Vários ganhadores do prêmio Nobel estudaram o comportamento humano nos mercados financeiros. Daniel Kahneman, escolhido em 2003, criou a teoria prospectiva, que explica porque as pessoas tendem a evitar riscos mais do que buscar ganhos. Segundo a teoria, uma perda tem um impacto emocional maior sobre qualquer pessoa do que o ganho equivalente.
Richard Thaler, ganhador de 2007, recebeu o prêmio por suas explicações sobre por que muitas decisões, e aí se incluem as de investimento, são baseadas em razões subjetivas e culturais. Eugene Fama demonstrou por que o mercado de ações é imprevisível no curto prazo. E Robert Shiller, que ficou com o Nobel de 2015, previu o estouro de bolhas especulativas no longo prazo.
O interesse da psiconomia, também chamada de economia comportamental, pelo tema é normal, já que investidores não só lidam com fundamentos das empresas, como lucros e receita, mas também com ganância e risco. E ainda, como aponta um estudo recente de economistas chineses, com a ideia de felicidade.
O trabalho, publicado no Asian Journal of Business Ethics em 2022, contribui para fechar uma lacuna dos estudos sobre economia e comportamento. Embora as conclusões sejam sobre os humanos em geral, quase sempre levam em conta a experiência de pessoas que vivem nos Estados Unidos ou na Europa. Pouco se sabe, por exemplo, sobre os asiáticos.
Três autoras, Ningyu Tang, Jinqqiu Chen (Shanghai Jiao Tong), Zhen Li (Hong Kong), estão ligadas a universidades na China, e o estudo delas demonstra como as diferenças culturais influenciam a satisfação dos investidores com suas decisões.
O país passou 41 anos, de 1949 a 1990, sem ter uma bolsa de valores. Com apenas 31 anos, é um mercado ainda jovem. Além disso, é mais estável do que nos demais países, já que o governo costuma atuar para estabilizar a bolsa quando a volatilidade aumenta. Fala-se de grandes fundos capazes de dar liquidez ao mercado em momentos de crise.
Para completar, a economia chinesa é uma das mais dinâmicas do mundo e as bolsas no país são repletas de jovens investidores buscando enriquecer rápido. Isso de alguma forma muda a relação dos investidores chineses com dinheiro e, consequentemente, com o mercado de ações?
O estudo tenta responder acompanhando ao longo de 36 pregões o nível de felicidade de 227 investidores que atuam junto a uma das maiores corretoras do país. Eles foram divididos em dois grupos, um deles reunindo moradores de duas grandes metrópoles, Xangai e Pequim, e outro com moradores de Shenzhen e Xunquim, duas grandes cidades no interior.
Todo dia, após o fechamento do mercado, eram feitas duas perguntas aos participantes: como se sentiam no geral e sobre seus investimentos. Uma primeira descoberta, óbvia, é de que a variação dos preços afeta a sensação de bem-estar. Mas também a ambição de ganhar mais dinheiro influenciava o humor. Os mais ambiciosos se sentiam pior se os papéis não iam bem.
A satisfação era maior entre quem fez poucas trocas de ativos ou nenhuma do que entre quem fazia muitas mudanças. Parece contar a favor a sensação de que no fim não há muito controle sobre os papéis. E também contava a localização. Investidores de fora de Xangai e Beijing, mesmo morando em grandes cidades, eram mais satisfeitos do que os moradores das duas grandes metrópoles.
Possivelmente, são menos pressionados a enriquecer do que quem vive nas duas principais cidades chinesas, onde a veneração por bilionários é maior. Pressão que parece maior entre os homens. Na média, mulheres eram mais satisfeitas do que eles com o desempenho das ações.
Os resultados ajudam a entender melhor os fatores culturais que influenciam as emoções dos investidores. Eles sugerem que esclarecer as pessoas sobre como alguns fatores agem sobre as suas emoções pode ajudá-las a ser menos frustradas em momento de volatilidade. E, no fim, levar a mercados menos instáveis.
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