, eles tendem a correr mais riscos, a superestimar os ganhos futuros e também a produzir bolhas de preços nos ativos, tornando o mercado mais instável.

Para comprovar, o estudo aplicou experimentos a um grupo de 140 traders do mercado financeiro americano. Eram todos homens, a maioria na faixa dos 23 anos. Antes de participar dos testes, 84 deles aplicaram em si mesmos um gel contendo testosterona e os outros 56 um placebo. Cada sessão era realizada durante dois dias para dar tempo do hormônio agir no corpo, medido por exames de sangue, entre quem havia tomado.

Todos puderam participar de uma simulação do mercado para compra e venda de ativos e ganhar dinheiro. Não demoraram a surgir bolhas nos dois grupos. Mas entre os participantes que usaram o placebo, eram bolhas moderadas, enquanto entre quem usou a testosterona, os preços registraram altas de até 130%. Era bem mais comum pagarem preços acima do que indicavam os fundamentos das empresas e a percepção do valor foi mudando entre eles durante o estudo.

Todo investidor segue a lógica de comprar barato e vender caro. Era algo que continuou orientando as compras e vendas dos participantes que usaram o gel com o placebo, porém não dos jovens com níveis mais altos de testosterona, cada vez mais abertos à máxima de “compre caro e venda mais caro ainda”.

É sempre – e sempre será – difícil estimar a relação entre biologia e comportamento de risco. Mais ainda quando se trata de mercados financeiros. Mas o estudo demonstra que, devido ao predomínio masculino, esta pode ser uma das explicações para tantas bolhas em seguida, como nos últimos 20 anos.

Como fazer? O estudo recomenda uma espécie de congelamento quando ativos disparam de preços sem fundamentos que justifiquem a subida. No entanto, a experiência com congelamentos ensina que é medida que não funciona.

O mais provável é que os mercados continuem mais instáveis até que uma maior participação feminina traga mais equilíbrio.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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